Segundo dia do Seminário do Instituto Unibanco aborda futuro do uso de dados na gestão pedagógica
Debates destacaram ainda como temas o futuro das avaliações educacionais e a inteligência artificial no processo de ensino e aprendizagem
As discussões do segundo dia do “IV Seminário Internacional de Gestão Educacional” trouxeram reflexões que conectaram o uso atual de dados e evidências na gestão pedagógica e as expectativas e caminhos para esse uso no futuro. O evento foi realizado pelo Instituto Unibanco nos dias 19 e 20 de junho no Cine Marquise, em São Paulo.

Na parte da manhã, o primeiro debate abordou o modo como os dados e as evidências vêm gerando e provocando mudanças na maneira como redes, escolas e profissionais desenvolvem as atividades pedagógicas. Moderada por Tiago Borba, gerente de Gestão Estratégica no Instituto Unibanco, a mesa teve a participação de Ana Cristina Oliveira (Unirio/Centro de Pesquisa Transdisciplinar em Educação – CPTE/Instituto Unibanco), Daniel Santos (Laboratório de Estudos e Pesquisa em Economia Social – Lepes/USP) e Marcelo Jerônimo (Secretaria Estadual da Educação do Rio Grande do Sul – Seduc-RS).
Para Jerônimo, subsecretário de Desenvolvimento da Educação do Rio Grande do Sul, a potência da conexão entre gestão pedagógica e uso de dados se dá a partir da reflexão: “Se fizermos a gestão pedagógica pública sem ter os dados, não vai funcionar. E o dado sozinho também não basta. Para usarmos estes dados de forma eficaz, é preciso ter consciência de sua necessidade e embasá-la em políticas públicas que farão sentido para a realidade daquela rede”. Já Daniel Santos afirmou: “Quando a gente se responsabiliza pelo resultado final, passamos a demandar por evidências”.
Em seguida, foi a vez de um conjunto de gestores de diferentes redes compartilharem suas experiências na gestão pedagógica. Alessandra Oliveira de Almeida, diretora pedagógica da Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc-GO), falou sobre a aplicação do uso de dados na rede de Goiás, que revelaram os impactos da pandemia de Covid-19 na educação da região. Segundo ela, “a cultura de uso de dados permitiu um diagnóstico preciso sobre a perda de aprendizagem durante o período da pandemia. Os dados e indicadores reunidos em um business intelligence (BI) – que combina, entre outros elementos, infraestrutura de dados, visualização de dados e análises servem como uma boa base para as escolas estarem atentas aos objetivos anuais e quais ações serão utilizadas para atingi-los”.
Também participante da mesa, Vitor de Angelo, secretário da Educação do Espírito Santo, destacou que a evidência é o que dá a certeza da tomada de decisão acertada. “Às vezes, podemos nos aproximar das evidências como um conhecimento científico e nada mais. Quando trazemos isso para a gestão pública, as evidências produzem essa certeza”.
As discussões da parte da tarde falaram sobre os riscos e oportunidades das futuras avaliações educacionais, a partir das exposições de Francisco Soares, professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Jorge Lira, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Rafael Korman, da Data Wise.
Coube a Jorge Lira abordar os caminhos que o aprendizado desenha em matemática, destacando a importância de o professor acompanhar e compreender o raciocínio dos estudantes por trás de exercícios. “É importante o professor executar as tarefas junto com eles para compreender o raciocínio dos alunos na construção das respostas, sejam elas corretas ou não. Isso ajuda a realizar um diagnóstico com vista para o aprimoramento da aprendizagem”.

Dando sequência à mesa de discussão, Francisco Soares destacou a necessidade de avaliação de processos e resultados para fazer uma gestão pedagógica efetiva. “A primeira etapa da gestão pedagógica é definir as expectativas de aprendizagem para, em seguida, ser definida a pedagogia adequada. Somada a isso, a capacitação dos docentes é um componente essencial antes de chegarmos ao ensino efetivo dos alunos”.
A última mesa mergulhou num assunto candente: o uso da inteligência artificial, da ciência de dados e os rumos da educação. Para Alessandra Debone, pesquisadora do Núcleo de Excelência em Tecnologias Sociais (NEES) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), existe um abismo grande entre a identificação dos problemas que existem na educação e a chegada às suas respectivas soluções.
Já Lucia Santaella, professora titular da PUC-SP, fez um manifesto traçando as mudanças culturais, educacionais e midiáticas a partir do surgimento das tecnologias, em especial, a internet e as redes sociais. “Nesse contexto atual, no qual o mundo se desloca da digitalização para a dataficação, o texto escrito e a aprendizagem passada de professor para aluno resistiu e segue sendo um modelo primordial no processo educacional”.
Luciano Meira, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), destacou a importância do relacionamento entre professor e aluno diante do cenário atual: “O relacionamento afetivo e intelectual entre professores e estudantes deve estar no centro das discussões e é preciso estabelecer uma engenharia social que ajude o educador a ter controle e capacitação sobre quem usa, como usa e em qual contexto deve usar a IA com responsabilidade”.
Na fala de encerramento, Ricardo Henriques, superintendente-executivo do Instituto Unibanco, lembrou que, como sociedade e educadores, ainda estamos longe da nossa ambição, “mas, talvez, uma das chaves para isso seja não só uma gestão pedagógica transformadora, mas também uma liderança competente e transformadora que acione professoras e professores em busca dessa visão”.
“O que nós estamos o tempo todo discutindo é como podemos seguir completamente compromissados com o desenvolvimento das capacidades estatais que são necessárias nessa visão mais madura, de enfrentamento de um ambiente extremamente complexo, com histórico marcado por um nível multidimensional de exclusão. Ao mesmo tempo, esse processo contínuo de profissionalização vai ao encontro da gente conseguir fazer mudanças estruturais”, afirmou Henriques.
Quer saber como foi o primeiro dia do Seminário, leia o texto “Importância das informações confiáveis para a educação marca primeiro dia do seminário do Instituto Unibanco”.