Especialistas discutem ações de busca ativa, engajamento e permanência de estudantes nas escolas estaduais de Goiás
Seminário lançou estratégia estadual no combate à evasão escolar e guia para ajudar municípios a se engajarem nas ações
No dia 18 de outubro, a Secretaria da Educação de Goiás (Seduc-GO) realizou o seminário “Diálogos sobre busca ativa: acolher para permanecer”, que marcou o lançamento do programa estadual “Busca ativa: acolher para permanecer” e do Guia de Busca Ativa, documento desenvolvido pela Seduc-GO com o apoio do Instituto Unibanco que apresenta as estratégias e as orientações do estado para a articulação das ações combate à evasão escolar em cada escola do estado. O seminário reuniu lideranças e especialistas para um debate intenso e foi transmitido ao vivo no canal da Seduc-GO no Youtube.
Com abertura de Fátima Gavioli, secretária de Educação de Goiás, o evento contou com a participação de Patrícia Morais Coutinho, superintendente de Organização e Atendimento Educacional da Seduc-GO; Ricardo Henriques, superintendente-executivo do Instituto Unibanco; Daniella Rocha, consultora da Área de Educação do Unicef Brasil; Elcivan Gonçalves, presidente da União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação de Goiás (Uncme-GO); Miguel Rodrigues, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime-GO), além de lideranças de diversas cidades do estado.
Em sua fala, a secretária Fátima Gavioli deu a dimensão do seminário, que acontece num momento crucial da educação goiana:
“a busca ativa deixa de ser uma palavra solta e passa a ser uma política pública do estado de Goiás, da Seduc, da Uncme, da Undime, de toda a sociedade, do MP, do Conselho Tutelar”. Além disso, lembrou da importância de um olhar plural durante a busca ativa: “precisamos trazer a criança para a escola de tempo integral, oportunizar aqueles que precisam fazer o EJA, falar daquele que está em regime fechado e que não pode perder a oportunidade de estudar”.
De acordo com o Guia lançado no evento, a busca ativa é um “movimento para o resgate, o acolhimento e a permanência dos estudantes”, e que tem sua estratégia baseada “no acompanhamento da trajetória de vida acadêmica e pessoal do estudante, por meio da formulação de um plano de estado estruturado baseado no projeto de vida.”
Coube a Patrícia Coutinho, da Seduc-GO, apresentar o material. Segundo ela, não se trata apenas de trazer o aluno para a escola, mas de “falar em garantia de direitos, o direito ao acesso, à permanência e à aprendizagem dos nossos estudantes”. A especialista também explicou que a busca ativa funciona nas pequenas coisas, “em enxergar o estudante como um diamante, como uma pessoa que tem nome, que tem voz”. Segundo ela, essa foi a principal diretriz para que, em plena pandemia, Goiás tenha conseguido reduzir em 50% a evasão escolar.
Para que isso acontecesse, foi feito um acompanhamento diário dos estudantes, e isso mostrou o porquê da ausência de cada um.
“Quando a gente olha para as necessidades do aluno, a busca ativa funciona, porque a gente dá oportunidade para esse aluno de aprender. Quando o abandono é devido ao trabalho, a gente aciona a assistência social, num processo de intersetorialidade, quando o aluno não retorna porque não tem condição de comprar uniforme, o estado entra distribuindo uniforme escolar. Isso é garantia de direitos”.
Daniella Rocha, do Unicef, trouxe números sobre o desafio que estamos vivendo, lembrando que, com a pandemia, 5,1 milhões não tinham acesso à educação em novembro de 2020. Assim como Patrícia Coutinho, ela reforçou a importância da intersetorialidade e do fortalecimento das redes de proteção no processo de busca ativa:
“90% das crianças que estavam fora da escola em 2019 vêm de famílias que ganham até 1 salário mínimo. Se a gente não olhar a fundo para as causas, a gente não vai entender o que aquela criança, aquele adolescente está passando no seu contexto familiar e comunitário, para ter soluções que sejam mais efetivas para garantir que ele acesse a escola e nela permaneça aprendendo”, afirmou.
Para o superintendente-executivo do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, a pandemia destacou que a desigualdade social é um traço marcante da educação brasileira, reforçando desafios conhecidos que foram agravados, como a insegurança alimentar, e revelando desafios antes menos percebidos, como a inclusão digital.
Nesse sentido, ele lembrou que a busca ativa precisa ser uma estratégia permanente porque “é a expressão máxima do vínculo da rede como um todo com aqueles que são os mais vulneráveis”. Outro motivo é que os resultados da pandemia na educação terão uma “cauda longa”, ou seja, seus efeitos não param simplesmente quando retomadas as atividades presenciais. Por isso, explica:
“a busca ativa é um componente vital, se incorporada ao cotidiano da escola, para que a gente possa ter esse enfrentamento da cauda longa. Porque várias crianças terão muitas pressões para se desinteressar da escola não tendo vivido presencialmente o ano de 2020 e parte de 2021”.
Yasmim Borges Gomes foi uma das alunas que tinham deixado a escola e voltaram à rede graças ao programa de busca ativa. Ela, que é aluna do Centro de Ensino em Período Integral (Cepi) Oseas Borges Guimarães, em Goiatuba (GO), esteve presente no evento e, em um vídeo com seu depoimento: “quando o professor Alisson, a Paula e o Gerson foram na minha casa, eu vi que realmente pessoas se importavam comigo na escola”.
Á íntegra do guia Busca Ativa Escolar em Crises e Emergências pode ser acessada aqui.