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Dezembro de 2023
Em 2023, o boletim Aprendizagem em Foco debateu agendas importantes para a educação, como a recomposição das aprendizagens e novas maneiras de atuar na gestão escolar e na sala de aula, a partir de experiências vivenciadas na pandemia. Por meio do compartilhamento de estudos, das análises de especialistas e de boas práticas ao longo das edições do ano, buscamos fomentar a reflexão sobre temas imprescindíveis à atuação de gestores escolares e docentes, em especial os relacionados às desigualdades educacionais, que perpassam toda a trajetória dos alunos na educação básica.
APRENDIZAGEM E CLIMA ESCOLAR
Na primeira edição de 2023 (nº 85), abordamos um tema bastante pertinente para abrir o ano letivo: a importância da recomposição das aprendizagens, um conjunto de ações necessárias para preencher as lacunas na educação de estudantes, causadas ou alargadas pela pandemia da Covid-19. Recompor significa reconstruir, reorganizar, reconectar o educando a uma trajetória cognitiva afetada pelo distanciamento. Ou seja, exige uma ação articulada, sistêmica, que envolva diferentes estratégias, como as adotadas pela Escola Estadual Manuel Loureiro, em João Monlevade (MG), em que a pactuação entre professores e estudantes foi decisiva para o sucesso das iniciativas.
Mas a pandemia também deixou lições importantes. O “Informe Liderança Escolar no contexto da pandemia de Covid-19 – Aprendizagens, desafios e propostas de políticas”, produzido pela Universidad Diego Portales (Chile) em parceria com o Instituto Unibanco, foi pauta da edição 87. A reinvenção na gestão escolar e na sala de aula, o uso das tecnologias da informação no processo de ensino e aprendizagem, o acolhimento socioemocional e a relação com as famílias são algumas das heranças dessa fase de isolamento, que tendem a apoiar o desenvolvimento integral dos estudantes. Nesse boletim, trouxemos alguns exemplos de como avançar nessa agenda, em depoimentos de gestores e professores.
Na edição 88, mostramos como, sem um bom clima escolar, o desenvolvimento dos estudantes pode esbarrar em hostilidades e preconceitos. No boletim, compartilhamos subsídios e orientações para a promoção de um ambiente capaz de prevenir violências nas escolas. Processos inclusivos e ampliação de canais de escuta são algumas iniciativas nesse sentido, organizadas em um infográfico que resume as orientações contidas no material “Recomendações para Proteção e Segurança no Ambiente Escolar”, do Ministério da Educação (MEC). Também analisamos a relação do aumento de casos de bullying e conflitos à pandemia, trazendo experiências bem-sucedidas de diretores para manter uma ambiência escolar saudável.
DESIGUALDADES EDUCACIONAIS
A pobreza menstrual pautou nosso boletim 86 em março, mês que celebra o Dia Internacional da Mulher. O tema é de extrema importância, afinal, a falta de acesso a produtos de higiene impacta o bem-estar, o desempenho escolar, a frequência e o desenvolvimento pleno das estudantes. Relatamos algumas ações de gestores escolares para enfrentar a pobreza menstrual, como a disponibilização de absorventes, desodorantes e lenços umedecidos, e a realização de palestras sobre o tema.
O preconceito de gênero, que afeta especialmente estudantes do grupo LGBTQIAPN+, e as soluções para enfrentar o problema foram nosso foco no boletim 90. Os dados de pesquisas preocupam: 73% de alunos(as) disseram ter sido agredidos(as) verbalmente na escola por causa de sua orientação sexual. E mais: 82% de adolescentes e jovens trans deixam o Ensino Médio na faixa dos 14 a 18 anos. Gestores e docentes podem protagonizar iniciativas para mudar essa realidade. Erikah Alcantara, mulher trans e professora no Ceará, acredita ser possível e necessário tratar essa e outras temáticas sociais nas diferentes disciplinas.
O enfrentamento do racismo também é premissa para garantir educação de qualidade com equidade a todos(as) os(as) estudantes. No boletim 91, apontamos caminhos para uma educação antirracista, assim como compartilhamos conteúdos produzidos por organizações da sociedade civil que podem sensibilizar alunos, docentes e famílias sobre o tema. A gestão escolar tem papel fundamental no avanço dessa agenda. Um exemplo prático de como fazer isso é o de uma escola em Acaraú (CE), que propôs uma caravana pedagógica para mudar a forma como as demais comunidades escolares da região encaravam o racismo e o preconceito. Uma ideia inspiradora!
