Escola promove há mais de uma década trabalho curricular sobre cultura afro-brasileira e indígena
Diretor e professor relatam como o sistema fortaleceu ações da escola no combate ao preconceito e à desigualdade racial
Há mais de uma década, a Escola de Ensino Médio Maria Conceição de Araújo, localizada em Acaraú (CE), desenvolve ações de equidade racial para sua comunidade escolar. A principal delas é a “Caravana da Cultura Afro-brasileira e Indígena”, realizada desde 2011. Iniciada em quatro escolas, a Caravana está agora em sua 13ª edição e, desde 2016, conta com o apoio da Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede) de Acaraú, alcançando todas as oito escolas da região.
A iniciativa consiste na realização de oficinas ao longo do ano letivo para abordar temas como as matrizes africanas e indígenas, além de estimular a participação dos jovens na construção de uma sociedade mais justa e equitativa. “Começamos as Caravanas em 2011 com o objetivo de fazer com que os estudantes fossem os protagonistas da ideia. Estávamos incomodados com aquela visão folclórica do dia 20 de novembro, em que havia apenas alguns movimentos tímidos dentro das escolas”, lembra Cristiano Lima, que participou da criação da Caravana da Cultura Afro-brasileira e Indígena em 2011.
O projeto recebe o nome de “caravana” porque é realizado por meio de trocas de apresentações entre escolas da mesma região. Para sua realização, os organizadores propõem temáticas aos estudantes, que recebem uma formação inicial sobre equidade racial e depois desenvolvem seus projetos em temas como resistência dos povos escravizados negros e indígenas, sincretismo religioso e história da luta contra a escravização no Ceará.
Após o desenvolvimento dos projetos, que podem variar desde trabalhos acadêmicos até apresentações de teatro de sombras, os resultados são apresentados aos colegas e, em seguida, levados a outras escolas para trocas de experiências.
“Quando o estudante ouve a proposta e vê o projeto sendo desenvolvido por outros estudantes, isso faz diferença; uma coisa é o educador falar, outra coisa é um estudante falar para o outro, na linguagem deles”, explica Cristiano.
Articulação intersetorial para enfrentar o racismo
Embora a EEM Maria Conceição de Araújo já apresentasse histórico de atuação nessa área, o diretor Paulo Fhillipe de Oliveira Alencar via a necessidade de ampliar essas atividades, o que foi possível com a implementação do Sistema de Gestão para a Equidade Racial, iniciado no segundo semestre de 2022. O projeto, criado pelo Instituto Unibanco para a Secretaria de Educação do Ceará (Seduc-CE), permite que a escola realize uma autoavaliação minuciosa para verificar o nível de suas ações em prol da equidade racial, ao mesmo tempo em que recebe orientações sobre possíveis atividades que podem ser realizadas para aprimorar ainda mais sua atuação nessa área.
“O sistema trouxe importantes benefícios para a escola, como a sistematização dos processos e a corresponsabilização de professores e equipes”, conta o diretor.
“Além disso, ele revelou lacunas que precisavam ser trabalhadas, como o feedback aos estudantes em casos de bullying e preconceito racial”, explica.
Uma história compartilhada pelo diretor mostra a importância também da articulação da escola com outras políticas para resolver problemas complexos, como os relacionados ao racismo. “Em 2022, houve um caso de injúria racial envolvendo um aluno do 2º ano do Ensino Médio. A escola tomou medidas legais e acionou órgãos governamentais e parceiros externos, como o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), para realizar um ajuste de conduta entre a família do aluno ofensor e a vítima. Essa ação mostrou a importância de buscar apoio externo para lidar com situações de desigualdade e preconceito”, relata Paulo.
Cristiano Lima dá aulas na Maria Conceição de Araújo há mais de 10 anos e atualmente atua como professor de História, Sociologia e como Professor Diretor de Turma (PPDT). Ele relata que a implementação do sistema na escola também trouxe outros avanços, como a expansão das ações para além das disciplinas de Humanas e a participação de mais professores no diálogo com os estudantes. A escola continua empenhada em promover uma sociedade mais justa e igualitária, buscando parcerias com entidades externas para fortalecer seu trabalho e lutando por um espaço físico exclusivo para as ações de equidade e diversidade.