IMPACTOS E EVIDÊNCIAS

Avanço das políticas públicas de educação depende da aproximação entre os saberes empíricos dos gestores e a produção acadêmica e científica

Qual a contribuição das avaliações de impacto e de estudos e pesquisas para o monitoramento e o aperfeiçoamento das políticas públicas e a priorização dos investimentos educacionais? E de que forma o conhecimento acadêmico pode contribuir para melhorar os resultados de aprendizagem nas escolas? Debater essas questões e trazer diferentes visões sobre esses temas foram os objetivos do Seminário Internacional Caminhos para a Qualidade da Educação Pública: Impactos e Evidências, realizado em setembro de 2016, em São Paulo.

 

Trata-se do segundo evento da série iniciada em 2015 pelo Instituto Unibanco, em parceria como jornal Folha de S. Paulo e com apoio do Insper. Nesta edição, o seminário teve cerca de 730 participantes, entre gestores estaduais e municipais de educação, educadores, especialistas e representantes de fundações, institutos e organizações da sociedade civil.

 

Entre os 21 palestrantes do seminário, estiveram pesquisadores brasileiros e estrangeiros, como Francisco Soares (Universidade Federal de Minas Gerais), Paula Louzano (Universidade de São Paulo), Ricardo Madeira (Universidade de São Paulo), Sergio Firpo (Insper), IlkkaTurunen (Ministério da Educação da Finlândia), Greg Welch (Universidade de Nebraska) e Miguel Székely (Centro de Estudos Educativos e Sociais do México).  Os temas incluíram os desafios e os benefícios do conhecimento gerado por avaliações e estudos sobre as políticas públicas e sobre programas educacionais de maneira mais ampla. Já os secretários estaduais de educação presentes – Fred Amancio (SEE-PE), Raquel Teixeira (SEE-GO), Eduardo Deschamps (SEE-SC) e Haroldo Rocha (SEE-ES) – apresentaram suas experiências sobre o uso de evidências para a tomada de decisão em prol melhoria dos resultados de aprendizagem dos estudantes das redes públicas de Ensino Médio.

 

Um entendimento comum entre os pesquisadores, especialistas e gestores presentes ao evento foi que, embora no Brasil as avaliações estivessem apenas começando a ser utilizadas de forma mais ampla, ainda seria preciso avançar não só na realização desse tipo de análise mas também em como aplicar o novo conhecimento produzido para gerar ações que tenham impacto positivo na educação dos jovens.

 

Experiências de sucesso

Um dos casos apresentados no seminário foi a avaliação de impacto do Jovem de Futuro, projeto desenvolvido pelo Instituto Unibanco em parceria com as secretarias estaduais de educação de cinco estados brasileiros – Ceará, Espírito Santo, Goiás, Pará e Piauí - com o objetivo de fortalecer a gestão escolar para resultados de aprendizagem nas redes públicas de Ensino Médio. Coordenada por Ricardo Paes de Barros, economista chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper, a avaliação demonstrou que, ao final de três anos da implantação do Jovem de Futuro, houve uma melhora no desempenho dos estudantes no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb)  -- em números, o aumento médio foi de cinco pontos tanto em Língua Portuguesa como em Matemática.

 

Para Paes de Barros, a avaliação de impacto é fundamental para saber o que efetivamente funciona em uma política pública e para descobrir que dimensões fazem com que uma ação seja bem-sucedida. Na sua visão, nesse caso, para conhecer a fundo as causas do sucesso ou as limitações de uma intervenção é preciso, por meio da utilização de metodologias científicas rigorosas, entender que fatores contribuem para a melhoria da aprendizagem dos estudantes no dia a dia da sala de aula. “Evidência que importa é evidência que transforma, que tem utilidade prática”, destacou. Para o economista, somente a partir desse conhecimento é que se torna possível elaborar e implementar um plano de ação consistente e readequar políticas e programas.

 

Outro exemplo de caso bem-sucedido foi o apresentado sobre o estado de Pernambuco, que tem conseguido utilizar as evidências produzidas por meio de pesquisas e avaliações para melhorar as políticas educacionais e os resultados de aprendizagem dos estudantes de Ensino Médio. Na última década, o estado criou um banco de dados e informações que é usado para a gestão da sua rede de ensino, definindo políticas e estratégias a partir das evidências ali coletadas. Pernambuco obteve o mais alto Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb) no Ensino Médio do país em 2015 – o que revela uma grande evolução, considerando que, em 2007, o estado ocupava o 21º lugar entre as 27 Unidades da Federação.

 

A importância do contexto

Para Mirela de Carvalho, gerente de Gestão do Conhecimento do Instituto Unibanco, é importante conhecer outras experiências para identificar ações com finalidades e características semelhantes, porque isso ajuda a desenvolver novas intervenções. No entanto, é preciso ter em mente que replicar uma experiência bem-sucedida pode não dar certo em outra rede, pois o contexto onde a intervenção acontece interfere de modo significativo nos resultados.

 

De acordo com os especialistas que participaram dos debates durante o seminário, é importante que as políticas públicas, as pesquisas e as avaliações levem em conta a complexidade inerente ao campo de ação da educação e a realidade em que as escolas estão inseridas. Para isso, deve-se buscar ampliar o diálogo e a interação entre diferentes áreas do conhecimento e entre pesquisadores e os demais atores envolvidos nos sistemas de ensino e nas escolas.

 

Editorial publicado no jornal Folha de S.Paulo no dia  04/09/2016

Reportagem veiculada no jornal Folha de S.Paulo no dia 31/08/2016

Editorial publicado no jornal Agora no dia 05/09/2016