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TECNOLOGIA AO ALCANCE DA ESCOLA

>> Estudo destaca potencial das tecnologias móveis que intensificam interação entre estudantes e professores

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>> Incorporação das tecnologias pela escola está entre as demandas juvenis, mas falta de formação e infraestrutura são obstáculos

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>> Experiências nas redes de uso de ferramentas disponíveis nos celulares criam novos canais de diálogo entre pais, docentes e alunos

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PARA SABER MAIS

ada vez mais, a tecnologia está presente no dia a dia das pessoas; sistemas educacionais no mundo todo debatem como usá-la a serviço da aprendizagem. Embora se configure como uma necessidade para adaptação das escolas aos tempos atuais e uma demanda crescente dos alunos, estudos têm mostrado que a incorporação da tecnologia não é garantia de melhoria dos resultados educacionais. A ausência de evidências nessa área, por exemplo, foi uma das conclusões do estudo (2014) realizado pelo Centro Nacional de Política Educacional, da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos. Foram analisadas pesquisas em larga escala produzidas nos últimos 30 anos sobre o impacto das tecnologias digitais no aprendizado naquele país.

Como grande parte dos programas analisados baseia-se na utilização de computadores e na direção da “personalização do ensino”, uma das recomendações do estudo é explorar o uso das tecnologias móveis e as possibilidades de interação proporcionadas por esses dispositivos. “Aprender sempre foi uma experiência interativa – observar o outro, questionar e ser questionado, dialogar, discutir e debater. Essas são interações entre pessoas”, observa Noel Envedy, autor do estudo. “A ironia aqui é que a abordagem que reduz o tempo que os estudantes passam interagindo com professores e colegas é chamada de ‘personalizada’”. Partindo dessa premissa, o pesquisador prevê que “o tipo de tecnologia que muitos acreditam que trará mudanças serão aquelas desenvolvidas em torno do processo de aprendizagem e que buscam intensificar a interação humana e não suplantá-la”.

 

Contexto brasileiro

No Brasil, a ausência de formação específica dos professores e de infraestrutura adequada são apontados como principais obstáculos para que a tecnologia seja efetivamente incorporada ao cotidiano escolar e possa contribuir para a renovação das práticas educacionais e a melhoria do desempenho dos estudantes.

Segundo o estudo divulgado em março de 2017 pelo Centro de Inovação para Educação Brasileira (Cieb), 67% dos docentes utilizam a tecnologia apenas para preparar as aulas ou fazer apresentações. Sobre a infraestrutura das redes, a pesquisa revela, por exemplo, que apenas 19% das escolas públicas apresentam acesso à internet em velocidade suficiente para acesso simultâneo dos alunos a vídeos e jogos educativos. O levantamento traçou diagnóstico do grau de utilização de tecnologia nas redes de ensino de 14 estados e do Distrito Federal.

As experiências nas redes, de iniciativa de professores e gestores, sinalizam que explorar as ferramentas existentes nos dispositivos móveis –principalmente nos celulares – tem se mostrado um caminho viável e eficaz dentro do contexto educacional brasileiro quando a proposta é colocar a tecnologia a favor da educação.

Mais de um terço dos professores (39%) afirma utilizar o celular para realizar alguma atividade com os alunos, sendo 36% de escolas públicas e 46% das privadas. O dado faz parte da pesquisa TIC Educação 2015, realizada pelo Cetic.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil).  A amostra do levantamento, de abrangência nacional, contemplou 898 escolas das redes pública e privada de Ensino Fundamental e Ensino Médio em áreas urbanas. Foram entrevistados diretores, coordenadores pedagógicos, professores e alunos. Essa é a sexta edição da pesquisa, realizada desde 2010.

Em Anchieta (ES), a criação de grupos no whatsapp (aplicativo de troca de mensagens instantâneas) com pais de alunos de cada turma e o envio de comunicados por e-mail e SMS foram as estratégias adotadas pelo gestor Ricardo Paterlini, da E.E. Coronel Gomes de Oliveira, para estimular a participação das famílias na escola. A criação de novos canais de diálogo com as famílias teve resultados visíveis. “Tivemos reuniões de pais com 100% de participação”, comemora o gestor.

No Colégio Estadual Presidente Costa e Silva, de São Luis de Montes Belos (GO), a criação de grupos no whatsapp por turma, acompanhados por monitores, além de melhorar a comunicação com os pais, contribuiu para redução dos conflitos entre professores e alunos. “Os monitores são responsáveis por ‘colocar’ no grupo quem não veio à aula e às vezes até o motivo pelo qual não veio, todas as tarefas do dia, os recados dos professores, as advertências, os avisos, aquilo que o aluno precisa trazer para a aula seguinte”, descreve a gestora Lesley Maria de Oliveira. “Acabou sendo uma extensão da sala de aula. Foi um ganho enorme. Eu acompanho, o coordenador acompanha, os meninos e pais também. Melhorou bastante a comunicação”, relata.

Demandas juvenis

A interatividade proporcionada pela tecnologia vai ao encontro das expectativas das juventudes em relação à escola. Um dos resultados da pesquisa “Nossa escola em (re)construção” (2016), realizada pelo site Porvir (especializado no tema inovação em educação) e pela Rede Conhecimento Social, e que ouviu 132 mil jovens de 13 a 21 anos de todo o País, é que 27% deles querem “aprender usando a tecnologia”. Para 51%, a tecnologia deve estar presente não só no laboratório de informática mas em todos os espaços da escola.

Tamanha é a atratividade exercida pelo celular dentro das culturas juvenis que o aparelho pode se tornar, por outro lado, o inimigo número um dos professores, como principal motivo de distração dos estudantes. Em vez de simplesmente banir os celulares da sala de aula, algumas escolas têm promovido iniciativas de reflexão e conscientização sobre o seu uso.

É o que foi, feito, por exemplo, na E.E. Dom Pedro I, em Belém (PA). “Chamamos os professores e falamos que a proposta da direção e da coordenação pedagógica da escola era fazer uma exposição com a temática ‘os benefícios e malefícios causados pela utilização do aparelho celular’”, conta a gestora Juliana de Souza Santana. Com a orientação de um docente por turma, os alunos realizaram pesquisas sobre o tema e a exposição foi realizada em um sábado à tarde. “Depois desse projeto, percebemos uma mudança de comportamento dos alunos. Hoje, posso dizer que um projeto de intervenção faz realmente uma mudança na vida do aluno e da escola”, afirma.

 

Gestora de Goiás conta como usou a tecnologia para melhorar a comunicação entre docentes, alunos e pais

Iniciativa de conscientização do uso de celular realizada com os alunos é comentado por gestora do Pará

Nº 26 - mai.2017

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Aprendizagem em Foco é uma publicação quinzenal produzida pelo Instituto Unibanco. Tem como objetivo adensar as discussões sobre o contexto educacional brasileiro, a partir de pesquisas, estudos e experiências nacionais e internacionais.

 

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