Especialistas discutem papel das políticas públicas para a juventude em evento de celebração aos 40 anos do Instituto Unibanco
Debate buscou apontar os desafios e caminhos possíveis para garantia de uma trajetória segura e emancipadora aos jovens brasileiros

Mário Volpi fala sobre mudança nas políticas públicas para juventudes para convidados em evento de celebração aos 40 anos do Instituto Unibanco. (Foto Paulo Cesar Rocha – Divulgação)
Na última quarta-feira (30), o Instituto Unibanco promoveu o primeiro encontro do ciclo de debates Educação e Democracia, em celebração aos seus 40 anos de atuação. Com transmissão ao vivo pelo YouTube e abertura de Raquel Souza, analista de políticas públicas do Ensino Médio do Instituto, o painel “Juventudes” contou com a participação de Bruna Brelaz, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE); Mário Volpi, chefe de Políticas, Monitoramento e Cooperação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF); Maju Azevedo, gerente de Implementação de Programas e Projetos Educacionais do Instituto Unibanco; e Gabriel Medina, coordenador de Implementação de Projetos e Políticas Educacionais do Instituto Unibanco.
Ao dar início ao evento, Raquel lembrou a trajetória do Instituto, desde sua fundação em 1982 até os dias de hoje, com destaque para o programa Jovem de Futuro, que nasceu com o objetivo de contribuir para o aumento da aprendizagem e da conclusão dos jovens no ensino médio, com redução de desigualdades.
Na sequência, Maju Azevedo solicitou aos convidados um minuto de silêncio em respeito à tragédia que ocorreu em Aracruz, no Espírito Santo. Respeitado o período, iniciou o debate convocando os convidados presentes para a discussão.
“Não há dúvidas de que houve muito avanço nas últimas 40 décadas, mas tivemos retrocessos recentes e permanecem muitos desafios. Olhando para a juventude de hoje, quais os maiores problemas que temos a enfrentar em curto e médio prazo?”, provocou.
Gabriel Medina destacou temas centrais que deverão ser enfrentados no próximo período, como o desemprego juvenil, que é o dobro do restante da população; o direito à vida, principalmente para a juventude negra que é a grande vítima da violência; e a questão climática. Nesse contexto, ele abordou o caráter ímpar do Estatuto da Juventude, que vem para garantir que o jovem possa fazer a transição para a vida adulta, apoiado por políticas públicas emancipatórias, e para que tenha o direito à participação, com possibilidade de atuar de maneira ativa nas mudanças que incorrem sua jornada até a vida adulta. “O Estatuto vem numa perspectiva de somar novos direitos reconhecendo que o Estatuto da Criança e do Adolescente não era suficiente para garantir a trajetória emancipadora dos jovens populares, dado que as famílias de classe média, classe alta, bancam os seus filhos até o processo de transição, enquanto os mais pobres não têm isso. Os mais pobres não têm o direito de viver a juventude”, explicou.
Bruna Belaz, por sua vez, apontou um fator urgente e condicionante para as questões levantadas por Medina: a fome. “A maioria dos jovens de hoje desce ladeira passando fome, com uma mochila de alimento nas costas. São milhares de jovens que, para sobreviver, aceitaram o subemprego como alternativa, nesse país que regrediu muito”, afirma. Apesar dos problemas enfrentados, para ela, a juventude pode ser uma grande fonte de potencialidades para que o Brasil volte a crescer, desde que haja uma discussão sobre democracia com os jovens, em especial com a juventude da periferia do Brasil.
“A gente precisa entender a democracia como um processo de construção e, para isso, precisamos olhar para esses jovens que se movimentaram e fizeram a maior tiragem de títulos da história porque não estavam satisfeitos com o governo atual. Eles representam esse sentimento de mudança”, afirmou.
Mário Volpi, do Unicef, aproveitou sua fala para destacar não uma, mas as quatro pandemias simultâneas que afetaram fortemente a população jovem: a respiratória, da Covid-19; a da saúde mental; a da democracia; e a da fome. “É inaceitável que o Brasil, uma das maiores economias do mundo, precise de ajuda humanitária para lidar com a fome, a exclusão digital e a falta de acesso à itens básicos de higiene”, afirmou. Ele lembrou também que a garantia do estado democrático de direito é um caminho para corrigir os retrocessos enfrentados nos últimos períodos. Para isso, no entanto, Volpi ressalta que é preciso reconstruir a democracia e transformá-la de forma a garantir a participação de todos, inclusive da juventude.
Como exemplo, ele trouxe dados de uma pesquisa realizada com jovens de 16 a 17 anos pelo Unicef, que mostrou que 90% dos jovens acreditam no voto como forma de mudar a realidade. “Quando vimos a pesquisa, vimos que alguma coisa pode mudar no país, afinal, os jovens acreditam ainda que a democracia é um bom caminho para mudar as coisas”. Encerrando sua fala, o especialista reforçou a importância de uma política estruturante para a juventude brasileira, que seja uma política definitiva de Estado, para corroborar com a perspectiva do desenvolvimento humano em toda a sua dimensão.
Para assistir à gravação do Painel Juventudes – Educação & Democracia – ciclo de debates | Instituto Unibanco 40 anos acesse: