O Instituto Unibanco realizou no dia 12 de agosto, Dia Internacional da Juventude, o webinário Desafios de estudar na pandemia, terceiro encontro do Ciclo de Webinários: Gestão da Educação Pública em Tempos de Crise. Para o debate, foram convidados seis estudantes da rede pública de ensino dos estados parceiros no programa Jovem de Futuro:  Matheus Bezerra Silva, da Escola de Ensino Médio Fenelón Rodrigues Pinheiro (CE); Emily Araújo da Silva, da Escola Estadual de Ensino Médio Gomes Cardim (ES); Eva Cristina Bragança Abreu, do Centro de Educação em Período Integral Dom Veloso (GO); Gabriel Vigilaeo de Freitas, da Escola Estadual Presidente Itamar Franco (MG); Andreia da Costa Ferreira, do Centro de Ensino de Tempo Integral Didácio Silva (PI) e Johab Fidélix, da Escola Isabel Barbosa Vieira (RN).

Com transmissão ao vivo pelo canal do YouTube, o evento foi apresentado por Maria Julia Azevedo, gerente de implementação de projetos do Instituto, com comentários de Gabriel Medina, gestor de implementação da organização. Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto, ficou responsável pela abertura do encontro, quando cumprimentou os estudantes e descreveu que, entre os muitos desafios em decorrência da pandemia, estão a dor daqueles que perderam seus entes, o medo de contrair a doença na família, a enorme diferença de conectividade entre os estudantes – antes garantida pelo espaço da escola –, as questões de violência e a ausência de companheirismo, efeito do distanciamento dos colegas e educadores.

“Por tudo isso, se faz necessária à escola democrática, principalmente pública, uma escuta atenta e calibrada a esses jovens e aos desafios que estão enfrentando no dia a dia”, ponderou.

Ao iniciar o debate, Gabriel Medina destacou a importância do jovem como sujeito de seu processo de aprendizagem, uma diretriz do Novo Ensino Médio, e celebrou algumas conquistas para esse grupo. Entre elas está a aprovação do Estatuto da Juventude, que completa sete anos em 2020 e reúne os direitos dos jovens, além dos princípios das políticas públicas de juventude no Brasil. Na sequência, o gestor passou a palavra aos estudantes.

Andreia da Costa Ferreira, aluna do terceiro ano do ensino médio da rede de ensino do Piauí, abriu o primeiro bloco relatando sua dificuldade em acessar a internet por morar em área rural. Com a falta de aparelhos eletrônicos que viabilizassem o acesso às aulas, a dificuldade se tornou ainda maior:

“eu e minha irmã só tínhamos um aparelho eletrônico em casa e minhas aulas eram em tempo integral no início da pandemia. Tivemos que pedir para a escola a diminuição da quantidade de atividades e da carga horária, além de criar um planejamento para que eu estudasse pela manhã com o aparelho e ela, à tarde”, conta.

O planejamento também foi um desafio para Eva Abreu, estudante do segundo ano do ensino médio da rede estadual de Goiás. Para ela, é difícil administrar o tempo no ensino integral remoto.

“Eu estudo online das 7h às 16h, com uma hora de almoço, e isso é muito cansativo. Mas sei que há pessoas que não têm acesso à internet e recebem os materiais impressos em casa. Acho isso um incentivo bacana para não desmotivar a pessoa”.

Já Matheus Bezerra, do terceiro ano do ensino médio no Ceará, precisou conciliar os estudos com uma carga horária de trabalho duplicada durante a pandemia, já que muitos funcionários no local onde trabalha foram afastados por contraírem a Covid-19. O estudante também divide o tempo de estudo com os afazeres de presidente do Grêmio Estudantil, onde tem a missão de combater a evasão escolar.

“Desenvolvemos uma rede de apadrinhamento onde cada gremista acompanha um grupo de alunos, auxiliando tanto o professor diretor de turma, como as lideranças estudantis. É desafiador, mas estamos tentando conciliar nossos estudos em meio a tudo isso”, descreve.

No segundo bloco, Johab Fidélix, estudante da rede de ensino do Rio Grande do Norte, contou que um dos desafios do ensino remoto é manter as expectativas positivas para o ENEM.

“Não ter aulas presenciais dificultou muito estudar para a prova. Mesmo com a possibilidade de falar com o professor a qualquer momento pela internet, não é a mesma coisa que uma aula presencial”, descreve.

Gabriel de Freitas, do terceiro ano do ensino médio da rede estadual de Minas Gerais, por sua vez, enfrenta impasses semelhantes ao de Johab, e apontou que a falta de motivação para estudar diante de tantas notícias ruins sobre a pandemia só foi vencida com afeto, empatia e mais disciplina.

“Foi difícil criar um método de estudo, porque eu não sentia vontade de estudar como no ensino presencial. Mas com empatia e apoio passei a estudar por metas, definindo disciplinas a cada dia, assim como era no presencial. E consegui o empurrãozinho que eu precisava”, compartilha.

Para Emily Araújo da Silva, da rede estadual do Espírito Santo, o desafio ultrapassou o universo escolar, pois, além dos estudos, a jovem é responsável pelos cuidados diários em casa e por cuidar da irmã mais nova. Apesar da conexão instável durante sua fala, Emily pôde contar um pouco sobre esses desafios.

“Tem sido bem difícil para mim, porque eu tenho que conciliar os meus estudos com os da minha irmã mais nova, que estuda pelo livro. E fica bem difícil estudar, pela conectividade, e conseguir ajudá-la”.

Os estudantes ainda elencaram os elementos do espaço escolar que mais sentem falta e pontuaram a importância da rede de afeto entre as pessoas, as aulas presenciais e os trabalhos em grupo. Ao finalizar, Gabriel Medina ponderou “muitas desigualdades se intensificaram na pandemia, mas é importante olhar para elas a partir da perspectiva de raça, gênero, deficiência e território, pois esses jovens precisam ter estratégias específicas que possam garantir o seu direito à educação”, completou.

A íntegra do webinário está disponível em https://youtu.be/PPr9YuDRFjc

Ciclo de Webinários: Gestão da Educação Pública em Tempos de Crise

Desafios de estudar na pandemia integra o Ciclo de Webinários: Gestão da Educação Pública em Tempos de Crise. Realizada em seis encontros, de 29 de julho a 9 de setembro, a iniciativa busca contribuir para a ampliação de repertórios sobre gestão em educação no contexto da COVID-19, além do debate de temas transversais, como o enfrentamento às desigualdades étnico-raciais. Os encontros, que contam com o apoio das Secretarias de Educação dos estados parceiros do Instituto Unibanco no programa Jovem de Futuro (Ceará, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Piauí e Rio Grande do Norte), serão transmitidos semanalmente pelo canal do Instituto Youtube, às quartas-feiras, a partir das 16h. Para conferir a programação, acesse https://bit.ly/2EPvVkM