Com o objetivo de discutir estratégias para mobilização dos atores da escola em torno da aprendizagem, o Instituto Unibanco e o Insper realizaram na manhã desta quarta-feira (19), em São Paulo (SP), o quarto e último encontro do Ciclo de Rodas de Conversa sobre Gestão Escolar voltada para resultados de aprendizagem.

Participaram como debatedores convidados os professores Ricardo Paes de Barros, titular da cátedra Instituto Ayrton Senna no Insper, e Ricardo Madeira, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP), e na mediação, a gerente de Implementação de Projetos do Instituto Unibanco, Maria Julia Gouveia.

Ambos os debatedores destacaram em suas falas a utilização de sistemas de incentivos dentre as estratégias para mobilização dos professores e diretores. Paes de Barros defendeu a continuidade das experimentações nesse tipo de política, embora pesquisas tenham demonstrado seu baixo impacto sobre o desempenho dos estudantes. “A qualidade dos professores não está refletida na remuneração que eles recebem”.

Como condição primordial para a eficácia desses incentivos, o professor do Insper destacou a garantia das condições necessárias aos atores para que as metas sejam alcançadas. “Quanto maior o apoio, maior tende a ser o impacto”, explicou.

Já Madeira ressaltou a necessidade de se ter clareza quanto aos elementos que têm relação direta com os resultados da escola e que estão sob o seu controle – como a qualidade das aulas e o clima escolar – para que os sistemas de incentivos efetivamente reconheçam os esforços dos professores e diretores e surtam os efeitos esperados. “Se essa clareza não existir, abre-se espaço para subjetividade e consequentemente para captura política [dos cargos]”, concluiu.

Também foi mencionado pelos debatedores os sistemas de incentivos conhecidos como soft accountability, que não envolvem remuneração financeira e são baseados na divulgação dos resultados das avaliações e no controle social por parte das famílias. “Para isso, é preciso ter mecanismos de pressão e voz da comunidade junto às escolas e gestores”, ressaltou Madeira.

Como elementos que geram uma motivação intrínseca no corpo docente e gestor da escola, foi citado ainda o efeito do “contágio entre pares”. “O contágio pelo lado negativo é evidente. Disseminamos a imagem do professor como ‘coitado’, o que não ajuda em nada”, lembrou Barros. “Precisamos trabalhar o papel do docente no simbólico do imaginário coletivo”, complementou.

Para Madeira, “mapear, medir objetivamente quem são esses indivíduos automotivados e entender a trajetória deles” pode “ajudar a pensar em como motivar os demais”.

“Temos uma grande comunidade de educadores que sabem ensinar como ninguém. Mas criamos um sistema onde copiar as boas práticas não é uma prática”, lamentou Paes de Barros.

No debate aberto ao público, a gerente de Desenvolvimento e Conteúdos do Instituto Unibanco, Lucia Couto, ressaltou a importância da formação continuada como elemento a ser considerado nos sistemas de incentivos. “Parte-se do pressuposto de que os professores, mediante incentivos, passarão a ensinar o que estão sonegando, quando, na verdade, eles não sabem como ensinar”, salientou.

O encontro encerrou uma série de quatro rodas de conversa cuja proposta era debater o tema da gestão escolar e o seu impacto na garantia do direito à aprendizagem. As discussões também serviram como um aquecimento para o Seminário Internacional Caminhos para a Qualidade da Educação Pública: Gestão Escolar, que será realizado pelo Instituto Unibanco, Folha de S.Paulo e Insper, nos dias 2 e 3 de setembro em São Paulo (SP).