Jovem de Futuro fomenta ações de combate ao racismo em escola de Goiás
Segundo o gestor da unidade, programa ajudou a melhorar o planejamento escolar, tornando as ações mais organizadas e os resultados mais previsíveis
Para o diretor José Joaquim Gomes Neto, do Centro de Ensino em Período Integral Professor Pedro Gomes, em Goiânia (GO), o programa Jovem de Futuro tem sido fundamental para reforçar as discussões sobre racismo na comunidade escolar. Segundo ele, esse é um tema difícil de inserir na grade curricular, mas, quando trazido de maneira institucional, torna mais fácil o processo de implementação de discussões e projetos antirracistas nas escolas.
“Eu quero fazer um elogio ao Instituto Unibanco por trazer tão fortemente a pauta racial”, afirmou o diretor, destacando o seminário ‘Equidade Racial na Educação: Desafios e Oportunidades na Gestão Escolar’, que foi realizado no início de dezembro.
“O que o Instituto tem nos trazido é uma coisa muito positiva, porque acaba estimulando essa pauta”.
O diretor tem contato com o Jovem de Futuro há muitos anos e o considera um instrumento fundamental na melhoria da gestão escolar: “Eu conheci o programa lá atrás, em 2012 ou 2013, quando participei de algumas formações”. Hoje, ele destaca a importância do Sistema de Gestão para o Avanço Contínuo da Educação (Sigae), plataforma que faz parte do programa e serve para monitoramento das ações realizadas pelas escolas, em seu dia a dia. “O Sigae trouxe para a gente uma facilidade enorme, porque, antes, a gente fazia o nosso Plano de Ação num documento de Excel. Agora, a gente tem usado o Sigae para poder fazer todo esse circuito das aprendizagens, que ajudou bastante. E isso tem melhorado a cada dia o processo, tem nos ajudado a compreender de maneira mais funcional, mais dinâmica, o planejamento escolar”.
Ele também afirma que o sistema ajuda a garantir que as ações planejadas sejam efetivadas na prática. “Eu acho que o ganho maior é essa capacidade de organização que beira a previsibilidade. Esse planejamento torna as nossas ações mais intencionais. Eu acredito que, sobretudo quando chega uma SMAR (sigla para Sistemática de Monitoramento e Avaliação de Resultados, etapa do Circuito de Gestão focada no monitoramento e na avaliação dos resultados das ações), a gente é capaz de fazer uma reflexão sobre um percurso, sobre um recorte, e isso nos convoca a uma mudança de rota, uma reestruturação de ações”, explica.
Ainda segundo o diretor, a periodicidade trazida pelo Circuito de Gestão – metodologia central do Programa Jovem de Futuro – é muito positiva, por garantir que ações importantes não se percam entre as atividades do dia a dia. “A escola tem um fluxo muito intenso. É muito fácil das coisas passarem por conta de uma série de demandas. Vocês imaginam esse ano, que é um ano de Ideb, esse processo é muito pesado com a escola. É fundamental a gente ter esse equilíbrio, esse momento de parar, e a SMAR faz isso, ela traz essa parada obrigatória para você olhar ali para os resultados, não a nota, mas a frequência, a evasão, e isso é importante para que a gente não deixe ninguém para trás, para que a gente não tenha ações atropeladas”.
Gestão participativa
À frente da escola Professor Pedro Gomes desde 2015, José Joaquim se destaca por promover uma gestão transparente, democrática e que incentiva fortemente tanto a participação dos educadores como a dos estudantes nas definições dos rumos da escola. “Ser gestor de escola é ter a possibilidade de você criar e dar aos professores essa liberdade também, de pensar uma educação não tão quadrada”, analisa.
E esse trabalho de parceria e criatividade rendeu diversos frutos. “Fomos descobrindo que isso era possível e começamos a criar alguns projetos importantes”, conta o diretor, que destaca uma ação de formação sobre direitos humanos e outra para revelar jovens escritores. “Publicamos um livro com produções dos estudantes, um livro que tem um caráter autobiográfico muito forte, que é decolonial, porque os meninos trazem elementos de juventude muito fortes”, afirma.
Outro projeto, baseado na solicitação de trabalhos usando formatos e métodos científicos, ajudou os estudantes a começarem a trilhar os caminhos da pesquisa acadêmica. “É um projeto de pesquisa, um artigo científico com todo o processo de pesquisa”, explica o diretor, lembrando ainda da construção coletiva de cada projeto:
“a gente foi construindo essa educação mais colaborativa, mais horizontal, mais participativa, com uma comunicação mais fácil”.
A mediação de conflitos no ambiente escolar foi transformada, passando a haver uma maior escuta dos estudantes. “Passamos a priorizar o diálogo, com a compreensão de que coisas pequenas devem ser tratadas como pequenas, coisas grandes devem ser tratadas como grandes, sem desespero, sem alarde, tendo a compreensão de que o erro faz parte do processo de aprendizagem de qualquer jovem”.
O diálogo foi igualmente fundamental para diminuir uma antiga hierarquia que existia na escola e que diferenciava professores de acordo com o seu tipo de contratação, divididos entre aqueles efetivos e os que trabalhavam por contratos. “Havia uma hierarquia de importância na escola, um professor por contrato era quase como um subgênero. A gente acabou com isso muito rápido. Criamos ações afirmativas, de forma que um professor por contrato por vezes pegasse as turmas finais, como o terceiro ano. Da mesma forma, às vezes um professor já veterano ficasse com as turmas iniciais”.
Outros debates ajudaram ainda a valorizar todos os profissionais presentes na unidade. “Foi muito importante horizontalizar as relações da escola, com o administrativo, para que a gente refletisse sobre essa cultura da subserviência, que vê os profissionais da limpeza, da merenda, como se fosse uma categoria menor de importância dentro da escola. Nós fomos trazendo esses elementos e conseguimos mudanças importantes”, conta.
Tantos acertos fizeram da escola uma referência em sua região, aumentando inclusive o número de estudantes matriculados. “A gente tem quatro escolas integrais aqui na região, no raio de um quilômetro e meio, mais ou menos. Mas a nossa escola está com 470 alunos, enquanto, entre as escolas vizinhas, a que tem mais estudantes tem 130. Então, a gente vê que esse acolhimento, esse diálogo, essa comunicação facilitada, tudo isso ajuda muito no processo da vinda de novos estudantes”, comemora o diretor.