Importância das informações confiáveis para a educação marca primeiro dia do Seminário do Instituto Unibanco
A produção e a disseminação de dados e análises confiáveis emerge no mundo contemporâneo como base fundamental tanto para o exercício da cidadania como para a elaboração, o acompanhamento e o ajustes de políticas públicas, inclusive educacionais. Essa foi a tônica dos debates no primeiro dia do “IV Seminário Internacional de Gestão Educacional”, realizado pelo Instituto Unibanco nos dias 19 e 20 deste mês. Planejado para discutir o uso de dados e evidências na educação para estimular transformações pedagógicas, o evento é direcionado a pesquisadores, especialistas e gestores da área, e é realizado no Cine Marquise, em São Paulo.
Na abertura do evento, o superintendente-executivo do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, fez um resumo dos temas que seriam discutidos, destacando uma série de desafios a serem enfrentados para o uso sistemático e eficiente das evidências na educação. “Como diferenciamos aquelas mais robustas das menos relevantes? Qual a melhor maneira de incorporá-las nos desenhos das nossas estratégias, entendendo também as limitações dessas evidências e reconhecendo que as respostas, mesmo quando temos acesso às melhores informações disponíveis não surgirão tão facilmente?”.
A primeira mesa do evento, denominada “Informações e desinformações no mundo contemporâneo: dilemas para formulação das políticas públicas” começou a ensaiar algumas respostas. Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH/USP), fez um histórico sobre o advento das notícias falsas nos Estados Unidos e no Brasil, mostrando que os cidadãos de espectros políticos mais ligados à esquerda se informam de maneira diferente dos ligados à esquerda nos dois países, o que reforça a tendência de polarização política nos próximos anos.
Já Ricardo Paes de Barros (Insper) destacou em sua fala a necessidade de melhorias nas interações entre os cientistas que produzem evidências e os gestores públicos, inclusive a necessidade de utilizar uma linguagem acessível para os dados por parte dos cientistas. “O gestor público deve ter acesso a todas as evidências, teorias e interpretações disponíveis acerca do problema de interesse e, além de ter acesso, que tenha condições de interpretar estas evidências”, afirmou.
Na mesa seguinte, que teve como provocação a reflexão sobre a fronteira entre emancipação e controle a partir de dados e evidências na gestão pedagógica, a pesquisadora Constance A. Lindsay, da School of Education da Universidade da Carolina do Norte (EUA), trouxe parte das suas pesquisas sobre a importância de salas de aula e equipes pedagógicas mais diversas. Segundo seus levantamentos, corpos docentes com pelo menos um professor negro fazem com que os educadores brancos aprimorem suas práticas, gerando melhoria na aprendizagem, especialmente em relação aos alunos negros. “Notamos que a capacidade de aprendizagem dos estudantes se torna mais efetiva e, nesse aspecto, os EUA e o Brasil acumulam a vantagem de terem uma força de trabalho muito diversa dentro da área de educação”, afirmou.
Rachel Lotan, da Universidade de Stanford, apoiada pelo pesquisador Fernando Carnaúba, também de Stanford, abordou a gestão pedagógica baseada em dados e evidências, articulada com os saberes da prática. Durante a palestra, ela falou sobre como as decisões na gestão educacional podem ser influenciadas por dados e como os gestores estão assumindo postos de liderança nas escolas. Rachel chamou a atenção para a necessidade de uma ação conjunta entre academia e escolas, de modo a potencializar esse avanço: “Estamos convencendo as escolas e universidades de que é preciso fazer um trabalho em conjunto, baseado na prática e na teoria e levando em consideração equidade e excelência para chegarmos ao padrão de ensino que queremos”.
Paula Louzano, diretora da Faculdade de Educação da Universidade Diego Portales (UDP), lembrou da importância da profissionalização da gestão escolar, como forma de melhoria educacional, falando da diferença de um gestor para o líder: “O líder enxerga o desafio, tem capacidade de avaliar os riscos, tem a capacidade de colocar a sua escola em movimento para a melhoria”.
Após as discussões, ao final do primeiro dia de evento, foi lançada a websérie “Afrocaminhos: Juventudes Negras e Educação”, produzida pelo Instituto Unibanco em parceria com a Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN). A produção é uma coletânea de entrevistas de estudantes do Ensino Médio e do Ensino Superior que participam ou já participaram do projeto Afrocientista.
Silvani Valetim, da diretoria da ABPN, lembrou a finalidade do projeto, que busca enfrentar a situação crítica do país, com baixíssima presença de pessoas negras na área de pesquisa. “Um país como nosso não tem apresentado bons resultados estatísticos, aos olhos do mundo e aos nossos olhos. O Afrocientista é um projeto de iniciação científica na educação básica que tenta responder a questões como as que foram apresentadas mais cedo, sobre a desigualdade racial”, afirmou.
Silvani Valetim, da diretoria da ABPN, lembrou a finalidade do projeto, que busca enfrentar a situação crítica do país, com baixíssima presença de pessoas negras na área de pesquisa. “Um país como nosso não tem apresentado bons resultados estatísticos, aos olhos do mundo e aos nossos olhos. O Afrocientista é um projeto de iniciação científica na educação básica que tenta responder a questões como as que foram apresentadas mais cedo, sobre a desigualdade racial”, afirmou.
Confira o primeiro episódio da websérie Afrocaminhos no Observatório de Educação, neste link: https://observatoriodeeducacao.institutounibanco.org.br/luz-camera-gestao/detalhe/descobrir-se-negro-o-papel-da-escola-no-reconhecimento-racial