Oficina de funk realizada na sede do Centro Cultural Lá da Favelinha, em Belo Horizonte (MG) – uma das organizações contempladas no edital (Foto: Instagram @ladafavelinha)

Com o objetivo de fortalecer o ecossistema da sociedade civil no campo da educação, o Instituto Unibanco lançou, em outubro de 2020, um edital para apoiar o desenvolvimento de organizações sociais até 2023. A iniciativa, denominada Edital de Fortalecimento Institucional, recebeu 365 inscrições e selecionou 30 organizações que atuam para garantir o direito à educação de qualidade aos seus públicos por meio de iniciativas voltadas ao fortalecimento da educação básica, à redução das desigualdades educacionais e à construção de uma escola pública mais inclusiva e democrática.

Cada instituição selecionada recebe apoio técnico e um aporte financeiro anual de R$50 mil; o programa, que teve início em 2021, se encerra agora em 2023. Durante este período, todas se comprometeram com o desenvolvimento de projetos voltados para a Educação Básica, em suas diferentes etapas de ensino e modalidades.

Para avançar nesses propósitos, as 30 organizações adotaram diferentes estratégias como articulação de redes e desenvolvimento de parcerias com instituições públicas e da sociedade civil; desenvolvimento de pesquisas, publicações, coleta e sistematização de dados; produção de conhecimento e sistematização de novas metodologias; produção de materiais; campanhas públicas e estratégias de comunicação para conscientizar a sociedade; atividades formativas, rodas de conversa, capacitações e seminários.

Perfil das organizações contempladas no Edital de Fortalecimento Institucional (clique na imagem para ampliar)

Agenda humanitária e a potência das OSCs
Em 2020 e 2021, diante do cenário de insegurança alimentar e vulnerabilidade social existente no país agravado pela pandemia de Covid-19, o Instituto Unibanco manteve de forma inédita uma frente humanitária em parceria com organizações da sociedade civil (OSCs) do Rio de Janeiro, Ceará e Minas Gerais. Foram distribuídas milhares de cestas-básicas, cartões-alimentação e kits de higiene, entre outras ações, que beneficiaram cerca de 115 mil famílias em 2020 e 2021. Embora a instituição já realizasse ações de fomento a ações de organizações atuantes no campo da educação alinhadas aos seus temas prioritários, a agilidade e eficiência com que esses parceiros implementaram as ações em um contexto de diversas restrições como o período pandêmico reforçou para o Instituto a relevância e a potência dessas organizações e a importância em investir no desenvolvimento e sustentabilidade delas. Daí nasceu a ideia do Edital de Fortalecimento Institucional.

Passo a passo da implementação do programa
Após a seleção e assinatura dos contratos, as organizações cumpriram uma agenda intensa. Em agosto de 2021, realizaram uma autoavaliação, para definir o marco zero do trabalho, a partir de uma reflexão estruturada sobre perfil, desenvolvimento institucional, prioridades e desafios.

No diagnóstico, as organizações indicaram como principais obstáculos o distanciamento e a dificuldade de comunicação com seus beneficiários (53%). Ao considerar uma análise comparativa entre as dimensões avaliadas, a categoria captação de recursos é a que se apresentou como a mais desafiadora para todas as organizações e foi eleita como prioridade por 43% delas, seguida pelas dimensões de planejamento de projetos e programas e de monitoramento, avaliação e aprendizagem (37%).

Com base nessa análise, cada organização elegeu três desafios e, a partir deles, desenhou um plano de ação e um Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), com objetivos, resultados esperados e cronograma pretendido para 2022-2023.
Todo o trabalho foi alimentado por reuniões sistemáticas, encontros formativos, rodas de conversa temáticas e visitas técnicas da equipe do IU às organizações para acompanhamento e apoio in loco.

“Nos colocamos o desafio de aprimorar nossa capacidade de sistematização a partir das ações que desenvolvemos na educação. E esse desafio vem encontrando importantes resultados: conseguimos sistematizar três experiências em diálogo com as escolas públicas, gestores e estudantes. Além disso, aprimoramos nossa comunicação externa, com melhoria do site e outras redes e aumento de nossa exposição na mídia com ações nas escolas públicas”, comemora Lucia Albuquerque do Carmo, Coordenadora Executiva Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza, em Fortaleza (CE).

