Por se tratar de um problema estrutural, as desigualdades raciais não serão enfrentadas com inciativas isoladas ou pontuais. É necessário um novo olhar para a política pública, partindo do princípio da necessidade de construção de uma educação antirracista. A criação da lei 10.639 que institui a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira representou um avanço importante nesse sentido, mas duas décadas depois de sua promulgação ele ainda está longe de ser uma realidade nas escolas.

Para subsidiar os educadores, várias organizações da sociedade civil têm produzido conteúdos que podem ser utilizados em estratégias de conscientização e formação, voltados a alunos, docentes e famílias.

Um deles está disponível no Observatório de Educação – Ensino Médio e Gestão, do Instituto Unibanco. Trata-se da Coleção Antirracista, uma série de oito minidocumentários, em linguagem dinâmica para atrair o público jovem, mas tocando em profundidade em temas como o mito da democracia racial, a política de cotas ou o racismo estrutural de nossa sociedade. Também no Observatório de Educação estão disponíveis coleções de conteúdos para educadores, sob curadoria de especialistas e entidades especializadas, que tratam de temas como o combate à discriminação na escola, a educação quilombola, ou o papel da gestão escolar na busca de equidade racial.

Outro conteúdo de acesso gratuito (“Educação e Relações Étnico-Raciais”) foi realizado pela Fundação Santillana. São podcasts que tratam de temas como: diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais; ensino de História e cultura afro-brasileira e africana; experiências de educadores em escolas quilombolas; ou a participação de mulheres negras nas ciências. Nilma Lino Gomes, ex-ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, consultora de Políticas Antirracistas da Fundação Santillana e curadora da série, explica que é preciso combater uma série de mitos sobre a história de luta da população negra no Brasil.

Ela também ressalta que é necessário que a formação dos professores para a questão racial e seu enfrentamento esteja pensada desde a faculdade. “É preciso levar a questão racial para a sala de aula nas licenciaturas, cumprindo o que já está dito nas diretrizes-curriculares dos cursos de graduação.”

Outro conjunto de materiais que pode servir de referência a educadores é a Coleção Educação e Relações Raciais: apostando na comunidade escolar, que foi elaborada pela ONG Ação Educativa com o objetivo de contribuir para o processo de implementação da lei 10.639/03 e de construção de um plano de ação estratégica da escola que gere transformações efetivas no cotidiano escolar.

Em entrevista ao portal Nexo, Ednéia Gonçalves, coordenadora-executiva da Ação Educativa, lembra que um dos desafios para uma educação antirracista nas escolas é o enfrentamento do mito da democracia racial. “Ele ainda é muito forte, um sinal de que a sociedade brasileira prefere fechar os olhos para todos os desrespeitos aos direitos humanos da população negra, e dentro das escolas isso é muito forte”.