1° Encontro Nacional Afrocientista discute participação da juventude negra na produção científica brasileira
Realizado em Brasília, evento reuniu cerca de 150 pessoas, entre estudantes, professores, parceiros e voluntários do projeto Afrocientista
Após um dia e meio de painéis e discussões sobre protagonismo juvenil na escola, políticas públicas de ação afirmativa, acesso e permanência em sala de aula, inserção no mercado de trabalho e expectativas e desejos para a melhorar a qualidade da educação, chegou ao fim o I Encontro Nacional Afrocientista, realizado na Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB/FE). Promovido em 27 e 28 de outubro pela Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), pelo Consórcio Nacional de Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros (CONNEABS) e pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas (GEPHERG/UNB), em parceria com o Instituto Unibanco, o evento teve o apoio da UNB/FE e do Instituto Federal de Brasília (IFB).
Ao abrir o evento, Iraneide Soares da Silva, presidenta da ABPN, falou sobre a importância da realização do encontro: “Chegar até aqui, para nós, é dizer que a gente acredita num modelo de país diferente, a partir de nós. E, sobretudo, a gente deposita em vocês, jovens, um esperançar bem grande”. “A gente acredita na sua capacidade, de mudar o mundo, de mudar o modo de olhar para as pessoas e de mudar o modo de nos olharmos”, explicou.
Em seguida, Silvani Valentim, diretora de relações internacionais da ABPN, destacou a necessidade de ações afirmativas exitosas, como o Afrocientista, na educação pública: “Estamos, neste momento, coroando de êxito o diálogo e a execução construídos ao longo dos últimos cinco anos. Somos dignos de termos educação pública que vá da educação básica ao ensino superior. E isso envolve a necessidade de ações afirmativas, como este projeto”. E adicionou: “nós estamos dando para o Brasil, e para o mundo, o exemplo de um projeto exitoso na educação, que leva as relações étnico-raciais para seu mais elevado nível”.
João Marcelo Borges, gerente de pesquisa e inovação do Instituto Unibanco, por sua vez, destacou a necessidade do apoio de organizações como o Instituto Unibanco ao movimento negro para a promoção da equidade racial no País. “Estamos há mais de 10 anos apoiando e fomentando organizações do movimento negro. Fazemos isso porque acreditamos que a gestão educacional, seja no nível da secretaria, seja no nível das regionais, seja no nível das escolas, é crucial. E a gestão inclui tudo isso, inclusive em pensar em modelos diferenciados de integração do currículo com pesquisas, com equidade racial, com o bem-estar das pessoas e com reconhecimento”, afirmou.
Com mais de 150 participantes, entre estudantes, professores, parceiros e voluntários do projeto, o encontro promoveu ricos debates sobre a mobilização de jovens negras e negros na ciência e sobre a relevância formativa, informativa e política do Afrocientista.
A trajetória do Projeto Afrocientista
Criado em 2019, o Projeto Afrocientista, que conta com o Instituto Unibanco como parceiro desde a sua primeira edição, já envolveu 464 bolsistas da Educação Básica, 36 bolsistas da Graduação e registrou outras 159 contribuições voluntárias em produções científicas. Suas atividades, realizadas em parceria com Núcleos de Estudos Afro-brasileiros (NEABs), Núcleos de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABIs) e Grupo Correlatos nas universidades e institutos federais brasileiros, têm como foco a atuação em escolas públicas parceiras a partir de pilares que envolvem a iniciação científica e a instrumentalização sobre o fazer ciências na perspectiva afrocentrada, bem como a formação para a cidadania. Atualmente, o projeto é desenvolvido em 13 núcleos e grupos correlatos, contemplando todas as regiões do país, com 156 bolsistas da educação básica e 26 bolsistas de graduação.
Segundo Caio Callegari, coordenador de inovação em políticas públicas do Instituto Unibanco, o Afrocientista é uma potente inovação educacional do ponto de vista de ação afirmativa. “O projeto é uma inovação na linha de gestão educacional. É um modelo inovador entre universidade e escola, com uma atuação central do gestor, que permite que os jovens tenham continuidade das suas atividades e, assim, a possibilidade de sonharem mais alto, sonharem mais longe”. “Por isso, temos apoiado e estudado essa experiência, analisando os efeitos dos seus consecutivos ganhos de escala de maneira que possamos compreender como expandi-la Brasil afora, porque tem potência de se tornar política pública”, completou.
Transformação em política pública
No segundo dia de atividades, o encontro contou com a presença de Zara Figueiredo, Secretária de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão, do Ministério da Educação (Secadi/MEC). Na ocasião, Zara destacou a relevância da experiência do Afrocientista enquanto ação afirmativa na educação básica e declarou a decisão da pasta em tornar-se parceiro do projeto.
“O Afrocientista mostra para nós algo que já sabíamos há muito tempo: que as políticas universalistas não dão conta de lidar com os grandes desafios da educação”, afirmou a secretária. “Neste momento, de modo formal, digo em nome do ministro Camilo [Santana], que nós queremos nos unir a esse projeto. Este é um compromisso nosso, desenvolver ações afirmativas na educação básica, e essa é uma causa da minha vida”, completou.