Diante da constatação de que as perdas, como estimadas, serão significativas, a grande questão é o que pode ser feito para mitigá-las. E, no caso do Ensino Médio, há ainda um elemento adicional: as redes estaduais já estavam diante do enorme desafio de implementar o novo Ensino Médio.
Para Patrícia Monteiro, da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, um dos primeiros passos é justamente obter um diagnóstico do problema, para definir estratégias a serem adotadas.
O estudo do Instituto Unibanco e do Insper indica que seria possível reduzir em até 40% as perdas de aprendizagem dos concluintes neste ano. Para isso, seria necessário pelo menos dobrar o alcance do ensino remoto verificado em 2020, implementar o ensino híbrido no segundo semestre (aulas presenciais e remotas) e adotar ações de aceleração de aprendizagem, priorizando temas essenciais no currículo. Há também a esperança de que o avanço da vacinação, especialmente no caso dos professores, facilite o retorno com segurança às aulas presenciais ao longo do segundo semestre.
A ampliação do ensino remoto nas redes enquanto ainda não for possível a volta segura ao presencial precisará enfrentar o problema da falta de acesso à internet entre os jovens mais vulneráveis. Em 2020, de acordo com a pesquisa Pnad-Covid do IBGE, o grau de engajamento dos alunos de Ensino Médio das redes estaduais ficou em 36%. Ou seja, considerando a carga horária ideal de 25 horas-aula por semana, os estudantes, em média, cumpriram apenas 36% disso. Segundo Paes de Barros, no mínimo é preciso dobrar o engajamento, pois os alunos aprenderão mais à medida que dedicarem mais tempo aos estudos.
O especialista sugere também que as redes de ensino façam uma transição para o ensino híbrido já no segundo semestre letivo de 2021, caso as condições sanitárias permitam tal mudança. Desse modo, observou ele, os estudantes seriam beneficiados pelo ensino presencial, o que, por si só, já é apontado como fator de aumento da aprendizagem.
Por fim, o estudo destaca a importância de ações de recuperação e aceleração da aprendizagem. Inclusive com a otimização dos currículos, isto é, com a definição de conteúdos, habilidades e competências que deverão ser priorizados pelos professores no atual período, tendo em vista que as redes de ensino não têm como dar conta de toda a matéria prevista, em meio às atuais condições de funcionamento na pandemia.
Para implementar programas de aceleração da aprendizagem no ensino médio, as redes terão um desafio a mais: historicamente, o país desenvolveu programas de aceleração voltados para o Ensino Fundamental, especialmente para as séries iniciais. Um caminho para superar isso seria adaptar estratégias já testadas nos anos finais do Ensino Fundamental. Os estados também terão muito a ganhar se adotarem uma postura colaborativa, compartilhando boas experiências e casos de sucesso para que mais redes de ensino consigam mitigar as perdas de aprendizagem.