Instituto Unibanco debate o papel da liderança educacional com pesquisadores da Universidade Diego Portales do Chile
Em webinário, especialistas reforçaram a importância das lideranças compartilhadas, da comunicação efetiva e do planejamento flexível para enfrentar o prolongamento da crise de Covid-19
O Instituto Unibanco promoveu, no dia 9 de setembro, em parceria com o Instituto Singularidades e com apoio da Universidade Diego Portales (UDP) e do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (GEPEM), o webinário “O papel da liderança”. Foram convidados para o encontro dois pesquisadores da Universidade Diego Portales (UDP), no Chile: o professor José Weinsten, ex-secretário de Educação e ex-ministro da Cultura do Chile, membro do Centro de Desarrollo de Liderazgo Educativo; e o sociólogo Gonzalo Muñoz, ex-chefe da Divisão de Educação Geral, do Ministério da Educação do Chile e pesquisador do Programa de Liderança Educacional da UDP. Com transmissão ao vivo pelo canal do YouTube do Instituto, o evento foi mediado por César Nunes, gerente de desenvolvimento de soluções do Instituto Unibanco, e teve participação de Ricardo Henriques, superintendente-executivo do Instituto.
Ao abrir o evento e dar as boas vindas aos pesquisadores, Ricardo Henriques ressaltou a importância de discutir o papel da liderança no campo educacional no qual as desigualdades pretéritas à pandemia de Covid-19 foram ainda mais exacerbadas.
“Não podemos esquecer que todos os desafios impostos às dimensões sanitária, social e econômica se relacionam com uma maior pressão sob a questão da evasão escolar, tanto por razões do ambiente escolar, quanto pelo ambiente socieoconômico do estudante que o puxa para fora da escola”, ponderou.
Nessa direção, José Weinsten deu início a sua fala destacando que a participação solidária da sociedade, citada durante a pandemia em discursos importantes como o da chanceler alemã, Angela Merkel, é relevante para enfrentar a atual crise em todas as esferas sociais. Para ele, questões como a alta taxa de desemprego na América Latina – que já ultrapassou a marca de 40 milhões – incidem fortemente sob o campo da Educação que precisa, neste contexto, compreender que os sistemas escolares têm passado por três momentos de crise. O primeiro consiste na crise do não presencial, que compreende o desafio de educar fora das salas de aula; o segundo, com a transição da presencialidade alterada, cuja retomada das aulas será de maneira distinta, por séries e turnos, por exemplo; e o terceiro, sobre a crise da nova normalidade presencial, com novas formas de trabalhar no espaço da escola, que serão bem distintas das que tínhamos antes.
“Geralmente o que se busca quando temos esse tipo de situação grave nas organizações é um tipo de liderança excecional, com verdadeiros super heróis e super heroínas, que tornem simples os problemas mais difíceis, prontos a apontar a solução correta. No entanto, essa é uma forma errônea de classificar o papel das lideranças, embora seja comum em momentos de crise”, analisa Weinsten. Para o pesquisador, o papel da liderança consiste em desafiar as pessoas a enfrentarem seus problemas, pensando a aprendizagem de novos métodos.
“É possível que essa crise nos leve a transformações educativas importantes, como encontrar os conteúdos essenciais do currículo escolar, acelerar o avanço tecnológico na aprendizagem dos estudantes e promover uma melhor participação das famílias no ensino dos jovens, muito distinta da que tínhamos antes. Além de ampliar a compreensão do papel do professor neste processo”, completou.
Gonzalo Muñoz, por sua vez, destacou as oportunidades de fortalecer a gestão educacional neste momento de crise, elencando três habilidades fundamentais aos gestores: a liderança compartilhada, a comunicação efetiva e o planejamento flexível baseado em evidências. A liderança compartilhada significa potencializar a capacidade de cada ator da comunidade escolar, a fim de assumir uma posição de protagonista para, então, propor soluções à crise. “Ela é importante porque faz a comunidade se responsabilizar pelo cenário complexo que estamos, não só no ambiente interno da escola, mas também no meio externo, pois somos responsáveis por ele”, explica o especialista.
Enquanto isso, a comunicação efetiva é o meio para dar transparência ao que os gestores estão ou não fazendo, além de dar forma ao processo de escuta e aos feedbacks. Já o planejamento flexível deve vir acompanhando de um diagnóstico institucional, sociemocional e pedagógico, com possibilidade de incluir metodologias ágeis, nas quais o relacionamento entre os pares deve ser face a face.
“Em contexto de crise, a gestão da comunicação adquire uma importância única para comprometer a equipe docente com a resolução de problemas, pois essa crise não acabará com uma vacina, estaremos em uma crise socieducativa profunda”, comenta Muñoz.
Para fomentar o debate, César interpelou primeiro a Weinsten sobre como garantir a aprendizagem dos estudantes que já são afetados por condições tão desfavoráveis, diante do prolongamento da crise. O pesquisador apontou a necessidade de iniciativas práticas que considerem manejar melhor o tempo de professores e alunos, com flexibilidades entre as aulas para evitar fenômenos de desmotivação, estresse e desgaste na comunidade escolar. A Muñoz, César questionou qual era a relação das lideranças compartilhadas e a gestão democrática, considerando a vivência cotidiana muito defendida por Paulo Freire, educador brasileiro e pensador notável da pedagogia mundial. O sociólogo, a seu tempo, ponderou que a liderança compartilhada com a distribuição de poder, capacidades e atribuições, impacta professores e estudantes, fortalecendo o desenvolvimento de suas atividades.
Por fim, Ricardo Henriques comentou as falas dos participantes, problematizando que o negacionismo, com a recusa de evidências durante a pandemia, gerou incerteza para as lideranças. Mas por outro lado, trouxe à tona a importância da coordenação de políticas públicas para o atual momento. “A agenda da educação está atravessada pela agenda da saúde, da assistência social e da segurança alimentar. Então, podemos aprender que a crise solicita uma visão intersetorial, com muito mais complexidade, compartilhamento e solidariedade entre os pares, com visões sistêmicas e integradas sobre os problemas. O líder ou a líder no campo educacional, em qualquer esfera que esteja, necessita produzir referências e contra referências nesses outros campos setoriais.”
A íntegra do webinário está disponível em https://youtu.be/oSciognii6w
Ciclo de Webinários: Gestão da Educação Pública em Tempos de Crise
O Papel da liderança integra o Ciclo de Webinários: Gestão da Educação Pública em Tempos de Crise. Realizada em encontros semanais, de 29 de julho a 9 de setembro, a iniciativa busca contribuir para a ampliação de repertórios sobre gestão em educação no contexto da COVID-19, além do debate de temas transversais, como o enfrentamento às desigualdades étnico-raciais. Os encontros, que contam com o apoio das Secretarias de Educação dos estados parceiros do Instituto Unibanco no programa Jovem de Futuro (Ceará, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Piauí e Rio Grande do Norte), são transmitidos pelo canal do Instituto Youtube, às quartas-feiras, a partir das 16h. Para conferir a programação, acesse https://bit.ly/2EPvVkM