Evento promovido pelo GIFE reuniu especialistas para debater demandas sociais e econômicas urgentes

A prática filantrópica para pessoas e organizações negras e a importância da equidade racial no investimento social foram temas de mais uma edição do “Mês da Filantropia Negra”, promovida pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) no dia 4 de agosto, na sede do Instituto Unibanco. É o segundo ano consecutivo que o evento ocorre no Brasil. Desta vez, o tema “Força – A urgência do agora! Do sonho à ação”, disseminou reflexões e conhecimentos sobre toda a diversidade da comunidade negra, considerando gênero e nacionalidades, além de destacar os líderes da diáspora africana.

Instituto Unibanco recebe edição do “Mês da Filantropia Negra”

A ocasião também marcou o lançamento do Estudo sobre Filantropia Negra Global (“Global Black Funding Equity Index”), ação pioneira que pretende fazer um levantamento sobre a filantropia negra no mundo, e do Prêmio da Filantropia Negra Global, que reconhecerá organizações, associações e investidores que melhor representem os 10 Princípios Globais da Filantropia Negra.

A abertura do evento contou com a apresentação da atriz, pesquisadora, produtora cultural e poeta Roberta Estrela D’Alva. Em seguida, Ricardo Henriques, economista e superintendente-executivo do Instituto Unibanco, e Cassio França, secretário geral do GIFE, agradeceram a participação de todos.

A programação teve sequência com a palestra de Aline Odara, diretora-executiva do Fundo Agbara. Em pauta, o tema “A filantropia negra do século XXI: os aprendizados do passado e os desafios do hoje”. Na sequência, Luana Génot, diretora-executiva do instituto Identidades do Brasil, mediou o painel “Experiências brasileiras de Filantropia Negra”, que reuniu Selma Dealdina, da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos; Giovanni Harvey, diretor-executivo do Fundo Baobá; e Helena Theodoro, presidente do fundo colaborativo ELAS+.

Ao iniciar o bate-papo, Génot lembrou da que é preciso dizer “sim” todos os dias à igualdade racial, embora o espaço dos negros, histórico, que vem de longe, ainda não seja devidamente reconhecido.

“A igualdade racial é minha causa. É um pacto diário pelo apoio de instituições negras e indígenas para seguir adiante. E todos podem ajudar. Vai além do financeiro. O que a gente não financia passa a não ser prioritário para a política. Por isso, também é importante participar do censo, que começa em agosto, e atuar no direcionamento de fundos e na distribuição de recursos”, disse.

A diretora emendou sobre a necessidade do diálogo e entendimento, principalmente para instituições brancas que comandam o capital. “É importante lembrar que, ao ajudar, elas não prestam favor. Na verdade, estão se fazendo favor para construir um Brasil mais justo, que cresça, e que todos podem ganhar”, afirmou. Por fim, Génot sugeriu ao GIFE desenvolver um monitoramento com informações concentradas sobre investimento social-privado às instituições negras com foco na defesa de pautas antirracistas.

“Seria um pacto pelos dados em prol da igualdade racial”, resumiu.

Protagonismo supervisionado

Selma Dealdina lembrou que comunidades negras e indígenas são as mais atingidas economicamente e no quesito sanitário nos períodos de crise, como na pandemia. Para ela, o fortalecimento desses direitos passa pela definição de demandas urgentes e análises a longo prazo. “Fui pesquisar o termo filantropia. Achei termos como amor à humanidade, generosidade e empatia como alguns significados, mas onde que nós, quilombolas, da pauta negra, do campo, da floresta, entramos neste negócio? A filantropia tem uma tutela dada pelas entidades brancas, que controla e supervisiona o nosso protagonismo”, destacou. Ela também alertou para a repetição do contexto urbano nas discussões.

“Esquecem do contexto e conceito de negros no campo, na água e na floresta. Temos que unificar discurso para além da cidade”, emendou.

Giovanni Harvey, por sua vez, demonstrou preocupação na qualificação desses investimentos para solucionar questões estruturais. “Filantropia é diferente de justiça social. O ato de doar também pode ser encarado como uma ferramenta de manutenção do status quo ou um instrumento para amortecer tensões sociais. Queremos uma missão para criar condições, gerar visibilidade para demandas sociais, que foram invisibilizadas historicamente. Importante que todos os agentes busquem estudar mais para qualificar o investimento, para que, de fato, possa resultar em mudanças das relações de poder. É uma agenda de trabalho de décadas, que precisamos discutir abertamente para pactuar o que fazer para superara as dificuldades étnico raciais”, resumiu.

Neste contexto, Helena Theodoro analisou que a filantropia deva ser pautada no amor, como ocorre na relação quilombola. “É enxergar que o próximo tem os mesmos direitos que você. E que a justiça social tem que ser vista com o sentido de estabelecer primeiro que todos precisam ter o direito de comer três vezes por dia, de ter um teto. Somos o território em que vivemos. Ouvindo, inclusive, o que o outro coloca que deve ser feito para resolver os seus problemas. O autoritarismo apoiar, mas condicionando a algo, se você atuar da maneira x, mostra para o outro que ele é incapaz de resolver e buscar soluções, que precisa de alguém para resolver”.

O “Mês da Filantropia Negra” (Black Philanthropy Month – BPM) é um movimento iniciado nos EUA em 2011, fundado pela Dra. Jacqueline (“Jackie”) Copeland (The WISE Fund), com o objetivo de investir em ações concretas para a inclusão social de pessoas negras. No Brasil, tem o apoio do Instituto Unibanco e do Fundo Baobá. O evento mobiliza aproximadamente 17 milhões de pessoas ao redor do mundo, em mais de 40 países. Nas edições de 2020 e 2021, foram mais de 1,5 mil participantes de 30 países ao longo de todo o mês, além do engajamento de mais de 1 milhão de pessoas via mídias sociais.