“Jovem de Futuro me ensinou a fazer o planejamento escolar”, afirma diretor do Espírito Santo
Conta Anderson Moura, diretor da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Santíssima Trindade, de Iúna, no Espírito Santo, que o Jovem de Futuro foi fundamental para que ele desse os primeiros passos na gestão escolar. O programa, implementado em parceria entre a Secretaria da Educação do Estado (Sedu-ES) e Instituto Unibanco, tem por objetivo melhorar a qualidade da aprendizagem por meio de avanços na gestão educacional e escolar.
A história de Anderson é inspiradora. Professor de biologia, ele ama lecionar e nem sonhava em partir para a gestão. Porém, em 2017, após se inscrever para uma vaga de professor, teve o pedido indeferido e recebeu o convite para ser diretor. Não em qualquer escola, mas em uma que estava sendo criada naquele exato momento para abrigar estudantes que não conseguiam se encaixar no programa de educação integral em implementação na cidade.
A indicação foi um choque: “Eu não estava preparado para isso. A minha intenção era ficar como professor de biologia porque foi para isso que eu me preparei”, disse ele à superintendente educacional que o convidara, mas acabou aceitando o desafio. E a escola seria gigante, com ensinos fundamental e médio, atendendo nos períodos matutino, vespertino e noturno, além da modalidade de Educação de Jovens e Adultos.
Os desafios eram imensos, começando pela gestão dos profissionais, que também tinham se planejado para trabalhar em outras escolas, mas foram realocados para a nova. Do lado dos estudantes, tratava-se de uma turma extremamente diversa, com muitos jovens em vulnerabilidade social, e com uma defasagem idade-série muito grande. Somava-se a isso o fato de que a escola não tinha local próprio e acabou iniciando seu funcionamento em um prédio que já abrigava uma unidade de educação infantil.
“Eu entrei nas salas de aula e os ventiladores pareciam árvores retorcidas, com as hélices todas para dentro, um ambiente terrível, detonado. Cheguei a me perguntar: Onde eu vim parar? O que eu estou fazendo nesse lugar? Mas, no dia seguinte começamos o trabalho”, recorda.
O maior desafio, segundo o diretor, foi motivar as pessoas e gerar pertencimento. “Eu tinha que mostrar para o meu grupo de professores e minha equipe que, independentemente do local onde nós estivéssemos, nosso time era bom e capaz de fazer um bom trabalho. E disse para eles: ‘Vamos caminhar juntos, vamos fazer juntos e fazer essa escola ser uma referência no município’. Com o tempo, esse pertencimento foi sendo gerado de tal forma que, realmente, a escola virou uma referência no município, na superintendência e na Sedu”, afirma.
Nesse trabalho, conta o diretor, ele teve uma mãozinha especial que o ajudou a criar um planejamento que envolveu todos os setores da escola: o Circuito de Gestão, metodologia central do Programa Jovem de Futuro, inspirada no PDCA, acrônimo que vem do inglês das palavras “planejar”, “fazer”, “verificar” e “agir”. Anderson conta que utiliza a metodologia em todos os momentos da gestão escolar, seja com sua equipe direta, seja com a equipe pedagógica e toda a escola. “Eu aprendi com o Jovem de Futuro a planejar e a fazer com que esse mapa de ação rode de verdade na escola, não seja somente um documento para ficar engavetado, aprendi a profissionalizar minha gestão. Deixei de ser amador!”, comemora.
Entre os diversos avanços implementados com o programa, Anderson destaca as ações para o avanço da equidade racial na escola: “O que nós aprendemos, e acho que ficou bem evidente, é a questão do respeito ao outro, não só a questão racial, mas a diversidade como um todo”. Ele conta que a escola trabalhou fortemente as questões de respeito às diferenças, à identidade do outro, até para cada pessoa também ser respeitada.
“E uma outra coisa que eu percebi aqui na escola é que estudantes de cor preta se empoderaram. Antes, quando era hora de fazer a autodeclaração, preferiam falar que eram pardos, hoje não: ‘Sou preto’, dizem, ou ‘Sou preta’, e ainda batem no peito”, afirma.
“Essa autovalorização aconteceu graças ao Jovem de Futuro, das atividades proposta pelo programa, porque a gente falou do cabelo, dos penteados, das princesas da África, que usavam turbantes, do trançado, do sentido da trança. Muita gente se empoderou”, conta.
Anderson nos revela ainda que a escola tem uma tradição de fazer cartazes com imagens dos estudantes no começo do ano, mas que, antigamente, as estudantes negras e negros não gostavam de participar. “Este ano foi o contrário. Muitos quiseram participar. As fotos estão na fachada da escola, nas áreas de decoração, em áreas mais bonitas, mais acolhedoras”, afirma, orgulhoso.