m clima escolar positivo é capaz de reduzir desigualdades no desempenho de estudantes de uma mesma escola, mesmo que eles venham de ambientes socioeconômicos muito distintos. Essa é uma das conclusões de estudo divulgado no fim de 2016 nos Estados Unidos que consistiu em uma revisão da literatura científica produzida sobre o tema entre 2000 e 2015. Os pesquisadores, das Universidades de Haifa, do Sul da California e de Bar Ilan, analisaram 78 pesquisas cujo foco era investigar a relação entre clima escolar e de sala de aula, desempenho acadêmico e nível socioeconômico.
Os achados sugerem que, ao promover um clima positivo, as escolas criam condições para aumentar da igualdade de oportunidades e, assim, reduzem o peso das desigualdades socioeconômicas na aprendizagem dos estudantes e fomentam a mobilidade social.
Outra revisão, de 2013, realizada por pesquisadores norteamericanos do National School Climate Center e da Fordham University, também se debruçou sobre o assunto. Ao analisar mais de 200 referências publicadas desde a década de 1970, chegaram à conclusão semelhante: o clima escolar atenua o impacto negativo do contexto socioeconômico sobre o desempenho acadêmico.
No Brasil, pesquisa de 2013 coordenada pelo professor Romualdo Portela, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, destacou o clima escolar como um dos fatores que contribuem para redução das desigualdades intraescolares. O estudo, encomendado pela Fundação Victor Civita, analisou as notas de Matemática da Prova Brasil de 2009 de escolas públicas urbanas e os dados obtidos a partir de um questionário aplicado em 252 unidades escolares concentradas principalmente nos municípios de São Paulo (SP) e do Rio de Janeiro (RJ).
Os resultados revelaram que nas unidades em que o clima acadêmico e disciplinar era positivo, assim como aquelas em que a gestão desenvolvia ações visando aumentar a participação dos pais nas atividades da escola, o percentual de alunos em nível de aprendizagem avançado ou adequado era superior à média geral. Em escolas com clima negativo, o resultado era o oposto.
Dado o impacto do clima escolar sobre a aprendizagem constatado por esses e outros estudos, é fundamental que o gestor esteja atento a esse fator. Entender as diferentes dimensões que compõem o clima escolar e buscar elementos que o ajudem a monitorá-lo é um primeiro passo antes que se possa atuar sobre ele.
Embora exista um debate conceitual sobre o tema, é possível afirmar que uma escola com um bom clima é aquela em que são registrados poucos casos de indisciplina e bullying, em que há relações de confiança entre direção, alunos, pais, professores e comunidade, com regras claras compartilhadas com todos. Nela há também senso de pertencimento e uma percepção coletiva dos objetivos comuns a serem atingidos, além de infraestrutura e recursos adequados para aprendizagem (confira quadro abaixo).
Durante o Seminário Internacional Caminhos para a qualidade da educação pública: Impactos e Evidências, realizado pelo Instituto Unibanco e pela Folha de S.Paulo, com apoio do Insper, nos dias e 15 e 16 de setembro de 2016, a pesquisadora Telma Vinha, da Unicamp, especialista no tema, apresentou algumas ações que podem ser realizadas na escola com vistas à melhoria do clima. Uma delas, por exemplo, é a criação de espaços para mediação de conflitos, como assembleias e círculos restaurativos.
Outra estratégia é investir na formação contínua da equipe sobre o tema. “Só discutir o clima a partir do referencial da escola é discutir senso comum. Muitas vezes eles nunca estudaram aquilo, não sabem a diferença entre disciplina e transgressão, entre bullying e violência. A partir do momento em que eles estudam, conhecem pesquisas e formas de lidar com a questão. E a escola tem autonomia para escolher os caminhos que julga necessários naquele momento para intervir”, explica a especialista.
O exercício de uma gestão democrática, em que os diferentes atores da escola têm voz e as decisões são tomadas coletivamente, também é apontado como um elemento que colabora para a construção de um clima positivo. Com base nos dados da Pesquisa Internacional de Ensino e Aprendizagem (Talis, na sigla em inglês, de 2013), a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) concluiu que estimular a participação dos diferentes atores escolares (estudantes, pais e professores) e criar uma cultura de responsabilidade compartilhada e apoio mútuo, contribui para o desenvolvimento de um ambiente propício à aprendizagem.
Na Escola Estadual Maria Ortiz, em Vitória (ES), a gestora Michele Holtz identificou um distanciamento dos estudantes em relação à instituição. “Eles não percebiam a escola como um espaço deles”, conta. Em conversas com os professores sobre a questão, partiu deles a ideia de ter um professor tutor em cada turma, que fosse escolhido pelos próprios estudantes. A proposta foi implementada e contribuiu para o estreitamento das relações entre docentes e alunos e entre alunos e a escola. “Como é uma escolha deles, eles se sentem mais próximos e mais à vontade para falar, desde uma lâmpada queimada até um problema com alguma disciplina específica, sabendo que aquele professor vai levar a questão para gestão da escola”, afirma Michele.
“Não é mais a escola contra eles, mas todos trabalhando juntos para melhorar os resultados de aprendizagem”
Michele Holtz, gestora da Escola Estadual Maria Ortiz, em Vitória (ES)
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