Encontro formativo no Instituto Unibanco discute equidade racial na escola
Entre os dias 11 e 13 de setembro, representantes dos 10 projetos selecionados pelo II Edital Gestão Escolar para Equidade – Juventude Negra participaram de um encontro formativo na sede do Instituto Unibanco, em São Paulo. O encontro foi além das apresentações sobre o andamento das atividades de cada projeto, pois o público dialogou com especialistas sobre questões que envolvem equidade racial.
Durante o encontro, foram debatidas questões como as dificuldades das escolas para trabalhar de modo efetivo com a Lei 10.639, que torna obrigatório o ensino da História e da cultura africana e afro-brasileira para resgatar a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política do Brasil, o potencial da educomunicação para abordar equidade racial, as relações raciais no Ensino Médio e o envolvimento da equidade com o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Alexsandro Santos, gerente de Desenvolvimento de Soluções do Instituto Unibanco, disse que, “se o racismo é um dado estrutural da sociedade brasileira, ele atravessa a gestão escolar”. “Como a gestão escolar, que está atravessada pelo racismo, pode trabalhar para promover a equidade?”, questionou. Já Edneia Gonçalves, da ONG Ação Educativa, ressaltou que o racismo é um problema de toda a sociedade. “A gente não pode pensar racismo como um problema de preto. É problema de todo o mundo”. Giselle dos Anjos, pesquisadora do CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), reforçou o ponto trazido por Edneia: “Algumas pessoas pensam que a Lei 10.639 é para pessoas negras. Não, a lei 10.639 é para toda a sociedade”, afirmou.
Daniel Rockenback, um dos representantes do “Figueira Negra”, projeto realizado no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul pela Comunidade Quilombola Morada da Paz, na cidade de Alvorada, afirmou que já vê resultados entre os estudantes. Segundo o professor, alguns jovens já enxergam pontos de discriminação que passavam despercebidos na escola. O projeto do qual Daniel faz parte nasceu da falta de informação sobre a participação de pessoas negras na história de Alvorada. “Sempre quem conta a história da cidade são os brancos”. O educador ressaltou também que uma instituição pública jamais deve fechar as portas à diversidade, mas que ainda é um desafio falar sobre o tema com o corpo docente. Renato Padilha, gestor no Instituto de Educação Carmela Dutra, localizado em Madureira, zona norte do Rio de Janeiro, concorda: “Romper o racismo é muito difícil tanto entre os professores, quanto entre os estudantes”. O saldo positivo do projeto “Meus Cabelos Enrolados Me Fazem Refletir… (Narrativas sobre o Racismo e o Sexismo nas Escolas a partir da Estética do Cabelo!)” desenvolvido no Carmela Dutra é o aumento do autoconhecimento de alunos que não se consideravam negros.
O Edital Gestão Escolar para a Equidade – Juventude Negra é desenvolvido pelo Instituto Unibanco em parceria com o Baobá – Fundo para Equidade Racial e pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Dez projetos de sete diferentes estados – Acre, Alagoas, Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul – foram selecionados nessa segunda edição do edital, lançada em 2016.
Fotos: Nathalie Bohm