Ministro da Educação abre a programação do segundo dia do Seminário Internacional sobre gestão escolar
Uma conferência do ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, foi o grande destaque do segundo dia da programação do Seminário Internacional “Caminhos para a qualidade da educação pública: Gestão Escolar”, realizado nesta quinta (3) em São Paulo. O evento é uma iniciativa do Instituto Unibanco em parceria com a Folha de S.Paulo, com apoio do Insper.
Assim como já anunciado ontem (2) pelo secretário de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), Manuel Palácios, o ministro da Educação também mencionou o lançamento do Programa de Formação e Capacitação de Diretores. Dentre as várias competências que o Programa pretende trabalhar, Ribeiro destacou três delas.
“Primeiro, queremos que um diretor seja capaz de compreender os dados gerados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), que mostram um retrato da educação com uma sofisticação imensa. É essencial que o gestor seja capaz de compreender o que as avaliações apontam, entender quais os pontos fortes e fracos apontam em cada município, escola e rede”, explicou.
A segunda competência é saber administrar conflitos e a terceira, saber organizar equipes. “Na gestão da escola, está se lidando com seres humanos que têm o direito, e devem, reagir. Essa é uma extraordinária mudança na educação nas últimas décadas. Assim como entendemos que o aluno não é uma tábula rasa”, comparou.
Janine também destacou a importância da escola enquanto espaço decisivo na vida de todos. “É um espaço que cobre 30% da vida das pessoas, em um período definitivo porque são anos de formação”, ressaltou. Por fim, encerrou sua apresentação abordando a questão da desigualdade. “Estarmos em um país que foi marcado pela construção meticulosa da desigualdade ao longo de quase 500 anos significa desmontar essa estrutura iníqua exige o mesmo trabalho. Não se constrói a justiça facilmente”, observou. “É preciso ter a ambição de um país em que todos tenham a igualdade de oportunidades”, finalizou.
Na sequência, o superintendente do Instituto Unibanco lançou o Edital Elas nas Exatas, iniciativa da instituição em parceria com o Fundo Elas e a Fundação Carlos Chagas. “O edital tem o propósito de refletir acerca de propostas e soluções concretas nas escolas para aumentar a probabilidade das jovens fazerem sua trajetória profissional visando às áreas das exatas e ciências”, disse Ricardo Henriques. “As meninas terminam o Ensino Fundamental muito acima dos meninos em matemática, mas ao longo do Ensino Médio a distância das notas vai se reduzindo. Queremos descobrir o que uma gestão orientada para os resultados pode fazer nesse caso específico da desigualdade de gênero na educação”, concluiu.
A importância das evidências na educação
A primeira mesa do segundo dia do Seminário foi integrada por Anthony McNamara, associado internacional do National College for Teaching and Leadership, da diretora sênior para Educação do Banco Mundial, Claudia Costin e do presidente do Inep, Francisco Soares.
McNamara, cuja instituição atua com foco na formação de lideranças escolares, comentou a dificuldade enfrentada pelo sistema inglês em atrair e reter bons gestores e apontou a carga excessiva de trabalho e a inspeção opressiva como os dois principais fatores explicativos.
Por conta dessas questões, há um forte movimento de busca de “abordagens alternativas de prestação de contas que são rigorosos mas enaltecem a confiança dos gestores”.
Claudia Costin destacou em sua fala dados relativos ao acesso e à proficiência dos estudantes no Brasil, apontando avanços e desafios a serem enfrentado pela País. Para a especialista, é preciso criar um pacto nacional pela educação, que dê um “sentido de urgência” necessário ao salto na qualidade da educação que precisamos. Também apontou a necessidade de mudar a formação e a seleção de professores, relatando que quando foi a secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro, incluiu uma avaliação didática nos concursos para docentes. Ressaltou ainda a importância de envolver os professores na política educacional. “Não se transforma a educação contra os professores, mas sim com eles”, pontuou.
