Nº 41 - jul.2018

ano de Copa do Mundo de futebol masculino – uma boa oportunidade para reforçar a importância do esporte para o desenvolvimento integral dos estudantes e promover ações na escola que incentivem a prática de atividade física como ferramenta educacional, com especial atenção para as aulas de Educação Física.

Uma declaração publicada em 2016 no British Journal of Sports Medicine pelo Copenhagen Consensus Center, um think tank voltado para o avanço do bem-estar global, aponta, com base na revisão de importantes estudos científicos, que a atividade física regular, nas escolas e durante o lazer, não só beneficia a saúde no curto e no longo prazos como aumenta a capacidade de raciocínio e o desempenho acadêmico de crianças e jovens. Também pode ajudar a desenvolver a autoestima, a motivação e a confiança, além de fortalecer o relacionamento com colegas, pais e treinadores.

O Unicef considera o esporte como atividade fundamental para o desenvolvimento humano e, por isso, recomenda seu uso como ferramenta educacional dentro das escolas. Na publicação Esporte e Cidadania: guia de orientação para os municípios do Semiárido (2011), a organização salienta que os professores devem transmitir os conhecimentos esportivos de maneira que os estudantes desenvolvam as habilidades necessárias para as exigências da vida social, exercer sua cidadania e obter mais qualidade de vida. Para isso, as aulas devem se basear em cinco princípios: inclusão de todos, construção coletiva, respeito à diversidade, autonomia e educação integral.

PARA SABER MAIS

A importância da escola para a prática esportiva

No relatório Caderno de Desenvolvimento Humano sobre Escolas Ativas no Brasil 2016, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) ressalta a importância da escola para a promoção da integração entre atividade física, atividade mental e experiência corporal, essencial para o desenvolvimento pleno de crianças e jovens.

Além disso, segundo o relatório, a escola representa a oportunidade de dar escala a uma política de longo prazo que estimule o maior envolvimento dos estudantes com atividades físicas. Estudos mostram que a prática rotineira e prazerosa de esportes nessa fase favorece a manutenção de um estilo de vida ativo e saudável na idade adulta.

Os resultados da pesquisa Diagnóstico Nacional do Esporte, realizada entre 2010 e 2014 pelo Ministério do Esporte com seis universidades federais, corroboram a importância para prática de atividades físicas no período escolar. Do total de entrevistados, 48% declararam que começaram a praticar esportes na escola ou na universidade com orientação de professores. E 81,1% afirmaram ter começado a praticar esportes com idade entre 6 e 17 anos, ou seja, na faixa etária de escolaridade obrigatória no país.

Desafios

No entanto, a falta de investimento na infraestrutura necessária representa um desafio para a oferta adequada da disciplina de Educação Física nas escolas, embora seja obrigatória na Educação Básica.

De acordo com o Censo Escolar 2017, apenas 32% das escolas públicas brasileiras têm quadra de esportes – a maioria se concentra naquelas que oferecem o Ensino Médio. A situação é pior nas escolas municipais, segundo o Suplemento Esporte do Perfil dos Estados e Municípios Brasileiros 2016, publicado pelo IBGE: apenas 27,3 % dos municípios possuem escolas com instalações esportivas. Na Região Nordeste, esse total cai para 18,1%.

Para tornar a situação ainda mais complexa, sabe-se que “as aulas de Educação Física apresentam uma frequência maior de cancelamentos do que outras disciplinas, além dos professores reportarem que não gozam do mesmo status profissional que aqueles de disciplinas mais prestigiadas na escola, como Línguas ou Matemática” – Relatório Mundial sobre a Educação Física Escolar, de 2014 (Unesco).

Diversificar para incluir

Vanderson Berbart, gerente do programa Impulsiona, do Instituto Península, voltado à formação de educadores da rede pública, ressalta que, mesmo com infraestrutura longe da ideal, as escolas devem buscar oferecer diferentes modalidades esportivas. Isso permite estimular não apenas o desenvolvimento físico, mas também competências socioemocionais dos estudantes, como responsabilidade, companheirismo, respeito às diferenças, liderança, cooperação, autocontrole, tolerância, capacidade de lidar com a frustração, disciplina, concentração e comunicação. Além disso, fortalece a cultura esportiva local, dando destaque a modalidades tradicionais da região. “Quando você amplia o cardápio esportivo, mais alunos podem participar, porque todo mundo começa do zero e você começa a trazer as meninas, as crianças com deficiência, aqueles que não têm tanta habilidade.”

Foi o que fez a Escola Municipal Vila Nova, da cidade de Igrejinha (RS). O professor Diego Telles Model passou a desenvolver, com os alunos, um sistema de rotação de modalidades que incluía esportes pouco praticados no Brasil, como croquet, manbol, tchoukball, ultimate frisbee, quimbol e hóquei de grama. Como resultado, houve aumento da frequência escolar, melhora no desempenho e mais aproximação das famílias com a escola.

Abordagem interdisciplinar

Outra ação que os gestores e coordenadores pedagógicos podem colocar em prática é integrar o tema dos esportes em outras disciplinas. Por exemplo, na aula de Química ou de Biologia, o professor pode mostrar como é o efeito do doping no corpo do atleta, trabalhando os elementos da tabela periódica ou os hormônios do corpo humano. Ou nas aulas de Geografia, trazer informações sobre os países que participam da Copa do Mundo.

No Centro de Ensino Médio Castro Alves, em Palmas (TO), o professor de Educação Física Márcio Ricardo Medeiros Oliveira usou a internet para atrair a atenção dos alunos, criando um blog sobre esporte, que traz informações sobre modalidades esportivas e temas transversais, como drogas, meio ambiente e benefícios da prática esportiva. A ferramenta fez sucesso entre os estudantes, contribuindo para melhorar os resultados de aprendizagem.

Na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Job Pimentel, da cidade de Mantenópolis (ES), o professor de Educação Física Thiago Ferreira Souza desenvolve um projeto que combina os dois conceitos. Além de oferecer diferentes modalidades e jogos, como xadrez e queimada, para que todos os alunos possam participar, nas aulas teóricas o docente trabalha conteúdos como qualidade de vida, saúde e cuidados que se deve ter ao praticar atividades físicas, como musculação. “Com isso, conseguimos motivar alguns alunos para outros campos”, aponta Souza. “E eles não só se envolvem na prática esportiva, como também participam da organização dos campeonatos e gincanas.”

GESTÃO

EDUCAÇÃO FÍSICA: MUITO ALÉM DA RECREAÇÃO

>> Além de promover bem-estar, atividade física na escola contribui para melhoria do desempenho acadêmico

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>> Educação Física permite  desenvolver competências que envolvem liderança, trabalho em equipe e concentração

2

>> Diversificar modalidades e integrar tema com outras disciplinas são alguns dos caminhos para trabalhar esportes na escola

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Aprendizagem em Foco é uma publicação quinzenal produzida pelo Instituto Unibanco.

Tem como objetivo adensar as discussões sobre o contexto educacional brasileiro, a partir de pesquisas, estudos e experiências nacionais e internacionais.

 

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