Metas de desempenho para as escolas públicas: o que se ganha e o que se perde em qualidade do ensino? Essa foi a questão norteadora da segunda Roda de Conversa sobre Gestão Escolar promovida pelo Instituto Unibanco e pelo Insper na manhã de ontem (05). Participaram como debatedores o secretário estadual de Educação de Pernambuco, Frederico da Costa Amancio, a gerente de Desenvolvimento e Conteúdo do Instituto Unibanco, Lucia Couto, e o professor do Insper, Tadeu da Ponte, especialista em avaliações e testes.

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Na mediação, Mirela de Carvalho, gerente de Gestão do Conhecimento do Instituto Unibanco, deu início à discussão destacando brevemente as controvérsias em torno do tema. “Por um lado, as metas podem funcionar como um farol, apontando caminhos, concretizando a melhoria, mas elas precisam ser pactuadas, legitimadas e aceitas para funcionarem. Por outro lado, por mais sofisticadas que sejam na sua formulação, as metas podem levar as redes de ensino a focar demais o processo de ensino e aprendizagem naqueles elementos que compõem a meta. Nesse sentido, elas trariam uma redução da qualidade”, sintetizou.

O secretário de Pernambuco procurou, por meio da experiência bem sucedida do Estado na melhoria dos indicadores educacionais referentes ao Ensino Médio (4º melhor Ideb do país), reforçar a relevância de se atuar de forma estratégica na gestão pública. “Nossa visão não nasce apenas de um olhar específico sobre metas, mas da importância de se ter uma estratégia para poder avançar na educação do Estado”, salientou.

E complementou: “Em gestão, quem não sabe aonde quer chegar, qualquer caminho serve. A meta serve para traçar esse caminho”, complementou Amancio, que já esteve à frente das secretarias de Planejamento e Gestão e Saúde do estado.

Um outro ponto destacado pelo secretário é a importância do uso pedagógico dos resultados da avaliação externa pelos gestores escolares. “Não apenas pactuamos as metas com as escolas, mas fazemos com que elas utilizem no dia a dia esse conjunto de indicadores como ferramenta de gestão escolar”.

Lucia ressaltou o quanto os professores e gestores estão pouco preparados para fazer uso dos dados. Nesse sentido, mencionou como passo importante o lançamento da plataforma de devolutivas pedagógicas pelo Inep, previsto para este mês, criada justamente com a missão de auxiliar os professores na leitura e análise dos resultados da Prova Brasil. “Fico feliz porque conseguimos avançar, mas demorou muito. Nesse ritmo, vamos muito mal”, ponderou.

Para a gerente de Desenvolvimento e Conteúdo do Instituto Unibanco, “o maior legado do Ideb é a mobilização pelo direito de aprender”. Afirmou ainda que a definição de metas confere “rigor técnico” à gestão educacional. “Falar em metas é quantificar um desejo, o desejo de que as crianças aprendam. Permite transformar isso em um objetivo tangível”.

Por outro lado, os debatedores não deixaram de apontar as limitações do Ideb, bem como quais os aprimoramentos mais urgentes depois de uma década de existência. “A Matemática e a Língua Portuguesa são estruturantes, mas não suficientes. Estamos reduzindo o currículo escolar. Além disso, a escola é muito mais do que aprender Língua Portuguesa e Matemática”, ressaltou Lucia.

Já o professor do Insper defendeu o foco do Ideb na mensuração da proficiência apenas em Língua Portuguesa e Matemática. “As duas disciplinas são suficientes para mensurar o que é importante em termos de habilidades cognitivas”.

Uma outra ressalva feita por Lucia diz respeito à falta de estratégias na gestão educacional. “Não adianta pensar em metas se o sistema não é organizado para atingir essas metas. Não adianta ter um farol se não temos as condições de navegação”, observou.

Na avaliação do secretário de Pernambuco, o caráter amostral do Ideb é uma de suas principais deficiências, já que impede que ele seja utilizado como ferramenta de gestão pelas escolas. “Ele dá apenas uma visão geral da rede. Não é possível olhar para a realidade de cada escola”. A periodicidade da realização do Saeb, bienal, representa outro problema, já que não permite um acompanhamento mais próximo do desempenho da rede. Em função disso, o estado desenvolveu seu próprio indicador, o Idepe, cuja avaliação de proficiência é realizada anualmente.

Ponte também destacou os avanços alcançados pelo Brasil no desenvolvimento das avaliações educacionais, relatando ouvir com frequência comentários elogiosos de pesquisadores de outros países sobre o assunto. “Acredito que já fazemos algo em um padrão internacional”.

Para a gerente do Instituto Unibanco, “investimos muito tempo do esforço científico no Brasil pensando em como avaliar e em como usar a avaliação e muito pouco em como organizar esse processo para que ele dê certo. Como fazemos gestão da aprendizagem para que ela efetivamente ocorra?”, questionou.

Esse foi o segundo encontro de um Ciclo de Rodas de Conversa sobre Gestão Escolar voltada para Resultados de Aprendizagem organizado pelo Instituto Unibanco e pelo Insper. A próxima roda será realizada no dia 12 de agosto, no Insper, das 9h às 12h, e terá como tema “Fazendo funcionar a gestão educacional para resultados: atribuições federais, locais e da escola”.

As rodas são uma prévia dos debates previstos para o Seminário Internacional Caminhos para a Qualidade da Educação Pública: Gestão Escolar, que será realizado pelo Instituto Unibanco nos dias 2 e 3 de setembro, em São Paulo.