Desigualdade racial na educação é tema de edital lançado pelo IU
Diversos estudos mostram que o Brasil apresenta resultados educacionais significativamente piores entre estudantes negros e negras quando comparados aos de alunos brancos e brancas. Em 2010, a porcentagem de adolescentes de 15 a 17 anos cursando o Ensino Médio era de 55% entre os brancos e 41% entre os negros (Censo/IBGE 2010). Entre os jovens de 18 e 19 anos, 47% dos brancos haviam concluído o Ensino Médio enquanto somente 29% dos negros finalizaram essa etapa (Censo/IBGE 2010).
Para debater essa realidade e buscar caminhos de transformação, o Instituto Unibanco, o Fundo Baobá para Equidade Racial e o Núcleo de Estudos Afrobrasileiros da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) promoveram, no último dia 19, o seminário “Gestão Escolar da Equidade – Juventude Negra”, no Museu Afro Brasil, em São Paulo (SP). Durante o evento, foi lançado edital voltado para escolas e organizações não governamentais, que tem por objetivo contribuir para o desenvolvimento e a implementação de práticas inspiradoras de gestão escolar que busquem elevar os resultados educacionais dos jovens negros e negras.
O lançamento do edital é uma das formas encontradas pelas instituições para contribuir com a reversão desse quadro, identificando e apoiando projetos que promovam uma gestão escolar que, a partir do reconhecimento das desigualdades raciais, planeje, execute e monitore medidas para criar condições de equidade e valorizar a diversidade.
Para Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco, “o Ensino Médio não é adequado para a juventude e a questão racial se impõe neste cenário. Nossa expectativa com o edital é incidir nesta realidade. Não é um foco usual no mundo da pedagogia. Propomos enfrentar esses dilemas e propor soluções que possam ser difundidas. Ou seja, queremos gerar conhecimento, sistematizar e difundir”, completou.
Participaram do evento profissionais da educação, representantes do Ministério da Educação (MEC) e Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), além de instituições que trabalham com diversidade e relações raciais.
Debates
O seminário contou com duas mesas de debates: a primeira, moderada pelo superintendente do Instituto Unibanco Ricardo Henriques, abordou os desafios para a equidade racial na escola, e teve como palestrantes, o diretor de Políticas de Educação do Campo, Indígena e para as Relações Étnico-Raciais da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do MEC (Secadi) , Thiago Thobias; a secretária de Combate ao Racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, Ieda Leal de Souza; e o professor da UFSCar, Valter Silvério.
Para Ricardo Henriques, “o desafio hoje da equidade racial é o desafio da nação brasileira”. Já Ieda Leal destacou que a escola precisa intervir na hora em que o preconceito está sendo cometido. “Não podemos brincar com isso, temos que trabalhar no coletivo, ter a parceria da diretora, do porteiro, do aluno”, enfatizou.
A segunda mesa, intitulada “Como a participação dos jovens pode tornar a escola menos desigual?” trouxe para o debate a estudante universitária e professora de educação artística na Fundação Casa, Micaela Cyrino, que relatou como é ser uma jovem negra em uma sociedade marcadamente racista. “O que o jovem encara na sociedade vai muito contra ao que a gente aprende na escola. Na rua você leva um tapa na cara por ser negro. Como a gente vai rebater esse genocídio que está crescendo a cada dia? No movimento negro, a gente fala pra gente mesmo. Mas sair desse ambiente é uma guerra muito maior. Ser negro é uma guerra de lutar dia após dia. A gente ainda está muito distante do ideal de equidade. Começar com a escola é só um passo”.
O tema também foi debatido pela diretora executiva do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), Cida Bento; a oficial de projetos do setor de educação da Unesco, Cristina Trinidad; e o representante da área de juventude do Instituto Unibanco, André Sobrinho, que moderou a mesa.
“Crianças que estudam em escolas e que vivem em famílias em que sua cultura está presente, são mais assertivas e tem melhor desempenho escolar. A aproximação da escola com a sua cultura é um elemento fundamental para combater a evasão escolar”, explicou Cida Bento.
Edital
Organizações sociais e escolas poderão apresentar um projeto. Na seleção, serão consideradas ações de gestão escolar que promovam o envolvimento dos jovens e da comunidade, assim como a possibilidade de serem replicadas em outras escolas. As solicitações de apoio deverão ter valor máximo de R$ 30 mil, o que não impede que o custo total do projeto seja maior e tenha financiamento de outras fontes.
Os projetos serão escolhidos por um Comitê de Seleção, formado por representantes do Fundo Baobá, do Instituto Unibanco e da UFSCar e deverão prever duração total de 12 meses.
As inscrições podem ser feitas até 10 de outubro de 2014 pelo site do Fundo Baobá: http://www.baoba.org.br.
Para acessar o edital completo, clique aqui.