Em comemoração aos 40 anos, Instituto Unibanco lança “Coleção Antirracista” em São Paulo
Evento contou com exibição de quatro episódios e bate-papo no Espaço Itaú de Cinema
Com o lançamento da websérie inédita “Coleção Antirracista”, na noite desta terça-feira (29), no Espaço Itaú de Cinema, na capital paulista, o Instituto Unibanco deu início à programação especial em comemoração aos seus 40 anos de atuação, 15 deles com foco no avanço contínuo da educação pública no Ensino Médio por meio do aprimoramento da gestão. Dirigida pela documentarista e pesquisadora Val Gomes, a coletânea é composta por oito episódios que contam com depoimentos de intelectuais negros sobre a questão racial brasileira na perspectiva do pensamento antirracista e decolonial e buscam ressignificar fatos e dados históricos da cultura africana e negra no Brasil.
A partir das 19h30, com a sala completamente tomada, Val Gomes agradeceu ao público presente e aos participantes da produção. “É especial lançar a coleção neste cinema, porque aqui eu vivi muitas vidas pelas experiências cinematográficas e emoções. Agradeço ao Espaço Itaú por nos acolher. Agradeço aos entrevistados pelas brilhantes ideias, pensamentos e construções de pensamentos. Aos parceiros, à produtora Olhar Imaginário, não só por ter abrigado o projeto, mas por ter entrado de corpo e alma para fazer a coleção. Enfrentamos várias batalhas para que a coleção chegasse aonde chegou”, disse. Voltada principalmente a pessoas, instituições e empresas que investem em ações inclusivas e combatem o racismo, a obra conta com supervisão artística do cineasta Toni Venturi e equipe de criação e produção extensivamente negra.
A diretora falou ainda sobre a parceria e a sinergia de valores com o Instituto. “Agradeço ao Instituto Unibanco não só por ser patrocinador do projeto, mas porque a gente compartilha valores, que são uma educação pública de qualidade, a busca pela equidade racial e o compromisso e o entendimento de que para a gente aprimorar a democracia é necessário combater o racismo e ter ações antirracistas”, disse. Val Gomes revelou que o projeto nasceu do filme “Dentro da minha pele”, produzido por ela, em 2020, novamente em parceria com Toni. “(Neste filme) Também falamos sobre relações raciais no Brasil, mas de uma forma mais cinematográfica. Eu achava que precisava falar sobre esse tema para a educação e para os jovens. Por isso, pensei no formato mais curto, com animações gráficas e trilha sonora mais moderna.”
“Agradeço ao Instituto Unibanco não só por ser patrocinador do projeto, mas porque a gente compartilha valores, que são uma educação pública de qualidade, a busca pela equidade racial e o compromisso e o entendimento de que para a gente aprimorar a democracia é necessário combater o racismo e ter ações antirracistas”
Na sequência, Tiago Borba, gerente de gestão estratégica do Instituto Unibanco, reforçou a atuação da organização e o legado da obra. “Comemoramos 40 anos de existência do Instituto focados em contribuir para melhoria da educação pública do país e também desenvolvendo ações e projetos nesta agenda de equidade racial, a partir de 2014, com editais de apoio a projetos, editais de produções de conhecimento, apoio a projetos diretos. E a gente acredita e aposta muito que o audiovisual realmente seja capaz de engajar, mobilizar e transformar a sociedade e as ações das pessoas. Conseguimos construir um processo de trabalho intenso para a “Coleção” ficar pronta, mas muito gostoso, prazeroso de fazer, porque isso nos desafia a colocar essa coleção pública para as escolas usarem, para toda a sociedade assistir e conseguir gerar transformações mais rapidamente”, analisou.
Exibições e “perspectiva preta da história das relações de poder no Brasil”
Após os discursos, o público assistiu a uma sessão especial, com a exibição de quatro dos oito episódios da coletânea – “Cota Não é Esmola”, “Mulheres Negras”, “Branquitude vs Antirracismo” e “O Mito Da Democracia Racial”. Completam a coleção “Da Escravidão à Abolição”, “Raça, Trabalho e Direitos”, “Urbanização Como Apartheid” e “Racismo Estrutural”. As obras foram produzidas pela produtora Olhar Imaginário, com consultoria do historiador Bruno Garcia e equipe de criação e produção extensivamente negra. Cada episódio tem de 12 a 15 minutos e apresenta referências intelectuais e figuras negras históricas relevantes, que atuaram nas mais diversas áreas do conhecimento.
