Outro ponto que Mauro Filho aponta como relevante na experiência de Goiás foi o entendimento, por parte de toda a rede, que o incentivo financeiro era apenas mais uma das ações a serem realizadas para evitar que o aluno evadisse ou, em caso de evasão, fosse convencido a voltar aos estudos. “A bolsa é apenas mais uma ferramenta, e sabemos que, por mais que o incentivo financeiro ajude, para alguns pode não ser suficiente. Por isso oferecemos também material, uniforme, transporte, além de outras ferramentas do governo de apoio às famílias”.

Em Alagoas, um dos elementos do pacote adicional ao incentivo financeiro é o projeto de mentoria aos alunos, realizada pelos professores, com apoio de jovens monitores. O Professor Mentor busca apoiar os jovens na iniciação científica, no engajamento comunitário e na construção de projetos de vidas. Sobre esse último objetivo, Ricardo Lisboa diz que o professor mentor tem contribuído com uma reflexão sobre o que o que fazer com o recurso da bolsa conclusão, que é dada ao final do ensino médio. “Ele ajuda o estudante a refletir também sobre suas prioridades de gasto e sobre o sentido do recurso que está recebendo”, explica.

A rotina das escolas também tende a ser afetada com o programa, e há muitas ações na alçada dos gestores escolares que podem potencializar seu impacto. Idalisa Brasil, diretora do Colégio Estadual Dom Fernando I, em Goiânia (GO), lembra que a maioria dos alunos terá sua primeira experiência com uma conta ou cartão bancário a partir do programa. Além da rotina de entrega dos cartões e de orientação sobre como usar pela primeira vez, a diretora afirma que a equipe da escola passou a prestar um importante serviço de apoio aos alunos na hora de tirar dúvidas ou resolver problemas burocráticos.

Layla Rocha, do Colégio Estadual Jardim do Cerrado, também em Goiânia (GO), acrescenta que é importante também o diálogo com as famílias. “Tivemos casos de mães e pais que pediram para receber o cartão em nome dos filhos, argumentando que o aluno não teria responsabilidade para administrar o dinheiro, que ele ia gastar tudo errado. Mas explicamos que o benefício é do estudante, como contrapartida dele estar vindo as aulas e estudando. Por isso é importante que, além da escola, também as famílias conversem com o jovem sobre suas responsabilidades.”

Apesar de todos esses esforços de adaptação, os gestores afirmam que o incentivo financeiro se tornou uma importante ferramenta de incentivo à permanência dos jovens na escola. Idalisa Brasil, do Colégio Estadual Dom Fernando I, afirma que, antes mesmo do programa, a escola já realizava um monitoramento frequente da presença, e entrava em contato com os responsáveis em caso de duas faltas seguidas. “Mas, depois do programa, aumentou o entendimento das famílias da importância de o filho estar na escola. Quando ocorre algum problema médico ou uma ausência justificada, os próprios pais já nos avisam, facilitando nossa comunicação”.

As causas da evasão escolar são múltiplas e não se espera que apenas o incentivo financeiro vá resolver esse problema. Mas as experiências de Alagoas e Goiás indicam que, quando bem implementado e complementado com outras ações relevantes, o impacto de uma iniciativa como essa tende a ser muito mais efetivo.