Evento reuniu cerca de 800 pessoas em São Paulo e contou com a presença de especialistas brasileiros e da Austrália, Índia, do Banco Mundial e do MEC, além de gestores dos estados do Ceará, Piauí, Espírito Santo e Goiás

O Instituto Unibanco realizou seu V Seminário Internacional de Gestão Educacional na última quinta-feira, 28/08, no Teatro Bravos, em São Paulo. Com o tema “Recomposição e Avanço das Aprendizagens”, o evento reuniu mais de 800 gestores, professores e especialistas em educação para discutir os desafios, soluções e boas práticas no Brasil e no mundo.

“Temos que resistir ao risco de fazer políticas uniformes para contextos e pessoas diferentes. Como a gente quebra os limites institucionais que impedem que políticas públicas se tornem ação? Como construímos currículos sobre o que é e o que deverá ser o conhecimento do futuro? Nós avançamos, mas avançamos lentamente frente a uma fronteira que se move em uma velocidade muito maior que tudo que já vimos nos anos anteriores. Temos que rediscutir currículos e expectativas. A barra subiu. Aprendizagem de excelência com equidade, essa é a nossa visão. Para concretizar esse sonho, temos que sonhar todos juntos”, disse Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco, em sua fala de encerramento.

Antes, ao abrir o evento, Ricardo Henriques lembrou de números alarmantes que dão o senso de urgência desse tema no Brasil. De acordo com dados do Saeb, em 2019, sete em cada 100 estudantes do Ensino Médio eram fluentes em matemática. Em 2023, depois da pandemia, o quadro se agravou e somente cinco em cada 100 estudantes tinham os conhecimentos esperados na área.

Os demais especialistas convidados para o evento também alertarem que, embora o tema da recomposição tenha ganhado força pós-pandemia da Covid-19, ela já deveria estar sendo foco das políticas educacionais há muito mais tempo, já que as defasagens de aprendizagem e as desigualdades educacionais são muito anteriores a esse período recente.

“A sociedade brasileira se organiza como nação em cima da desigualdade. Então, o segundo pilar que estrutura a nossa sociedade é o racismo. Em função disso a gente se imobiliza? Não”, lembrou Kátia Schweickardt, secretária nacional de Educação Básica do Ministério da Educação, ao lembrar que é preciso e possível reverter esse quadro.

As duas primeiras mesas do evento foram dedicadas a promover uma reflexão em torno dos conceitos que embasam as estratégias de recomposição das aprendizagens, os contextos que continuam a provocar perdas e sobre a necessidade de políticas permanentes voltadas à garantia de que todos os estudantes aprendam com excelência e equidade.

Além de Katia Schweickardt, participaram dos debates na parte da manhã os palestrantes estrangeiros Alonso Sanchez (Banco Mundial), Phil Lambert (consultor e especialista / Austrália), Dennis Alonzo (Universidade de Sydney / Austrália), e Meera Tendolkar (Pratham / Índia).

Vitor de Angelo, secretário de Educação do Espírito Santo; Mônica Dias Pinto, chefe de Educação do UNICEF Brasil, e a diretora executiva do Instituto Reúna, Katia Smole, integraram a segunda mesa do evento.

Da teoria à prática

Na parte da tarde, as discussões se concentraram nos desafios para a implementação de políticas voltadas à recomposição e ao avanço das aprendizagens, com relatos de experiências e aprendizados das redes estaduais de educação do Ceará, Piauí, Goiás e Espírito Santo.

A partir dos eixos que compõem as políticas de recomposição, lideranças gestoras dos quatro estados trouxeram suas experiências no processo de levar ações concretas que contribuam para que cada aluno aprenda.

A mesa “Implementação das políticas: aprendizados e aprimoramentos vindos da prática” contou com a participações de Jucineide Fernandes, secretária executiva de Ensino Médio da SEDUC-CE; Alessandra Almeida, diretora Pedagógica na SEDUC-GO; Andrea Guzzo, subsecretária de Educação Básica e Profissional da SEDU-ES, e Viviane Faria, Superintendente de Ensino da SEDUC – PI.

 “A escola que temos foi pensada como se todos os estudantes aprendessem da mesma forma e no mesmo ritmo. Não é isso que acontece. O que o currículo oferece hoje é suficiente para que os alunos entendam o que está acontecendo hoje na faixa de Gaza? Como esse currículo está contribuindo para a mobilidade social desses jovens?” – Jucineide Fernandes SEDUC-CE.

“Hoje a gente pode dizer, em Goiás, que a recomposição é permanente e que ela tem de ser orgânica, estar no planejamento, na matriz de habilidades essenciais. A secretaria personaliza essa matriz de acordo com os dados coletados e o professor personaliza na sala de aula” – Alessandra Almeida SEDUC-GO

“O grande sentido da avaliação é se o professor está vendo seu aluno e porque ele não está conseguindo avançar. Não pode ser só o número que a avaliação revela. A avaliação não pode causar frustração; a escada é um degrau de cada vez.” Viviane Faria, SEDUC-PI

 “Desde 2023 a recomposição é objetivo final no nosso planejamento, mas é necessário que as pessoas entendam o que é uma prioridade, como isso chega na sala de aula e se transforma em aprendizado para os estudantes. Precisamos pensar para além da recomposição, para a distorção idade-série, e outras ações que possam potencializar a aprendizagem” Andrea Guzzo, da SEDU – ES

Um olhar amplo para o direito à aprendizagem

Depois de discutir, ao longo do dia, questões conceituais e práticas, o papel das avaliações diagnósticas contínuas e da reorganização curricular, a importância da formação continuada de professores e as possibilidades de metodologia para a recomposição das aprendizagens, a última mesa do Seminário buscou fazer uma reflexão mais ampla sobre os desafios enfrentados pelos estudantes e pelas escolas.

Com participação do cientista da computação e pesquisador Visitante da Escola de Educação da Universidade Harvard, Ig Bittencourt; da líder da área de educação na Mobile Brain, Carla Francisco, e da doutora em psicologia pela USP e cofundadora do CEERT, Cida Bento, o debate passou por temas que atravessam o passado e o futuro da educação. Os palestrantes enfatizaram a necessidade de uma ação concreta e definitiva de enfrentamento ao racismo estrutural no Brasil, que impede não só o avanço do país, mas a plenitude na vida de milhões de crianças e jovens negros e indígenas.

“Eu sou o sonho da minha avó, o orgulho de zumbi, um sonho inimaginável para os que vieram antes de mim e não imaginaram me ver nesse lugar. Para meus antepassados, eu estar aqui hoje foi um sonho, mas aqui estou eu. Temos que continuar acreditando”, disse Carla Francisco.

O evento se despediu com um momento simbólico na voz de cerca de 30 jovens do Coral Jovem Heliópolis, interpretando a música Sal da Terra, de Beto Guedes. Na frase “Vamos precisar de todo mundo”, um apelo para que os profissionais da educação, os gestores públicos e as lideranças políticas se mobilizem para garantir o direito de aprender. Com excelência e equidade.