OS DESAFIOS DO ENEM
Principal porta de entrada em universidades públicas e privadas do país, o Enem está perdendo a adesão dos estudantes. A prova, que mobilizava cerca de quatro milhões de alunos, a partir de 2016 vem apresentando uma queda significativa no número de candidatos, especialmente os advindos da rede pública. No boletim 89, identificamos motivos da falta de engajamento e compartilhamos soluções trazidas por especialistas, gestores escolares e professores. Uma delas é não restringir a atuação junto aos alunos só nos momentos de inscrição ou realização da prova. Implementar ações antes, durante e após o exame fazem a diferença, como relataram as redes de educação do Piauí e do Ceará com ótimos exemplos nesse sentido.
Mas o problema não para por aí, como apontamos no boletim 92. A cada edição do Enem as chances dos mais pobres entrarem na universidade estão diminuindo. Estudo realizado pelo Laboratório de Pesquisa em Oportunidades Educacionais (LaPOpE) e do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Desigualdade (NIED), que recebeu nosso apoio, concluiu que o desempenho no exame dos estudantes de redes públicas e privadas, antes e depois da pandemia, mantem patamares elevados. No entanto, quando a comparação é entre raça e nível socioeconômico, as desigualdades aumentam consideravelmente.
A boa notícia é que os gestores escolares podem mudar esse cenário com ações focadas em grupos prioritários. Boas práticas não faltam, como o Programa de Educação para Relações Étnico-Raciais (Proer), da rede de educação do Espírito Santo, e as iniciativas da cidade de Porteiras (CE), que apoiaram estudantes do Ensino Médio a realizarem a prova e obter sucesso.
O IMPACTO DA CRISE CLIMÁTICA NA EDUCAÇÃO
Nosso boletim 93 encerrou o ano com um tema ainda pouco debatido pelas lideranças educacionais: as consequências dos desastres naturais na aprendizagem dos estudantes. Em 2023, vivenciamos enchentes, ciclones, tufões, secas e outros fenômenos causados pelas mudanças climáticas, no Brasil e no mundo. Aulas foram suspensas, famílias perderam bens e entes queridos, causando um impacto significativo em alunos, professores e gestores. Precisamos nos preparar para que esses danos sejam atenuados no cotidiano escolar, além de dar mais ênfase à formação de uma cidadania consciente dos desafios ambientais. No boletim, destacamos alguns documentos, como as “Diretrizes de educação climática ambiental”, do Fundo Brasileiro de Educação Ambiental, para apoiar gestores e professores nessa tarefa. Muitas escolas já trabalham esses aspectos por meio de projetos, como em Santa Maria de Jetibá (ES) e em Picos (PI), cujas experiências vale a pena você conhecer.
Fomentar o debate sobre temas relacionados à educação é uma das maneiras de reafirmar o nosso compromisso com cada estudante brasileiro. Temos muito trabalho a realizar no próximo ano para superar diferentes desafios. Atuar ao lado de redes de educação, gestores escolares e professores é o nosso combustível para as mudanças que iremos empreender juntos(as). É dessa forma que poderemos mitigar desigualdades e garantir uma educação pública de qualidade para todas(os). Então, que venha 2024!
“O resultado que mais nos impressionou foi a mudança de postura e de mentalidade dos alunos. Eles passavam pelo rio e não o enxergavam realmente. Hoje, enxergam todos os problemas ambientais, sua importância para a comunidade. O projeto fez os alunos se sentirem produtores de conhecimento”.
Profa. Gessela Byanka, da Escola São Luiz, em Santa Maria de Jetibá (ES)
Aprendizagem em Foco é uma publicação periódica produzida pelo Instituto Unibanco.
Tem como objetivo adensar as discussões sobre o contexto educacional brasileiro, a partir de pesquisas, estudos e experiências nacionais e internacionais.
Para fazer algum comentário, envie um e-mail para: instituto.unibanco@institutounibanco.org.br
Produção editorial: Redação Mariângela de Almeida; Edição Fabiana Hiromi
Edição de arte Fernanda Aoki