Desde setembro de 2022, a equipe do Instituto Unibanco vem realizando visitas técnicas às organizações participantes. Este processo está sendo importante para conhecer in loco o ambiente físico e o funcionamento das organizações, fortalecer o diálogo com as instituições e coletar insumos para produções futuras relacionadas aos resultados parciais e finais do Programa de Fortalecimento Institucional. Em dezembro de 2023, o ciclo do programa será encerrado, mas até lá, neste segundo semestre, estão previstas trocas de experiência e ajustes de alguns percursos para fortalecer as ações.

Avanços conquistados

Ato inter-religioso e cortejo alusivo ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela, promovido pela Rede de Mulheres Negras do PR – uma das 30 organizações contempladas no Edital (Foto: www.facebook.com/RedeMulheresNegrasPR)

No ano passado, uma avaliação para aferir os resultados do PDI das organizações detectou significativos avanços em gestão estratégica, governança, gestão de pessoas, incidência em políticas públicas, redes e alianças, planejamento de projetos e programas, monitoramento, avaliação e aprendizagem, captação de recursos e gestão administrativa e financeira.

“O programa foi fundamental para rever rotas após todo processo de reflexão que fizemos a partir do treinamento dentro do processo formativo. As discussões nas rodas de conversa fortaleceram ainda mais nosso compromisso com os marcadores sociais, uma preocupação da nossa instituição desde a fundação, expressa em nossa missão”, ressalta Nilcemar Nogueira, coordenadora de projetos do Museu do Samba, no Rio de Janeiro (RJ).

“As organizações citaram algumas características dessa parceria, por exemplo, o fato de poder dedicar-se ao desenvolvimento institucional, um aspecto raramente contemplado por outros financiadores que, geralmente, aportam recursos no atendimento na ponta. Também ressaltaram o apoio financeiro por três anos, o que refletiu positivamente nas atividades-fim, levando a resultados mais consistentes. A flexibilização do uso desses recursos foi outro diferencial citado, especialmente pelas instituições de pequeno e médio porte, além da formação, que ajudou a qualificar o repertório e a atuação dos profissionais, e a riqueza que as trocas entre as 30 organizações proporcionaram. Elas formaram uma rede potente que vai perdurar para além do programa”, ressalta Kenny Bastos, do Instituto Unibanco, responsável pelo acompanhamento das ações do edital.

Na prática, dentre diferentes ações adotadas para o fortalecimento institucional, as organizações realizaram rodas de conversa internas e reuniões de equipe para compartilhar e discutir o conteúdo dos encontros formativos.

Outra iniciativa determinante foi a inclusão das perspectivas étnico-racial, antirracista e da diversidade na gestão interna, por meio dos dados sobre cor/raça expressos na ficha de cadastro de alunas(os) beneficiárias(os) e de profissionais das equipes técnicas. Também criaram processos seletivos com base em políticas afirmativas; elaboração de planos de trabalho coletivos e individuais, observando a diversidade étnica e de gênero; aperfeiçoamento do planejamento das atividades culturais educacionais, respeitando recortes de raça, etnia e gênero, para promover diversidade e ambientes de aprendizagem e de trabalho inclusivos.

“Nos três anos de percurso, refletimos sobre a importância de nosso trabalho para população negra do Paraná e os diversos entraves e violências que foram acirrados nesse período, exigindo uma atenção direta para as ações que envolvem principalmente o direito à saúde, à alimentação e à educação. Como mudança, destacamos os grupos de trabalho que foram estabelecidos na organização sobre esses temas, buscando aperfeiçoar nossa atuação para fortalecer as mulheres negras e as políticas públicas que visem a promoção da equidade racial”, explica Cleci da Cruz Martins, coordenadora financeira-adjunta da Rede de Mulheres Negras, em Curitiba (PR).

Nas próximas semanas, contaremos um pouco sobre cada uma das 30 organizações participantes, os desafios, as oportunidades e os avanços conquistados nos três anos do programa. Acompanhe!