Documentário “Nunca me sonharam” é exibido para coletivos das periferias de São Paulo
Cerca de 50 pessoas de coletivos das periferias de São Paulo assistiram ao documentário “Nunca me sonharam” nesta terça-feira (18). A exibição aconteceu no Cinearte, localizado no Conjunto Nacional, e contou com um debate que destacou educação, racismo e desigualdade social.
Bruno Souza, estudante de pedagogia e representante do coletivo Encrespados, criticou como alguns fatos históricos são passados com superficialidade durante aulas. “Na escola nunca me falaram o que foi a escravidão”, reclamou. “Quando você fala que não estudou escravidão, a gente nega a História e nega o racismo.
“Vou fazer cursinho ano que vem, porque acho que não tenho capacidade de tentar Fuvest agora”, disse Glória Maria Brito dos Santos, estudante do terceiro ano do Ensino Médio e integrante da Mostra Cultural de Paraisópolis. Glória Maria explicou que acredita não estar preparada para grandes vestibulares por causa do qualidade do ensino público que recebe. Ano passado, por exemplo, não teve professor de química. Em outros períodos, houve falta de professores de filosofia.
O rapaz que vive no distrito Jardim Ângela, zona sul, também atua na biblioteca comunitária Caminhos da Leitura em Parelheiros, zona sul, onde morou. “O filme dialoga com a nossa realidade”, comenta Bruno sobre o documentário. “Me senti representada no filme. Sou mãe e tenho 17 anos”, completou Glória Maria.
Outro destaque da roda de conversa foi o sonho de cada jovem. Iraê Bernardes Lima, estudante da EE Joaquim Braga, na zona leste, e participante do filme, comentou que sonha em ser jogadora, mas se preocupa com a possibilidade de realizar esse sonho. “Será que vou conseguir chegar até lá? Será que vai ter para nós?”, questiona. Bruno diz que para quem é jovem e periférico é preciso construir a própria identidade antes do sonho. “Precisei sair da escola para me entender como ser humano”.
Por fim, Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco, comentou que sonha em ver um Brasil menos desigual e ressaltou que a gestão escolar necessita olhar para o dia-a-dia, que ações precisam se tornar políticas públicas para que atenda toda a sociedade e que elas não devem ser prejudicadas em trocas de governo.
O debate foi mediado por Lucas Alves do coletivo Em Movimento e contou com a interação da plateia.
“Nunca Me Sonharam” está disponível para exibições públicas gratuitas pela plataforma VIDEOCAMP e também no iTunes, Net Now, Google Play, Vivo Play e YouTube (para alugar).