A exibição foi seguida por um bate-papo sobre “Cinema Antirracista”, com Val Gomes e Ednéia Gonçalves, coordenadora-executiva da Ação Educativa, que se disse “emocionada e impactada”. Ednéia reforçou a importância da produção de conteúdos antirracistas e de comunicação da perspectiva preta da história das relações de poder no Brasil. “Disseminar esse tipo de conteúdo importa muito para a educação, mas dialoga com todas as outras áreas de conhecimento e possibilidades de se trabalhar o diálogo interracial. E é muito importante que a gente saiba o que está dizendo quando reafirma essa perspectiva construída pelos nossos ancestrais, com muita luta, sangue e resistência simbólica e, hoje, física para que a gente possa trazer na história da diáspora africana e na resistência indígena brasileira uma possibilidade de construção de uma narrativa comprometida com o direito de todas as pessoas a terem memória que respeite suas lutas”, comentou.
Ednéia seguiu seu raciocínio abordando a relevância da “Coleção Antirracista” dentro do ambiente escolar. “A educação brasileira já tem a perspectiva baseada nos favorecidos pelas desigualdades. A gente precisa equilibrar isso com conteúdos como esse. É um material que eu posso levar para uma rede, para uma escola, para interagir com os estudantes. Traz corpo para ativistas e para a intelectualidade negra. É importante a gente ver o corpo retinto da Sueli Carneiro, da Cida Bento, rever a imagem de Lélia Gonzales, inclusive para muitas pessoas que nunca a viram ou a ouviram falar”, emendou.
“Nós, como ativistas, temos a obrigação de nos apropriar deste material para disseminar em todos os nossos espaços de atuação. Vivemos um momento que a reafirmação do poder da democracia, o caminho da cidadania, tem que ser reforçado. E a gente sabe que para fazer este trabalho precisamos também trazer à tona o processo de resistência negra e indígena”, encerrou.
A “Coleção Antirracista” estará disponível a partir de 5 de dezembro gratuitamente em algumas plataformas de streaming: SpCinePlay, a primeira plataforma de streaming pública do Brasil, na Cultnetv – Cultura Negra, o primeiro canal da televisão brasileira 100% dedicado à cultura negra e no Observatório de Educação – Ensino Médio e Gestão, do Instituto Unibanco.
40 anos: Debates dão sequência à programação
Nesta quarta (30) e quinta-feira (1), o Instituto promove, em sua sede, o ciclo de debates Educação e Democracia, composto por quatro painéis e transmitidos ao vivo pelo YouTube. Seguem temas e convidados especiais:
- 30/11, 10h
“Juventudes”, com Bruna Brelaz, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE); Mário Volpi, chefe de Políticas, Monitoramento e Cooperação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF); Gabriel Medina, ex-secretário Nacional de Juventudes e coordenador de Implementação de Projetos e Políticas Educacionais do Instituto Unibanco, e Maju Azevedo, gerente de Implementação de Programas e Projetos Educacionais do Instituto Unibanco
- 30/11, 15h
“Democracia”, com Maria Hermínia Tavares, pesquisadora sênior do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (USP/CEBRAP); Fernando Abrucio, professor e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP); Marta Arretche, professora de Ciência Política (USP); e João Marcelo Borges, gerente de Pesquisa e Inovação do Instituto Unibanco.
- 1/12, 10h
“Equidade”, com Rodrigo Mendes, fundador e diretor-executivo do Instituto Rodrigo Mendes (IRM); Rafaelly Wiest, diretora-administrativa da Aliança Nacional LGBTI+; Cida Bento, consultora em Diversidade Étnico-Racial no Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT); e Mirela de Carvalho, gerente de Desenvolvimento da Gestão em Educação do Instituto Unibanco.
- 1/12, 15h
“Educação”, com Maria Helena Guimarães, presidente da Associação Brasileira de Avaliação Educacional (Abave); Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); Antonio Gois, jornalista especializado em Educação; e o anfitrião Ricardo Henriques, superintendente-executivo do Instituto Unibanco.