inda estamos longe de ser um país de leitores – é o que mostra a última edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, de 2016. Segundo o levantamento, 56% da população brasileira tem o hábito da leitura, o que representa um aumento de apenas 2% em relação à edição de 2007, e de 6% em comparação a 2011.
A pesquisa, realizada pelo Ibope por encomenda do Instituto Pró-Livro, ouviu 5.012 pessoas, alfabetizadas ou não, e traz dados interessantes que sinalizam a influência da escola na criação desse hábito. Em média, o brasileiro lê 4,96 livros por ano – desses, 0,94 são indicados pela escola e 2,88, lidos por vontade própria. Foram considerados leitores quem leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro nos últimos três meses.
A casa aparece como principal local de leitura, mencionada por 81% dos leitores entrevistados. Em segundo lugar, está a sala de aula, citada por 25%. Sobre pessoas que influenciaram o gosto pela leitura, “algum professor ou professora” perde apenas para “mãe ou responsável do sexo feminino”, com 7% e 11% das menções, respectivamente.
A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil indica a falta de domínio da habilidade de leitura como um dos principais desafios para a formação de leitores. “Não ter paciência para ler” e “ler muito devagar” estão entre as principais dificuldades apontadas, citadas por 24% e 20% dos entrevistados, respectivamente.
O relatório também chama a atenção para a queda contínua no percentual de entrevistados que declararam não ter nenhuma dificuldade para ler a cada edição: era 48% em 2007 e caiu para 33% em 2015. Os dados alinham-se aos resultados de 2015 do Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf), que mede habilidade de leitura, escrita e matemática da população de 15 a 64 anos: um em cada quatro brasileiros é analfabeto funcional, isto é, não consegue realizar tarefas simples que envolvam leitura de palavras e frases ou não é capaz de localizar mais de uma informação em textos de extensão média.
Conheça o projeto “Árvore da Leitura”
Assegurar o acesso aos livros é apontado como condição para criação do hábito de leitura. As bibliotecas escolares desempenham aí papel importante, pois se destacam como principal meio de acesso gratuito ao livro, segundo a pesquisa Retratos da Leitura do Brasil, divulgada em 2016. Entretanto, é um equipamento presente em apenas 36% dos estabelecimentos escolares; se restringirmos à rede pública, o percentual é ainda menor: 31%.
O dado revela que estamos longe de cumprir o que preconiza a lei 12.244, de 2010, que determina que todas as instituições de ensino, de todos os níveis, públicas ou privadas, devem dispor de uma biblioteca. O prazo máximo para universalização expira em 2020.
Vale ressaltar, no entanto, que a existência da biblioteca por si só não garante que ela seja frequentada pelos estudantes. O documento “Biblioteca na Escola” (2006), elaborado pela Secretaria de Educação Básica do MEC com o objetivo de discutir com professores e mediadores de leitura o papel da escola na formação de leitores competentes, traz indicações de como constituir esse espaço de leitura e compor e organizar o acervo. É importante que o local seja convidativo, acessível e que os títulos estejam organizados de modo a facilitar a sua localização. Também é fundamental que a biblioteca conte com acervo variado e atualizado, contemplando diferentes gêneros literários e públicos de diferentes faixas etárias.
Pesquisa realizada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) por solicitação do MEC e divulgada em 2011 sobre a situação das bibliotecas escolares no país destaca que “a democratização do acesso aos livros é insuficiente se não for acompanhada de pedagogias de leitura que garantam a interlocução entre autores e leitores mediados pelo texto escrito”. Desempenha papel fundamental aí a pessoa responsável pela biblioteca, que tem entre suas principais atribuições a promoção de atividades de incentivo à leitura.
Fora do espaço escolar, iniciativas da sociedade civil também têm contribuído para a formação de público leitor. É o caso, por exemplo, da Flup, a Festa Literária das Periferias. Criada em 2012, a Flup reúne anualmente, em comunidades do Rio de Janeiro (RJ), escritores e artistas para debate de temas contemporâneos em uma programação aberta ao público. O objetivo é ser um espaço de formação de novos leitores e autores na periferia das grandes cidades brasileiras.
Além da garantia de acesso, a escola também pode fomentar o interesse pela leitura por meio do desenvolvimento de ações e projetos com esse foco. A realização de saraus, encontros com autores, clubes de leitura, feiras literárias são algumas das iniciativas que podem ser promovidas no espaço escolar com o objetivo de estimular a descoberta do prazer de ler.
No município de Altos (PI), Antonio Onofre Gomes Ferreira, ao assumir a direção da U.E. Afonso Mafrense, se assustou com o elevado número de alunos do Ensino Médio que não sabiam ler nem escrever. Para enfrentar a questão, criou o projeto “Árvore da Leitura”, que consiste na disponibilização de livros em estantes giratórias posicionadas nos corredores. A ideia é facilitar ao máximo a circulação das obras. “O professor pode levar o livro até o aluno na sala de aula. E o aluno se depara com os livros na estante”, explica Ferreira. Além disso, foi estabelecido como meta que cada aluno leia pelo menos oito livros por ano. Como estímulo, foi criada uma premiação que reconhece os leitores mais ávidos. Os resultados são visíveis no volume de empréstimos da biblioteca e no desempenho escolar dos alunos. “A leitura está fluindo; a grafia está melhorando e a participação dos alunos em sala de aula também”, conta.
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Tomaz Silva/Agência Brasil
Embasada na lei 12.244, foi lançada a campanha Eu quero minha biblioteca, por iniciativa do Instituto Ecofuturo, que busca orientar cidadãos e gestores públicos sobre os caminhos para obtenção de recursos públicos para criação e manutenção de bibliotecas escolares: www.euquerominhabiblioteca.org.br
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Aprendizagem em Foco é uma publicação quinzenal produzida pelo Instituto Unibanco.
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