Pluralidade de vozes e perspectivas marcam segundo dia do Seminário
Como as redes estaduais estão se preparando para a reestruturação do Ensino Médio, as experiências internacionais de reorganização dessa etapa e qual o papel da educação técnica e profissional dentro da nova proposta foram os temas do segundo e último dia do Seminário Desafios Curriculares do Ensino Médio: implementação e flexibilização. O evento, organizado pelo Instituto Unibanco, reuniu secretários de Educação, técnicos das redes estaduais, diretores, especialistas, entre outros.
A diversificação dos itinerários traz uma série de desafios para as redes, conforme destacaram os secretários estaduais na primeira mesa do dia. No caso do Pará, por exemplo, a questão do acesso às escolas é central. “Temos municípios que para acessar demoramos três dias de barco”, relatou a secretária Ana Claudia Hage. Uma outra dificuldade que o estado deve enfrentar é a organização da rede para oferta de itinerários diversificados, dado que mais de um terço (57) dos 154 municípios possuem apenas uma escola.
No caso do Rio Grande do Norte, esse contexto da rede é ainda mais desafiador, dado que 135 dos 167 municípios tem apenas uma escola. “Isso já sinaliza a dificuldade de se pensar em logística e em uma proposta pedagógica”, observou a secretária de Educação do estado, Claudia Santa Rosa. “Por isso, o mapeamento das escolas por territórios é fundamental”.
Os gestores também destacaram que a implementação da flexibilização só será efetiva com a escuta das equipes escolares e dos jovens. “A educação não ocorre em gabinete, mas no chão da escola. Temos que encontrar um caminho para que as escolas participem desse processo”, salientou o secretário de Educação de Pernambuco, Fred Amancio.
“Não dá pra desenhar um currículo que não leve em conta as manifestações [dos estudantes]. Tem muitas pesquisas, os meninos estão falando no facebook, nas redes sociais… Precisamos aproveitar isso para trazer os jovens, entender como ele pensa, age e faz a política”, pontuou o secretário de Educação do Espírito Santo, Haroldo Rocha.
Experiências internacionais
Experiências internacionais também tiveram espaço na programação e trouxeram referências de outros contextos que enriqueceram o debate. Daniel Franco, do Ministério do México, falou sobre a reforma educacional em curso no país há quatro anos. “Temos que pensar em serviços que aproveitem tecnologias de comunicação com modelos pedagógicos distintos que sejam atrativos aos jovens”, observou.
Ele também enfatizou a importância dos programas de mentoria para redução das desigualdades escolares. “Qualquer esforço de promoção da equidade vai implicar que se abram espaços, que haja um trabalho de mentoria para que os jovens de baixa aprendizagem alcancem os que estão em melhor nível”, ressaltou.
Veronica Labra, da Secretaria Executiva de Desenvolvimento Curricular do Ministério de Educação do Chile, apresentou uma síntese das diversas mudanças realizadas no currículo chileno e dos aprendizados. O último documento produzido, intitulado “Política de desenvolvimento curricular”, traz recomendações como “o currículo tem que definir o central da aprendizagem” e “dar espaço para flexibilização e contextualização curricular”. Ela enfatizou ainda que “o processo participativo permitiu organizar uma proposta que faz sentido aos alunos”.
Ensino profissional
Previsto como um dos cinco itinerários formativos na lei 13.415, o ensino técnico e profissional foi tema de um dos painéis desse segundo dia de seminário. “Nos países da OCDE, cerca de 50% dos alunos cursam o ensino médio e profissional juntos. No Brasil, apenas 9,3%”, comparou o diretor do Senai-DN, Gustavo Leal. “No âmbito do Sesi e do Senai, essa reforma traz a oportunidade pra avançar na oferta de educação profissional de qualidade pra juventude brasileira”, analisou.
Já o professor do Instituto Federal de Brasília, Marcelo Feres, ressaltou a importância de se incorporar a dimensão do trabalho ao currículo do Ensino Médio, trabalhando a questão vocacional e buscando estabelecer parcerias com o setor produtivo e as escolas técnicas.
A professora do Insper, Carolina da Costa, apresentou resultado de estudo abrangente realizado junto às empresas nos Estados Unidos que apontaram como habilidades essenciais para o mercado de trabalho o aprender a aprender, a resolução de problemas, o design e o trabalho em equipe. “Essas habilidades podem estar na base comum e não só no itinerário do ensino profissional”, observou.
No encerramento do encontro, o superintendente executivo do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, destacou o diálogo como marca da instituição e que se expressa de forma mais intensa nesses eventos. “O Instituto Unibanco é um espaço democrático, que traz o contraditório como base da reflexão para buscar caminhos”, reforçou. “Respeitar as diferenças e a capacidade de construir diálogo são valores ainda maiores em tempos de intolerância”, observou.
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