O regime de colaboração proposto no Sistema Nacional de Educação foi pensado principalmente para melhor articular os esforços de diferentes entes federativos, mas essa cultura de colaboração (para além de uma rede ou setor) pode também acontecer a partir do trabalho da gestão escolar.
As escolas cotidianamente também se deparam com questões que extrapolam a sua área de competência, mas que afetam o desempenho escolar dos estudantes: a extrema vulnerabilidade social de algumas famílias, violência doméstica, abuso sexual, tráfico de drogas, problemas de saúde física e mental são algumas delas. Para lidar com tamanha variedade de situações, as secretarias da Educação e os gestores escolares estabelecem parcerias com órgãos de outras áreas, como saúde, assistência social, segurança pública e cultura − seja no âmbito do próprio governo a que a rede de ensino está vinculada ou em diferentes esferas administrativas, sem falar do setor privado.
Em outra frente, as escolas também buscam parcerias com organizações não governamentais, instituições de ensino e as mais variadas entidades públicas ou privadas para ampliar a lista de atividades e de opções educacionais, culturais, esportivas e de lazer para os alunos. No centro dessas redes colaborativas, bons gestores escolares fazem toda a diferença, ao formar laços com um maior número de parceiros, o que amplia os horizontes da escola e qualifica a formação dos alunos.
Na periferia de Fortaleza (CE), a Escola Estadual de Ensino Médio em Tempo
Integral Senador Osires Pontes está localizada em uma área com elevados índices de violência. A realidade do bairro impacta negativamente a rotina dos estudantes e se reflete no comportamento de muitos deles dentro da escola. Para fazer frente a tamanho desafio, a diretora Adriana Lopes Vieira de Araújo recorre a uma rede de parceiros. A lista é longa e inclui desde o Comitê de Prevenção à Violência entre Adolescentes (uma articulação liderada pela Assembleia Legislativa do Ceará) à ONG Centro de Defesa da Vida Hebert de Souza, que promove atividades relacionas à cultura de paz, passando pela Universidade Federal do Ceará, cujos alunos de Psicologia participam de rodas de conversa com os estudantes, e pela Divisão de Proteção ao Estudante da Polícia Civil.
“As parcerias são fundamentais: a escola, por si só, consegue muita coisa, mas, quando a gente traz outros atores para apoiar as nossas ações, o resultado é bem mais duradouro e significativo”, afirma Adriana.
No município de Monte Carmelo (MG), a diretora da Escola Estadual Melo Viana, Lisiane Cardoso Stein, lidera um projeto de acolhimento e conversa com alunos, o Fala que eu te escuto, lançado em 2016. O programa serve também para identificar estudantes que estejam atravessando desde crises familiares até casos de abuso sexual e violência doméstica. Por conta da iniciativa, ela mantém diálogo com órgãos como o Conselho Tutelar, o Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) e a rede pública de saúde. Lisiane conta que já denunciou à polícia o caso de uma aluna que sofria abuso sexual do padrasto.
As escolas, segundo ela, precisam ficar atentas, cada vez mais, à situação
de vida e ao estado emocional dos alunos. Comportamentos agressivos ou
demonstrações de aparente desinteresse, como dormir durante a aula, podem
ser reflexo de problemas bem mais graves. A diretora montou uma rede
apoio entre os próprios estudantes, com alunos fazendo as vezes de tutores
dos colegas que faltam às aulas em demasia. “Tivemos uma resposta muito
positiva, com aumento significativo da frequência”, diz Lisiane.