Estudo lançado pelo Instituto Unibanco mostra papel da liderança pedagógica na melhoria da educação no Brasil
Em webinário, especialistas reforçaram importância da liderança pedagógica e discutiram como criar mecanismos para que os gestores escolares dediquem mais tempo ao pedagógico
O Instituto Unibanco lançou, no último dia 5 de julho, o estudo “Liderança Pedagógica – o que mostra a literatura internacional e reflexões para o Brasil”, terceira publicação da Coleção Políticas Públicas em Educação, produzida em parceria com a Universidad Diego Portales (UDP), do Chile. O lançamento aconteceu durante o webinário “Liderança e gestão escolar: impactos na aprendizagem dos alunos”, transmitido ao vivo pelo canal no YouTube do Instituto.
Com abertura de Joao Marcelo Borges, gerente de Inovação e Pesquisa do Instituto, e mediação de Antonio Gois, colunista do jornal O Globo, o webinário teve como debatedores Alexsandro Santos, diretor-presidente da Escola do Parlamento da Câmara Municipal de São Paulo, professor do Mestrado/Doutorado em Educação e do Mestrado Profissional em Formação de Gestores, na Unicid, e pesquisador associado do CPTE – Instituto Unibanco; Ana Cristina Prado de Oliveira, professora adjunta da Escola de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – Unirio; e Gonzalo Muñoz, pesquisador adjunto da Faculdade de Educação e do Programa de Liderança Educacional da Universidad Diego Portales (UDP), do Chile.
Já na abertura, João Marcelo deu um panorama os principais pontos que viriam a ser abordados no encontro: “No mundo inteiro, inclusive no Brasil, uma série de evidências têm mostrado que há uma correlação positiva e relevante entre a capacidade de gestão e liderança e o aprendizado dos alunos. O estado e a sociedade não podem supor que uma boa liderança escolar é produzida espontaneamente como se ela simplesmente surgisse por mágica. Na verdade, isso exige investimentos sistemáticos, contínuos e com intencionalidade clara, que contemplem desde os processos de seleção até a sua formação, valorização e fortalecimento da sua carreira como profissionais da gestão educacional”.
Primeiro dos debatedores a falar, coube a Gonzalo Muñoz apresentar o estudo “Liderança Pedagógica – o que mostra a literatura internacional e reflexões para o Brasil”, começando pela explicação do conceito utilizado no trabalho: “Como liderança pedagógica, entendemos a influência exercida pelos líderes escolares, por meio dos professores, no aprendizado dos alunos e nos processos de melhoria das comunidades educacionais, garantindo a qualidade da prática docente, impactando na implantação do currículo e no desenvolvimento profissional, proporcionando assim as condições que permitem melhorar o ensino e o aprendizado”. Gonzalo também apresentou evidências mostrando que, entre as várias abordagens de liderança, a pedagógica é aquela que mais tem resultado positivo sobre o que os estudantes aprendem. Por fim, trouxe quatro aprendizados ressaltados pelo estudo como importantes para a realidade brasileira, que são:
- A liderança pedagógica é uma abordagem relevante e necessária para o exercício da liderança diretiva;
- É fundamental desenvolver políticas de liderança pedagógica e alinhar os diferentes dispositivos de política existentes com esta abordagem;
- O fortalecimento da liderança pedagógica deve, por sua vez, considerar a complexidade do papel diretivo e os novos desafios que o contexto atual apresenta; e
- É preciso ampliar o avanço da produção de conhecimento sobre liderança pedagógica no Brasil.
Comentando sobre o último aprendizado, o pesquisador chileno destacou:
“É muito importante seguirmos aprofundando o conhecimento sobre liderança pedagógica, um conhecimento pertinente para a realidade brasileira e que permita avançar nessa direção”.
O tempo extremamente curto que os gestores educacionais do Brasil dedicam à liderança pedagógica foi tema do comentário seguinte, do mediador Antonio Gois, que citou estudo recente: “Quando a gente olha o tempo dedicado dos diretores, dos coordenadores pedagógicos dedicado às tarefas administrativas, há um estudo divulgado recentemente que mostrava que na América Latina, o único país em que os diretores mais dedicavam tempo à liderança pedagógica era Cuba; a maioria dos outros países, Brasil inclusive, os diretores não dedicavam tempo a isso, não tinham tempo”.
A debatedora seguinte, Ana Cristina Prado de Oliveira, preferiu, em suas palavras “dar um passo atrás” e lembrar os obstáculos ao uso do conceito de liderança nas políticas públicas brasileiras. Segundo ela, existe uma falsa dicotomia entre a ideia de liderança e conceitos como coletividade, colegialidade ou organização de espaços democráticos. No entender dela, essa falsa oposição vem do uso de conceitos ultrapassados sobre liderança:
“no campo da administração, inclusive passando pela liderança comportamental, pela liderança situacional, da transformacional, a discussão sempre envolve coletividade e decisões compartilhadas como um mecanismo fundamental para o exercício da liderança”.
A pesquisadora ainda destacou a importância de se estabelecer processos que busquem formar os professores para a liderança escolar, lembrando que a imensa maioria dos diretores foram antes professores. Depois lembrou que, embora haja uma vasta literatura sobre gestão escolar no Brasil, o aspecto da liderança pedagógica é ainda incipiente: “Ainda tem muito chão pela frente. Acredito que novas pesquisas que estão sendo feitas venham a trazer novas produções para o campo e espero que a gente possa melhorar esse campo de pesquisa no Brasil também”.
Liderança pedagógica e equidade
Autor da última fala, o pesquisador Alexsandro Santos analisou a relação da qualidade da educação com o conceito de liderança, porém sob o aspecto da equidade. “Se nós queremos de verdade enfrentar as desigualdades educacionais, temos de usar de todos os elementos que podem empurrar a gente para um cenário de maior equidade. Eu quero reforçar isso: a gestão escolar e as práticas de liderança que a equipe gestora da escola consegue pôr em funcionamento têm impacto profundo na redução e desigualdades que a gente tem dentro da escola”.
Em virtude desse imenso impacto, segundo ele, “deveríamos estar obcecados por preparar melhor os nossos diretores e gestores e dar para essas equipes condições de trabalho adequadas para eles gastarem mais tempo, mais energia, com a liderança pedagógica”. Em seguida, o pesquisador lembrou que, para isso, é necessário mudar a forma como são distribuídas as tarefas de gestão na escola e é fundamental que as redes deem mais apoio para que o diretor realize o trabalho pedagógico.
“Quanto mais suporte a Secretaria de Educação oferece ao trabalho do diretor de escola, mais ela permite que ele se concentre no ramo pedagógico da sua liderança. Então, a gente precisa pensar e se perguntar quais têm sido as condições que cada secretaria tem oferecido para que o trabalho da gestão escolar esteja obcecado por aprendizagem. Como a gente cria um ambiente institucional de política pública em que o diretor possa se dedicar a esse campo, e a equipe gestora possa se dedicar a esse campo com mais intensidade?”, questionou.
A íntegra do webinário pode ser assistida via YouTube do Instituto Unibanco, por meio deste link:
Já a íntegra do estudo está disponível no Observatório de Educação, neste outro link.