PARA SABER MAIS

  • Caminhos para melhorar o aprendizado (site), Instituto Ayrton Senna/Todos Pela Educação: www.paramelhoraroaprendizado.org.br/
  • Educação baseada em evidências: a utilização dos achados científicos para a qualificação da prática pedagógica, Gary Thomas, Richard Pring e colaboradores, Artmed (2007)
  • Escola Reflexiva e Nova Racionalidade, Isabel Alarcão, Artmed (2001)
  • “Isabel Alarcão fala sobre formação docente e a escola reflexiva” (entrevista), Revista Gestão Escola (junho/2011): bit.ly/EntrevistaIsabelAlarcao
  • Para que serve a pesquisa em educação?, Maria Malta Campos/Fundação Carlos Chagas (2009): bit.ly/artigopesquisaMariaMalta
  • Professores usando evidências: utilizar o que sabemos sobre ensino e aprendizagem para reconceituar a prática baseado em evidências, Philippa Cordingley, artigo do livro “Educação baseada em evidências: a utilização dos achados científicos para a qualificação da prática pedagógica”, Artmed (2007).

 

O prof. Roberto Lent é um dos convidados do Seminário Internacional Caminhos para a qualidade da educação: Impactos e Evidências, realizado em São Paulo (SP) nos dias 15 e 16 de setembro pelo Instituto Unibanco e Folha de S.Paulo, com apoio do Insper.

Saiba mais em bit.ly/SeminarioGestao2016

Infográfico - Tudo sobre

omo podemos ter certeza de que uma ação vai ou não ter o impacto desejado numa escola? A resposta obviamente não é simples, mas esta é uma pergunta que principalmente gestores, professores e formuladores de políticas públicas fazem com frequência. Olhar para o que acontece dentro da escola é sem dúvida essencial. Mas é preciso também ampliar o conhecimento dos gestores a respeito de evidências produzidas em estudos e pesquisas acadêmicas.

Além dos conhecimentos empíricos e dos aprendizados acumulados pelo gestor durante sua trajetória profissional, a busca por evidências pode ser uma ferramenta de grande valia nas tomadas de decisão.

A literatura mostra que a formação inicial e continuada do professor e as intervenções pedagógicas são, a princípio, as mais potentes para impactar o aprendizado. Mas quais as melhores intervenções para qualificar melhor o professor? E qual seria o efeito de outros tipos de intervenção? Qual o impacto, por exemplo, de se ter uma boa gestão? E a infraestrutura? O quanto deficiências nas instalações podem atrapalhar a aprendizagem?

Essas são algumas das questões que podem nortear o gestor no processo de busca de estudos e evidências que contribuam para o aprimoramento de sua prática profissional.

COMO SE APROPRIAR DAS EVIDÊNCIAS

Como saber se determinada evidência é válida e relevante dentro do seu contexto? Frequentemente, jornais e revistas destacam resultados de estudos pertinentes à área educacional. Apenas com base numa reportagem, porém, é difícil para o gestor ter segurança de que aquele estudo foi elaborado com rigor, e qual sua abrangência.

Um dos caminhos para diminuir essa dúvida é, ao investigar um tema, buscar as revisões sistemáticas de literatura científica, comuns no meio acadêmico. Elas podem ser de grande valia para o educador que busca referências, pois consistem em sínteses criteriosas das evidências disponíveis sobre um problema ou assunto específico. Existem ainda as meta-análises, que utilizam métodos estatísticos para sintetizar resultados de estudos, tornando-os comparáveis a partir do uso de uma métrica comum – o tamanho do efeito. Com isso, a evidência é construída não a partir de um único estudo, mas de um conjunto de evidências que apontam para determinada direção.

A incorporação pelo gestor da busca desses achados científicos à sua rotina significa o reconhecimento de sua condição de aprendiz, somando permanentemente conhecimentos ao repertório que já possui. Em artigo, Philippa Cordingley, diretora executiva do Center for Use of Research and Evidence in Education (CUREE), sediado na Inglaterra, destaca que:

“a prática informada por evidências não significa meramente trazer novas informações sobre o que funciona para aplicar à prática profissional; ela se torna parte de um processo contínuo de aprendizagem por parte do profissional”.

 

ESCOLA COMO ESPAÇO DE PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO

A consolidação das avaliações de larga escala no País é uma conquista da área educacional e contribuiu para que a cultura de avaliar o trabalho realizado, com o intuito de aferir o cumprimento do direito à aprendizagem, fosse incorporada à rotina da escola. Nesse contexto, a busca por evidências adquire relevância também no processo de acompanhamento e avaliação das ações implementadas e definidas no âmbito da gestão. O compromisso com a aprendizagem exige que o gestor se preocupe em buscar evidências que apontem para eficácia ou não da decisão tomada.

Nesse sentido, trata-se de um processo que se retroalimenta: o gestor, informado por evidências, toma decisões, implementa determinadas ações, acompanha e faz registros do seu andamento com o intuito de ter insumos que possibilitem a avaliação da assertividade das ações. Embasar-se no conhecimento científico de avaliações feitas em outros contextos constitui, assim, apenas o primeiro passo, pois ele não assegura a infalibilidade. É preciso sempre avaliar as próprias ações.

A ideia do gestor que mantém permanentemente uma postura crítica em relação à sua prática alinha-se ao conceito de “escola reflexiva” proposto pela educadora portuguesa Isabel Alarcão. “É nela [na escola] que está a realidade em toda sua complexidade, a tensão entre o pensamento e a ação, entre as tomadas de decisão e a avaliação de seus efeitos. É nela também que está a possibilidade de construir conhecimento por meio da prática coletiva (...) Os gestores devem criar um espírito de colaboração real, orientado por um objetivo comum: a melhoria da Educação”, explicou, em entrevista à revista Gestão Escolar.

“(...) a escola que se pensa e que se avalia em seu projeto educativo é uma organização aprendente que qualifica não apenas os que nela estudam, mas também os que nela ensinam ou apoiam estes ou aqueles.”

Isabel Alarcão, em “Escola Reflexiva e Nova Racionalidade”

 

REDE CIÊNCIA PARA EDUCAÇÃO

No Brasil, uma das iniciativas pioneiras em promover essa aproximação entre pesquisadores e educadores é a Rede Nacional de Ciência para Educação (Rede CpE). Fundado em novembro de 2014, o grupo tem por objetivo “unir pesquisadores de diferentes áreas de conhecimento interessados em realizar pesquisas científicas que possam promover melhores práticas e políticas educacionais baseadas em evidências”. A ideia é que exista um diálogo maior entre este mundo acadêmico e o das escolas, para que ambos se retroalimentem.

Para 2016, estão previstas algumas ações com o intuito de aproximar esses dois mundos. Devem ser divulgados neste segundo semestre documentos temáticos produzidos por grupos de pesquisadores da Rede com a intenção de fomentar debates entre os gestores, professores etc. Também serão promovidos nos próximos meses encontros entre pesquisadores e educadores em São Paulo (SP), Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC) e Natal (RN) e um de caráter nacional, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, nos dias 9 e 10 de dezembro.

Um dos idealizadores da Rede CpE, o neurocientista e diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Lent, ressalta a importância dessa produção científica, ainda pouco explorada, em sua avaliação. “É preciso que haja uma compreensão, tanto por parte do poder público como da iniciativa privada, sobre a relevância dessas pesquisas”.

UM DIÁLOGO NECESSÁRIO

Não se trata de buscar respostas prontas na pesquisa, mas em incorporá-la no processo de tomada de decisão, com as devidas mediações, contribuindo para o aprimoramento das políticas e das práticas. Cada escola tem seu contexto, e isso precisa ser levado em conta pelo gestor no momento de se apropriar de evidências construídas a partir de estudos acadêmicos. A constatação deste fato, porém, não pode levar a um outro extremo: o de achar que cada realidade é tão específica a ponto de ignorarmos qualquer tipo de conhecimento que é produzido em outros contextos.

Frente a dimensão e a urgência dos desafios a serem enfrentados na luta por uma educação pública de qualidade para todos, é fundamental que todos os esforços e conhecimentos possíveis sejam mobilizados em prol desse objetivo, aproximando mundos e conectando saberes.

Gestão

BUSCA DE EVIDÊNCIAS PRECISA FAZER PARTE DA GESTÃO ESCOLAR

Nº 17 - set.2016

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Aprendizagem em Foco é uma publicação quinzenal produzida pelo Instituto Unibanco. Tem como objetivo adensar as discussões sobre o contexto educacional brasileiro, a partir de pesquisas, estudos e experiências nacionais e internacionais.

 

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