Já o professor Francisco Soares, enquanto presidente de uma instituição voltada à produção de dados educacionais e especialista na área, enfatizou a relevância de se trabalhar as políticas com base em evidências. Soares afirmou que o Inep possui uma base de dados valiosa: “Temos a trajetória de todos os alunos matriculados na rede pública desde 2007, mas ainda não utilizamos essa informação”, lamentou.
O presidente do Inep também comentou que até então o debate sobre resultados educacionais era inexistente na escola. “Hoje quando falamos de qualidade, falamos sim do resultado, que deve se dar na escola em condições adequadas para isso”, afirmou.
Soares dedicou a parte final de sua apresentação ao tema da gestão democrática, já que no próximo ano o MEC deve enviar ao Congresso uma proposta de lei regulamentando a questão. O professor elencou os diversos dispositivos constitucionais que determinam a sua instituição, mas não a definem com clareza.
Na sua visão, o conceito de gestão democrática deve contemplar três pontos: a garantia de direitos (que “normalmente não aparece nas definições sobre o tema”), a gestão participativa e a transparência. Sobre o último aspecto, ressaltou: “Na Educação temos muitos conselhos, mas não temos controle social. As informações têm que ser divulgadas e devem impactar as decisões”, ponderou.
Reflexões do público
Na atividade final da programação do Seminário, a gerente de Gestão do Conhecimento do Instituto Unibanco, Mirela de Carvalho, apresentou a sistematização das reflexões e questões elaboradas pelo público nos grupos de discussão realizados na tarde de ontem (2).
Um ponto em comum entre os sistemas apresentados (Austrália, Inglaterra e Ontário) levantado pelo público foi a preocupação com a equidade. Mary Jean Gallagher, vice-ministra de Educação de Ontário, Michael Wilshaw, chefe de Inspeções do Office for Standards in Education (Ofsted), Reino Unido, e Barry McGaw, ex-Presidente do Conselho da Australian Curriculum, Assessment and Reporting Authority (ACARA), da Austrália, responderam a dúvidas levantadas pelo público sobre currículo, meritocracia, participação das famílias, autonomia, entre outros. Daniel Cara, presidente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, também participou do debate, comentando e complementando as questões sistematizadas.
Cara propôs uma reflexão sobre o contexto nacional, sugerindo uma comparação entre o que está previsto nas leis em relação a alguns desses temas e o que o os gestores efetivamente vivenciam em seu cotidiano. “Qual o grau de distância entre estas realidades?”, indagou.
Sobre currículo, Mary contou que o de Ontario foi resultado de um processo amplamente participativo. “Fizemos um amplo processo de consulta pública perguntando para as pessoas o que elas acham que as crianças precisam aprender para se formarem cidadãos competentes e profissionais bem-sucedidos”, relatou.
Wilshaw falou sobre a meritocracia na Inglaterra. “Queremos dar a melhor educação para cada criança. Para isso, precisamos formar, incentivar e reconhecer os melhores profissionais que estão alcançando os melhores resultados”.
No encerramento da mesa, Barry McGaw agradeceu a oportunidade de participar do evento e comentou que já é a quinta vez que vem ao País. “O Brasil está avançado na discussão e no desenvolvimento do currículo. Adoraria ser um educador brasileiro se eu falasse português”.
Em sua fala de conclusão do evento, Ricardo Henriques comemorou o sucesso de público do evento (mais de 500 pessoas no primeiro dia e mais de 400 no segundo), que sinaliza, na sua avaliação, “um crescente interesse pelo tema da gestão escolar”.
Henriques destacou ainda que o Seminário inaugura uma agenda de debates do Instituto Unibanco sobre gestão e currículo, que se baseia em um posicionamento da instituição em aliar teoria e prática. “Acreditamos em evidências empíricas informadas pelo rigor técnico. Nós podemos promover essas discussões porque temos essas parcerias com os estados que estão aqui. É a partir dessa agenda transformadora e real que várias das questões colocadas aqui podem ser problematizadas com a densidade que temos hoje”.
