Ensino médio depende de melhorias nas séries anteriores para avançar
Fábio Takahashi – Folha de S.Paulo – 03/08/2015
Etapa estagnada em patamar baixo de qualidade, o ensino médio depende de melhorias nas séries anteriores para avançar, defendem representantes das secretarias estaduais de Educação de São Paulo e do Ceará.
A posição foi apresentada semana passada em debate promovido pelo Instituto Unibanco, em São Paulo, cujo tema foi “por que o ensino médio não avança?”.
Segundo tabulação da ONG Todos pela Educação, apenas 10% dos alunos se formam no ensino médio com o conhecimento adequado em matemática, patamar com poucas variações desde 2005.
Coordenadora da pasta do governo Geraldo Alckmin (PSDB-SP), Ghisleine Trigo apontou que 20% dos alunos que chegam ao ensino médio já estão acima da idade ideal para a etapa (15 anos). São alunos que reprovaram no ensino fundamental ou largaram temporariamente os estudos. Pesquisas na área mostram que estudantes com esse perfil tendem a ter notas mais baixas.
“Você não resolve essa defasagem aqui no ensino médio. Tem de ser no fundamental, deixando a escola mais atraente”, afirmou Trigo.
Secretário de Educação do Ceará, Maurício Holanda disse que só haverá avanço efetivo no ensino médio “quando resolvermos o problema do analfabetismo que está reproduzido dentro da escola”. Ele representa a pasta do governo Camilo Santana (PT).
Os Estados, responsáveis pelo ensino médio público no país, concentram 85% das matrículas nessa etapa. As séries anteriores, do fundamental, estão sob responsabilidade tanto dos Estados quanto dos municípios.
Os representantes das redes paulista e cearense afirmaram também que a qualidade do ensino médio depende de outros fatores, como a necessidade de uma nova organização –a atual é considerada muito fragmentada pelas matérias obrigatórias.
Também debatedor no evento, o pesquisador da USP Reynaldo Fernandes lembrou que os resultados do ensino fundamental já melhoram desde ao menos 2005, o que ainda não refletiu na qualidade dos alunos mais velhos que chegam ao ensino médio.
Para Fernandes, ex-presidente do Inep (instituto de pesquisas do Ministério da Educação), as explicações dadas pelos gestores são insuficientes para explicar por que o ensino médio não melhora. “Os problemas tratados aqui são de hoje, ontem e anteontem, não são novos.”