Estratégias para uma boa gestão das relações humanas e sociais nas Secretarias
Nessa postagem, abordaremos um dos processos de gestão de RH mais desafiadores em tempos de Covid-19. A gestão das relações humanas e sociais se refere à administração das relações entre a Secretaria e seus(suas) servidores(as), em tudo o que diz respeito a suas dimensões coletivas. A seguir, elencamos algumas das principais estratégias com foco nessa dimensão:
Melhorar o clima organizacional utilizando bons canais de comunicação
O primeiro tema importante para pensarmos esta relação entre a organização e o seu corpo de servidores(as) é a gestão do clima organizacional. Ela envolve o estabelecimento de canais claros de comunicação entre a organização e os(as) profissionais. A natureza hierárquica do serviço público faz com que estejamos acostumados(as) a enxergar esses canais como estruturas que funcionam de cima pra baixo e de maneira bastante formal. Ou seja, apenas como meios de assegurar que as diretrizes organizacionais sejam devidamente transmitidas e que todas e todos estejam cientes delas.
No entanto, é importante que a comunicação seja pensada como uma via de mão dupla. É fundamental estabelecer canais claros para que servidores(as) se sintam ouvidos(as) e possam comunicar os dilemas e desafios encontrados no exercício do trabalho, inclusive situações de assédio ou violação de direitos.
Esta comunicação de baixo para cima deve ser pensada em múltiplos níveis, abrangendo canais diretos com a equipe central de RH, mas também com as chefias imediatas. Neste sentido, ressaltamos o papel de diretores(as) de escola enquanto gestores(as) de pessoas, que devem ser sensibilizados(as) e capacitados(as) para lidar com aspectos socioemocionais de sua equipe.
A implementação de canais de diálogo é uma das maneiras da área de gestão de pessoas contribuir para a satisfação e motivação dos(as) profissionais. Mas este é um desafio que não se esgota aí. Uma atuação proativa do setor de gestão de pessoas deve buscar estratégias para mitigar o impacto da situação atual sobre a motivação e o engajamento. Ter um contato mais próximo com as equipes pode ajudar a desenhar linhas de ação para melhorar as condições de trabalho.
A literatura internacional demonstra que, para além de questões remuneratórias, sentir-se engajado(a) em um projeto educacional e pedagógico claro e consistente e que transmita um senso de missão e de orgulho é um dos fatores mais importantes para garantir a motivação de docentes e demais profissionais da educação. É necessário que professores(as) sejam ouvidos(as) e que suas considerações sejam levadas em conta na construção e implementação desse projeto.
Há diversas ferramentas gratuitas que podem ser utilizadas para esse fim, mesmo em períodos de trabalho remoto. É possível criar bate-papos on-line pelo Youtube ou por outras plataformas, por exemplo, convidando especialistas e pessoas da rede para discutirem problemas comuns da equipe. Outra sugestão é criar grupos específicos para acolhimento ou aprofundamento de questões levantadas pelos times – como luto ou saúde mental durante a pandemia. O Governo de Goiás, por exemplo, por meio de sua escola de governo, trabalhou com diferentes temas por meio de lives em seu Instagram.
Aprimorar as relações de trabalho através de mais transparência, colaboração e valorização dos(as) servidores(as)
Outro tema relacionado às relações humanas e sociais é a gestão das relações de trabalho, o que inclui a negociação coletiva da remuneração e das condições de trabalho e as relações com sindicatos e associações representativas do corpo docente. Sabemos que essas relações são, em geral, marcadas pelo embate, especialmente no contexto atual de forte restrição fiscal. No entanto, essas organizações têm um papel fundamental a cumprir, pois podem contribuir de forma muito significativa para melhorar a comunicação entre os(as) servidores(as) e a administração, além de contribuir com o desenho de políticas para melhorar o ambiente de trabalho.
No caso brasileiro temos como legislação nacional o Piso do Magistério, com critérios próprios de indexação. Porém, poderíamos pactuar localmente – no nível das redes estaduais de educação -, incentivos não monetários, como promover reconhecimento do trabalho de docentes pela própria comunidade escolar e por seus pares (por meio de premiações, por exemplo) ou investir em melhorias no ambiente de trabalho. Exemplos positivos são as criações de mesas permanentes de negociação. Elas permitem ter um espaço institucional de diálogo, trazendo previsibilidade e um espaço aberto e transparente de conexão com as organizações representativas.
Investir em políticas sociais como saúde ocupacional
Por fim, o terceiro tema incluído no grupo de processos de gestão das relações humanas são as políticas sociais. Elas abrangem as práticas que visam facilitar benefícios coletivos ou ajudar indivíduos e grupos que necessitem de maior apoio para desenvolver suas atividades profissionais, como pessoas com deficiência. Neste tema, merecem destaque as políticas de saúde ocupacional. Sabemos que a profissão de professor(a) pode ser bastante desafiadora, fator evidenciado pelos altos índices de problemas de saúde mental enfrentados pelo corpo docente. Alguns estados têm relatado o aumento dos pedidos de exoneração neste período desafiador de pandemia.
Para lidar com o adoecimento de professores(as), as redes têm adotado diferentes estratégias. De forma geral, o foco tem sido investir no acolhimento e no estabelecimento de critérios mais claros para o periciamento médico. Mas é importante iniciar um processo de diagnóstico mais profundo e atuar sobre as causas do adoecimento. Mais uma vez, um bom diagnóstico é fundamental para compreender os fatores que estão por trás deste problema. Uma vez feito esse trabalho, a área de gestão de pessoas pode contribuir para o desenho de políticas que possam atacar as raízes do problema, e não apenas o seu sintoma.
Assim como nos casos anteriores, articular a sua rede pode ser um ativo importante para trabalhar com esse tema. Na sua Secretaria de Educação, certamente há especialistas em temas como acolhimento psicológico, apenas para citar um exemplo. Articulá-los(as) de forma a endereçar eventuais problemas dos times pode ser poderoso.
Enfim, ações de prevenção e saúde laboral podem aumentar o engajamento e saúde das equipes de diversas formas, por meio de atividades lúdicas, periódicas e de baixo custo para a Secretaria.
* Este post faz parte da série Gestão estratégica de pessoas na educação no contexto da pandemia. A ideia é mobilizar repertórios sobre o tema em diversos formatos, como vídeos, enquetes, pequenos textos e imagens e apoiar as secretarias de Educação.