Papel do gestor no enfrentamento da evasão escolar
Em 2019, 7% da população entre 15 e 17 anos estava fora da escola, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD – 2019), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A evasão escolar vinha diminuindo desde 2014, mas com a pandemia de covid-19 houve uma piora significativa do quadro.
Além disso, se antes o grupo mais afetado eram os estudantes do Ensino Médio, a partir de 2020, devido ao tempo prolongado sem atividades presenciais, os mais novos foram os que mais abandonaram a escola. De acordo com o último censo escolar e dados da Unicef, no final de 2020 mais de 5 milhões de crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos estavam fora da escola. Desses, mais de 40% se encontravam na faixa dos 6 aos 10 anos, grupo etário no qual o acesso à educação era praticamente universal antes da covid-19.
As situações de abandono e evasão escolar, embora diferentes, refletem um processo contínuo. Isso porque o abandono é caracterizado pela infrequência ao longo do ano letivo, e a evasão pela não efetivação da matrícula para o ano seguinte. Portanto, a evasão não é um ato repentino, mas fruto de um processo lento de desengajamento do estudante.
Nesse contexto, o papel da gestão escolar é essencial, não somente para pensar em estratégias para aumentar o interesse dos alunos pelas atividades escolares, como também para propor soluções em relação ao engajamento deles com a própria realidade. Com a ajuda da gestão, os estudantes podem reconhecer o papel transformador da educação e sua função na construção de um futuro melhor. Na pandemia, com o distanciamento e a utilização dos meios remotos, acentuaram-se as desigualdades e os casos de evasão, reforçando a necessidade de atuação do gestor e de toda a comunidade escolar.
As principais causas da evasão escolar e propostas de solução
As causas da evasão escolar podem ser diversas, incluindo questões internas como interações negativas com professores, dificuldade de aprendizado, repetências, preconceito e questões emocionais presentes na adolescência, ou externas como necessidade de parar de estudar para trabalhar, problemas familiares e gravidez precoce. Nos primeiros casos, é importante tornar a escola mais interessante e atrativa para os alunos, enquanto nas questões externas, o que pode contribuir para manter o estudante no ambiente escolar depende não somente dos profissionais da educação, mas principalmente de ações governamentais e políticas de proteção social.
Quanto ao que cabe à gestão escolar, observar a infrequência para identificar os primeiros sinais do abandono é fundamental, uma vez que a agilidade nesse momento ajuda a evitar que o caso se transforme em evasão. Nesse sentido, a gestão deve recorrer a programas de prevenção e acolhimento, além de mobilizar a família e a comunidade como um todo para garantir a permanência dos estudantes.
Envolver outras instâncias, tais como secretarias e programas orientados por políticas públicas pode ser um apoio indispensável para lidar com a evasão. Um projeto interessante nesse cenário é o Busca Ativa Escolar, uma metodologia intersetorial de enfrentamento e prevenção ao abandono e evasão de crianças e adolescentes da Educação Básica, criado em parceria com as secretarias municipais de Educação, Saúde e Assistência Social. A ideia é formar gestores e educadores enquanto agentes comunitários que, além de monitorar estudantes em risco e abandono, podem ajudar a desenvolver estratégias coerentes com as realidades locais.
Nesse processo de busca ativa e enfrentamento da evasão escolar, a participação dos próprios estudantes é uma forma de atingir resultados, assim como a integração entre comunidade escolar e família. Um exemplo de aplicação do tema foi a ação de acolhimento que aconteceu na escola Vila Nova de Colares (Serra-ES), onde toda a equipe escolar, do diretor ao vigilante, recebe os estudantes calorosamente, criando dinâmicas entre funcionários e alunos, para criar um ambiente positivo e o sentimento de pertencimento. Com o apoio da família e o atendimento personalizado, os estudantes tornaram-se mais engajados, a evasão caiu a zero, e os resultados de aprendizagem melhoraram.
Quer saber mais sobre o tema? Confira dados completos de abandono e evasão na página de Análises Integradas do Observatório ou acesse o conteúdo Evasão escolar e abandono: um guia para entender esses conceitos. Você também pode conhecer outras ações no Banco de Soluções do Observatório da Educação, a plataforma do Instituto Unibanco que oferece diversos conteúdos sobre o Ensino Médio e a gestão em educação pública.