Museu do Samba aposta nas parcerias para garantir ações de educação e cultura
Localizado aos pés do Morro da Mangueira, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), o Museu do Samba foi fundado em 2001 pelos netos de Cartola e Dona Zica para atender à necessidade de se ter espaços de valorização da ancestralidade africana e da cultura afro-brasileira. A atual sede, que acolhe o museu desde 2003, fica ao lado da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira e da linha do trem, próxima à Universidade do Estado do Rio de Janeiro. A instituição dedica-se à educação, à pesquisa, ao acervo e à preservação e comunicação da história social. Também tem a preocupação de registrar e difundir a memória da Mangueira, de Cartola e do samba carioca e sua salvaguarda como patrimônio imaterial do País.
Na área da educação, o público-foco são crianças, adolescentes e jovens negras(os), pessoas com deficiência e do grupo LGBTQIAPN+ do bairro da Mangueira. Em 2022, a instituição atendeu a cerca de 500 pessoas, oferecendo reforço escolar, afro letramento, formação de professores, educação antirracista, curso pré-vestibular e educação patrimonial.
Embora o prédio da sede seja grande, nem todo o espaço pode ser utilizado, porque precisa de reforma e faltam recursos para realizá-la totalmente, por conta da descontinuidade de apoio financeiro. Por isso, os ajustes na infraestrutura são feitos aos poucos, conforme a situação permite.
A situação ficou mais crítica com os estragos causados pelas chuvas em fevereiro de 2023, que derrubaram parte do telhado da instituição, onde são guardados os itens do acervo para mostras futuras ou já realizadas.
Impactos do Programa de Fortalecimento Institucional
Um dos desafios definidos pela equipe do Museu do Samba foi melhorar e ampliar as oportunidades de captação de recursos, que eram, em sua maioria, advindos de fontes públicas. Com esse propósito, foi contratado um profissional para escrever projetos e aplicá-los em editais. O resultado foi a aprovação de dois deles em editais da Light e Petrobrás (que assegurou investimentos na comunicação e na estratégia de marketing institucional).
Um segundo desafio dizia respeito ao maior engajamento dos conselheiros na execução dos programas, preparando-os para o processo sucessório da gestão. A instituição vem promovendo um maior compartilhamento de responsabilidades e a delegação de atividades. Também ampliou o número de membros do conselho consultivo e deliberativo.
No território, para ampliar alianças e parcerias – terceiro desafio previsto em seu plano de desenvolvimento, o museu deu início à criação do conselho comunitário. Para isso, mapeou as 26 organizações locais, que foram convidadas para uma reunião em que puderam expor suas dificuldades. O diálogo mostrou desafios comuns, como a falta de engajamento de jovens, e reforçou o desejo coletivo de trabalhar em rede.
A atuação nas escolas públicas da região também se fortaleceu com a oferta de reforço escolar e incentivo à leitura, para estudantes do Ensino Fundamental e Médio, criando-se uma dinâmica em que a escola encaminha alunos para as atividades no Museu do Samba. Outra iniciativa focada na comunidade foi a constituição de uma biblioteca referência sobre a cultura afro.
Para estudantes que querem prestar o Enem e outros vestibulares, o museu oferece o curso pré-vestibular popular Dona Zica, que atende a cerca de 70 jovens, nas modalidades virtual e presencial. Além das disciplinas clássicas, os participantes têm aulas sobre a história do samba. O projeto é apadrinhado pela atriz Fernanda Montenegro e tem a artista Pipa Brasey como embaixadora.
Outro resultado da participação no programa foi o fortalecimento da perspectiva de legado e consolidação do trabalho que o museu realiza na comunidade há anos, por meio da ampliação da rede de parceiros, como a prefeitura do Rio de Janeiro, para influenciar e fortalecer políticas públicas.
Um desafio é o número insuficiente de pessoas trabalhando no museu. Algumas ações levam mais tempo para acontecer, como o treinamento da equipe, objetivo que está nos planos da instituição. A meta para 2023 é receber mais visitantes e melhorar a comunicação e o marketing institucional.
“Um aprendizado importante foi praticar a gestão compartilhada. Resistir a não ‘fazer tudo’ e compartilhar. Enfrentar alguns riscos, como contratar uma pessoa para a equipe de captação, delegar este foco. Ter a ousadia de contratar para poder delegar. Foi um aprendizado e valeu a pena.”
Nilcemar Nogueira, Coordenadora de Projetos