Fundado em 1991 por uma equipe de jovens educadores e agentes culturais da cidade de Caicó, o Centro de Documentação e Comunicação Popular (Cecop) tem sua sede no bairro Pitimbu, em Natal (RN). A instituição foi pensada como uma resposta da sociedade civil à inexistência de ações, projetos e políticas públicas nas áreas da educação, cultura e comunicação que atendessem a crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social.

A participação de todos nas decisões e na elaboração das iniciativas é facilitada pela estrutura de governança horizontal constituída por coordenações. Na prática, cada coordenação representa um coletivo, um grupo de articulação local (GAL) que se estrutura em torno de demandas institucionais, processos educativos e culturais, captação, gestão de recursos e comunicação. Os grupos são formados por representantes de mulheres, jovens, pessoas negras, pessoas LGBTQIAPN+, pessoas com deficiência, dentre outros.

A partir do ano 2000, o Cecop passou a investir fortemente no trabalho coletivo, estimulando a criação de fóruns locais e redes, como a Rede Potiguar de Televisão Educativa e Cultural e a Rede de Pontos de Memória e Museus Comunitários do Rio Grande do Norte, que congrega dezenas de iniciativas de memória e museologia social.

Em 2022, a instituição beneficiou comunidades de quatro municípios do estado. Em Nísia Floresta, região metropolitana, atuou com escolas públicas e comunidades rurais; em Currais Novos, no seridó potiguar (região interestadual localizada no sertão nordestino), realizou atividades nas comunidades rurais de Saco dos Veados e Tororó de Baixo e escolas públicas da área urbana; em Lagoa Nova, na mesma região, esteve presente na comunidade quilombola de Macambira e no Assentamento José Milanez; em Ipanguaçu, no Vale do Assú, levou suas iniciativas à comunidade quilombola de Picada.

Em 2022, o centro atendeu cerca de mil pessoas. Na área da educação, tem como público-alvo crianças, adolescentes e jovens, ofertando oficinas de aprendizagem criativa, cultura afro-brasileira, mão no barro, leitura e contação de histórias, área verde, fotografia, memória e identidade, produção de vídeo, além de promover eventos educativos e culturais (Festival Literário, Festival de Invenção e Criatividade-FIC, Mostra de Cinema).

Impacto do Programa de Fortalecimento Institucional

Para avançar no seu desenvolvimento institucional, o Cecop definiu três objetivos para trabalhar de 2021 a 2023: criar estratégias para ampliar as fontes de recursos e a diversidade de financiadores no médio e longo prazo; realizar ações de sistematização da sua experiência para produzir conteúdos e socializar metodologias e práticas educativas e culturais e realizar investimentos e ações na área da comunicação para ampliar a visibilidade da instituição e dos novos produtos e serviços educativos e culturais.

O grande destaque nos último três anos é a construção do prédio que irá abrigar o Projeto Sertão Vivo, uma realização de médio e longo prazo, em fase de captação de recursos. O local também será a sede do Cecop, projetado em uma área de dois hectares, entre a zona urbana e rural, no entorno de duas comunidades de agricultores familiares, dois bairros periféricos, escolas públicas e o campus do Instituto Federal do Rio Grande do Norte. O projeto prevê espaços para demonstração de práticas de convivência com o semiárido e de tecnologias de bio construção e de agrofloresta; recepção de estudantes das escolas públicas, agricultores familiares e grupos quilombolas; e capacitação.

O Sertão Vivo também vai desenvolver ações de preservação e difusão do patrimônio cultural, de memória e museologia social, com a estruturação do Museu da Casa Sertaneja para, a partir da reconstituição de uma antiga casa rural seridoense, destacar arquitetura e ambientação que retratem história, costumes, valores e práticas culturais da região. No museu, serão realizadas ações educativas e culturais para alunos, professores e população local, contribuindo com o fortalecimento da identidade cultural seridoense, o desenvolvimento de práticas educativas e culturais inovadoras, ações ambientais e de turismo local e sustentável.

“O Projeto Sertão Vivo está em processo de estruturação, por meio de ações de delimitação da área, construção de acessos internos, perfuração de poço tubular e  intervenções no terreno a partir de um desenho de permacultura. Estamos implantando módulos de agroflorestas, tecnologias como barraginhas e barragem subterrânea numa área mais ampla, que beneficiará vários pequenos agricultores e agricultoras da região. Tudo está sendo pensado em oficinas colaborativas, usando técnicas de bioconstrução como o superadobe e o tijolo ecológico”, explicou Raimundo Melo, coordenador pedagógico e educador da instituição.

Toda movimentação em torno desse projeto levou o Cecop a formar uma comissão de

acompanhamento da implementação do Sertão Vivo. Também conseguiu firmar parcerias com empresas, prefeitura e secretarias de Currais Novos, que doaram materiais e equipamentos para a construção.

Para sistematizar suas experiências, a organização publicou um livro com uma série que traz a temática negritude potiguar para relatar experiências dos territórios quilombolas. Também foram produzidos e disponibilizados ao público conteúdos com metodologias e práticas educativas, como uma cartilha ilustrada contendo textos em cordel e sobre educação ambiental, material que será utilizado com estudantes da rede pública de ensino.

As prioridades para 2023 são amplificar a captação de recursos e trabalhar a comunicação institucional, área essencial para divulgar resultados e prospectar parcerias.

“Um dos avanços da implementação do plano de desenvolvimento institucional foram as audiências públicas que fizemos. Os moradores da comunidade estão se beneficiando de um poço, uma a barragem e um dessalinizador de água. Tudo isso fruto das articulações que promovemos.”

Raimundo Melo, coordenador pedagógico e educador da instituição.