Nº 37 - nov.2017

studos divulgados recentemente ajudam a compreender a dimensão do problema da evasão escolar no Brasil e no mundo e apontam caminhos para o enfrentamento da questão. Segundo dados do relatório “Education at a Glance 2017”, disponibilizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em setembro de 2017, 40% da população brasileira entre 25 e 34 anos não possui o Ensino Médio completo – índice bem superior à média dos 35 países membros da Organização (16%). Uma boa parte acaba estagnada no Ensino Fundamental (cerca de um terço dos jovens de 15 anos no Brasil ainda se encontra nessa etapa) ou evadindo.

O dado revela que, embora tenhamos universalizado o acesso ao Ensino Fundamental e ampliado o ingresso no Ensino Médio, não conseguimos assegurar ainda que nossos jovens permaneçam na escola e concluam a Educação Básica.

O estudo “Políticas públicas para redução do abandono e evasão escolar de jovens”, conduzido por Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor no Insper, fruto da parceria entre Fundação Brava, Instituto Ayrton Senna, Instituto Unibanco e Insper, lançado em outubro de 2017, aponta uma estagnação na matrícula daqueles com idade de 15 e 16 anos nos últimos 15 anos e um aumento de 6 pontos percentuais no índice de jovens de 17 anos fora da escola neste período.

Consequências da evasão

O estudo conduzido por Ricardo Paes de Barros mostra que as consequências do não prosseguimento dos estudos são significativas. Os impactos se manifestam na qualidade de vida, no estado geral da saúde, na quantidade de filhos e até na probabilidade dos filhos de concluírem os estudos.

No que diz respeito à renda, a discrepância é ainda maior. Os indivíduos com Ensino Médio completo apresentam uma renda mensal per capita de R$ 1.425, ante R$ 645 daqueles que não concluíram os estudos. De acordo com uma comparação feita, aqueles que completaram o Ensino Médio têm até 77% de chance de ter uma ocupação formal aos 35 anos de idade, enquanto que entre os que abandonaram os estudos antes de concluir essa etapa da educação básica a taxa é de 50%.

Causas da evasão

De acordo com a pesquisa “Políticas públicas para redução do abandono e evasão escolar de jovens”, as causas da evasão escolar são múltiplas e estão relacionadas tanto a fatores extraescolares quanto à adequação e/ou qualidade do ensino ofertado.

Entre as causas externas, estão dificuldades de acesso à escola, que podem estar relacionadas a falta de transporte, necessidades especiais, gravidez e maternidade, violência, pobreza e trabalho. Entre os fatores vinculados ao contexto escolar, as causas incluem dificuldades de aprendizagem, falta de significado e de flexibilidade no currículo, baixa qualidade da educação e um clima escolar ruim. O estudo elenca uma terceira dimensão, relacionada à percepção dos jovens em relação à importância da educação.

A pesquisa alerta ainda que, se o Brasil mantiver o atual ritmo de evasão escolar, o país pode levar até 200 anos – o que equivalente a 15 gerações – para atingir a universalização do atendimento escolar a jovens de 15 a 17 anos, meta do Plano Nacional de Educação prevista para 2016. Por isso, é fundamental implementar medidas para combater esse problema.

Ações para reduzir a evasão

A partir do mapeamento das 14 principais causas da evasão, a pesquisa coordenada por Paes de Barros elenca mais de uma centena de programas nacionais e internacionais com foco na permanência dos jovens no Ensino Médio e que podem inspirar gestores em busca de caminhos para enfrentar o problema. As ações incidem sobre aspectos diversos como ampliação da oferta e da acessibilidade para estudantes com deficiência, melhoria do clima escolar e da qualidade do ensino e tutoria/aconselhamento estudantil, entre outros. Confira aqui.

O guia “Preventing Dropout in Secondary Schools” (Prevenindo a Evasão nas Escolas Secundárias), publicado em setembro de 2017 pelo What Works Clearinghouse, iniciativa do Instituto de Ciências da Educação (IES), órgão do Departamento de Educação dos Estados Unidos, apresenta uma série de estratégias, baseadas em evidências e pesquisa, para ajudar educadores e gestores escolares a identificar alunos em risco de evasão e evitar que eles deixem a escola.

Essas estratégias foram agrupadas em quatro recomendações principais. São elas: monitorar o desempenho de todos os alunos e intervir de forma proativa e precoce quando os alunos apresentam problemas de frequência, comportamento e aprendizagem; fornecer suporte intensivo e individualizado para esses estudantes; envolver os alunos por meio da oferta de currículos e atividades que mostrem a conexão da escola com o Ensino Superior e o mercado de trabalho e que melhorem sua capacidade de lidar com desafios dentro e fora da escola; e criar comunidades pequenas e personalizadas para facilitar o monitoramento e suporte em escolas com muitos alunos em risco.

Algumas iniciativas nesse sentido já foram colocadas em prática em escolas brasileiras. Foi o que aconteceu na Unidade Escolar Benjamin Baptista, de Teresina (PI). O diretor Manoel Evandro de Souza conta que, em 2008, a taxa de evasão da escola chegava a 19%. Para resolver o problema, foi criado um programa de monitoria em que os alunos com melhor desempenho auxiliavam os colegas que tinham dificuldades, para evitar que eles abandonassem os estudos. “A gente partiu do princípio democrático de que os estudantes deveriam eles mesmos escolher os monitores. Então, foi feita uma votação e cada turma elegeu quatro alunos por sala”, explica. No contraturno escolar, os monitores faziam o acompanhamento dos alunos com dificuldades em alguma disciplina. Segundo Souza, a monitoria acabou motivando os alunos a estudar e permanecer na escola, além de criar e estreitar os laços entre os estudantes e com a escola. “Esse vínculo persiste até hoje, tanto que temos até ex-alunos atuando como monitores”, relata. E os índices de evasão caíram significativamente: atualmente a escola tem um índice de 1,9%, bem distante dos 19% anteriores ao projeto.

Assista ao depoimento do diretor Manoel Evandro de Souza, de Teresina (PI)

A Escola de Ensino Fundamental e Médio Visconde do Rio Branco, de Fortaleza (CE), também recorreu ao envolvimento dos próprios alunos para combater a evasão escolar. De acordo com a diretora Alnedi Costa Lima, o projeto A Escola é Minha Cara fez com que toda a comunidade escolar, incluindo professores e funcionários, desenvolvesse um senso de pertencimento à escola. A iniciativa envolveu atividades diversas, que iam desde a pintura das salas de aula e a criação de canteiros no jardim até a realização de atividades esportivas e culturais, que culminavam com a apresentação dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos em uma gincana realizada no mês de agosto. As ações contribuíram para evitar que os estudantes abandonassem os estudos. “Conseguimos diminuir a evasão e melhorar o clima escolar, porque, quando o aluno começa a se sentir parte da escola, ele começa a chamar os colegas para participar das atividades”, explica.

PARA SABER MAIS

Assista ao depoimento da diretora Alnedi Costa Lima, de Fortaleza (CE)

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