Desafios da transição demográfica e antirracismo na educação abrem primeiro dia do seminário do Instituto Unibanco
Evento realizado em São Paulo teve como tema as relações entre a educação e as grandes mudanças mundiais, como a crise climática, as novas tecnologias e as transformações demográficas
O Instituto Unibanco realiza em São Paulo, hoje (4/10) e amanhã, o seminário “Educação na era das transições”. Na pauta, discussões sobre como o ambiente escolar, os estudantes, os profissionais de educação e o processo de ensino-aprendizagem se interrelacionam com as grandes mudanças pelas quais o mundo passa, a exemplo das demográficas, climáticas, sociais e tecnológicas.
Realizado no Teatro Bravos, em Pinheiros, o seminário contou com a abertura de Ricardo Henriques, superintendente-executivo do Instituto Unibanco, que destacou o evento como uma retomada da tradição do Instituto Unibanco de realizar grandes debates ligados ao campo da educação, passado o período da pandemia da Covid-19: “Estamos aqui juntos para celebrar as nossas vidas e o compromisso com as crianças, os adolescentes, os jovens das escolas brasileiras como um todo”. Lembrando do documentário Nunca me Sonharam, ele esboçou um desejo: “que a gente possa sonhar esses jovens, essas crianças, e contribuir diariamente para ajudá-los a sonhar e fazer sobretudo que os sonhos deles se transformem em realidade”.
Henriques fez um apanhado sobre cinco grandes transições pelas quais passa o mundo e que estão sendo tratadas no seminário: a demográfica, a das novas tecnologias, o enfrentamento ao racismo, a política, e as climáticas. Sobre esta última, afirmou que “as mudanças climáticas colocam para nós, sociedade brasileira, um desafio que talvez nunca tenhamos enfrentado na nossa história. Adequar o Brasil às mudanças climáticas pode ser o caminho para uma transformação no nosso modelo de desenvolvimento, levando o país a ser um player mundial, pelas vantagens comparativas e competitivas que ele pode gerar, produzindo soluções efetivas para o futuro do planeta”.
Em seguida, a primeira mesa do evento teve o tema “Transição demográfica: bônus educacional?” e contou com as presenças de Ana Amélia Camarano (IPEA), Eduardo Rios-Neto (CEDEPLAR/UFMG), Michael França (INSPER), com moderação de Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho.
Em sua fala, Ana Amélia explicou que a mudança no perfil demográfico brasileiro não é homogênea, diferenciando-se por perfil socioeconômico. Para isso, ela destacou que a taxa de reprodução da população é positiva para o primeiro e segundo quintis de renda (isto é, os de menor nível socioeconômico), mas é negativa a partir do terceiro quintil. “Isso está apontando um aumento das desigualdades porque, além de a população ter menos crianças e menos jovens, os jovens e as crianças serão pobres”. Para ela, isso vai exigir políticas pensadas para grupos específicos, como creches no contraturno para beneficiar crianças e famílias, o ensino integral e profissionalizante para jovens e inclusão produtiva da população idosa, mas com capacidade de trabalhar.
A última mesa da manhã teve como tema “Do mito da democracia racial ao antirracismo – onde estamos?”, e contou com presenças de Ednéia Gonçalves (Ação Educativa), Nilma Lino Gomes (UFMG), Zara Figueiredo (SECADI/MEC), e moderação de Marlova Jovchelovitch Noleto (Unesco).
Nilma Lino Gomes destacou que o antirracismo, enquanto um conjunto de práticas, ações e políticas que tem como objetivo enfrentar o racismo, está mais presente na escola, mas questionou: “se sabemos que temos desigualdades estruturais no Brasil, eu não vejo uma transformação, eu vejo uma tensão. O antirracismo tensiona o mito da democracia racial.” Para ela, a equidade é um caminho, não um fim em si mesma. “Precisamos aprender muito sobre as práticas das políticas que precisamos desenvolver, quais currículos da educação básica e superior precisam ser desenvolvidos para construirmos uma sociedade em que o antirracismo seja um dos valores mais caros da sociedade brasileira”, explicou.
Com o tema “Da redemocratização ao populismo reacionário: desafios de Aprender a Conviver”, o primeiro painel da tarde foi debatido por Esther Solano (Unifesp), Telma Vinha, (Unicamp) e Toni Reis (Aliança Nacional LGBTI+), com moderação de Anna Helena Altenfelder (CENPEC).
Segundo Esther, para avançarmos democraticamente, é preciso mudar nossa forma de fazer política: “Temos que sair da política do pequeno, da burocracia, temos que lançar a política dos afetos, como dispositivo simbólico; fazer política em termos macro”.
Já Telma Vinha lembrou que, segundo dados da OCDE, o Brasil é o país em que os problemas de convivência da escola são mais percebidos pelos professores. “Não se aprende quando se está sofrendo, quando se sente excluído, quando não se sente pertencente. A qualidade do clima não deve servir para melhorar desempenho, mas como função social da escola”, afirmou.
O último debate da tarde terá como tema “A educação dos humanos na era da inteligência artificial”, com presenças de Dora Kaufman (PUC-SP), Ivan Siqueira (UFBA) e Luis Junqueira (Letrus), moderados por Julia Sant’Anna (CIEB).
Focado na educação das pessoas na era da inteligência artificial, o último painel do primeiro dia do Seminário contou com a participação de Dora Kaufman (PUC-SP), Ivan Siqueira (UFBA) e Luis Junqueira (Letrus), com moderação de Julia Sant’Anna (CIEB).
Dora refletiu que o mundo passa pela mudança do uso das máquinas programadas para um mundo de máquinas probabilísticas. Segundo ela, “a grande mudança é que a máquina programada entrega aquilo que foi programada para fazer. Já a probabilística, à medida que você insere novos dados, ela vai se modificando”. Sobre o uso da IA nas escolas, ela percebe três caminhos: “Capacitar os alunos a usarem as tecnologias da melhor forma, essa é uma missão; outra é agregar essas tecnologias às metodologias de ensino; outro é a utilizá-las nos processos, financeiros, administrativos, tem todo um trabalho”.
Ao final do dia, os participantes puderam assistir a uma apresentação da peça “O avesso da pele”, adaptação do livro de Jeferson Tenório vencedor do Prêmio Jabuti em 2021 na categoria Romance Literário. O espetáculo foi idealizado pelo Coletivo Ocutá, sob a direção de Beatriz Barros.
Segundo dia
O segundo de seminário será iniciado pelo lançamento do Hub Brasil FAIrLAC, uma parceria entre Instituto Unibanco e BID que vai utilizar inteligência artificial para apoiar gestores escolares na tarefa de evitar o abandono e a evasão escolar. A apresentação será realizada por Ricardo Henriques (Instituto Unibanco) e Marcelo Perez Alfaro (BID).
Em seguida, o primeiro debate terá como tema “Emergência ambiental: do crescimento infinito à crise existencial”, com presenças de Ana Toni (Secretaria de Mudança de Clima, Ministério do Meio Ambiente), João Marcelo Borges (Instituto Unibanco) e Natalie Unterstell (Instituto Talanoa), com moderação de Lívia Menezes Pagotto (Instituto Arapyaú/Uma Concertação pela Amazônia).
O debate de fechamento do evento terá o tema “Educação em transições”, contando com reflexões de Cida Bento (CEERT), Claudia Costin (Instituto Singularidades), Valter Silvério (UFSCar), Vitor de Angelo (Secretaria de Educação do Espírito Santo) e Ricardo Henriques (Instituto Unibanco).