Desafios do acesso ao ensino superior no Brasil
Apenas 18,1% dos jovens de 18 a 24 anos estão matriculados em faculdades, de acordo com a 11ª edição do Mapa do Ensino Superior no Brasil, do Instituto Semesp. O que mostra que o ensino superior continua sendo de difícil acesso para os estudantes brasileiros. Apesar das pesquisas apontarem crescimento no número de ingressantes, ele ainda continua abaixo das metas do Plano Nacional de Educação (PNE).
Dentro desse contexto temos dois cenários, o do acesso à universidade e o da conclusão do curso superior, ambos prejudicados – especialmente para os alunos provenientes de escolas públicas.
O desafio de entrar na faculdade
Estimular a formação no ensino médio é o primeiro passo para aumentar o ingresso no ensino superior. Diminuir a evasão escolar e garantir um ensino público de qualidade permite que os jovens tenham a possibilidade de construir um futuro de mais oportunidades por meio de uma carreira.
Orientar o avanço nos estudos é uma medida importante que deve ser adotada pela gestão escolar. Isso porque os jovens precisam de suporte e esclarecimento sobre carreiras e caminhos para ingressar nas universidades. É importante promover ações voltadas para a orientação vocacional, como fez a EEEFM Avertano Rocha (PA), que criou uma “Feira Vocacional” para ajudar os alunos a conhecerem mais sobre as profissões. O projeto da escola aumentou o interesse e a participação dos estudantes no ENEM.
Essas ações precisam dar conhecimento aos estudantes sobre as políticas públicas de acesso à faculdade. Os caminhos mais conhecidos de entrada no faculdade são por meio do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), que dá aos estudantes a possibilidade de concorrer a vagas do SISU (Sistema de Seleção Unificada), o PROUNI (Programa Universidade Para Todos) e o FIES (Fundo de Financiamento Estudantil).
Enquanto o SISU é destinado para os que desejam ingressar nas instituições públicas – federais ou municipais -, o PROUNI e o FIES são voltados para os estudantes que desejam ingressar em instituições privadas. Há também a possibilidade de fazer os vestibulares diretos das universidades – públicas ou privadas.
Mas esses processos de seleção para ingressar no ensino superior, especialmente por meio das bolsas de estudo ofertadas pelos programas do Governo Federal, costumam gerar certa ansiedade nos estudantes. A falta de preparo para as provas, a baixa autoestima em relação ao desempenho acadêmico e até mesmo a falta de conhecimento das políticas públicas voltadas para o ingresso na faculdade afugentam os estudantes.
Apesar disso, é importante ressaltar que essas políticas públicas também são responsáveis pela diminuição das desigualdades no acesso ao ensino superior, com destaque para o ingresso de estudantes de baixa renda, pretos e pardos. De acordo com dados do INEP, os ingressantes das faixas mais pobres da população representavam 1% dos alunos em 1995, em 2016 esse número passou para 5%. O crescimento se estagnou a partir desse período e em 2019 essa parcela de brasileiros ocupava apenas 5 a cada 100 vagas na graduação.
A democratização do ensino superior tem enfrentando algumas barreiras nos últimos quatros anos. O Governo Federal aumentou o desempenho mínimo do ENEM e reduziu a oferta de vagas do FIES, de 100 mil em 2020 para 54 mil em 2021. Já em 2022 a redução no orçamento foi de 35% em relação ao ano anterior. Além disso, uma alteração na regra de acesso do PROUNI foi feita. O programa que era destinado a estudantes que concluíram o ensino médio na rede pública (ou como bolsistas na rede privada), passa a aceitar também a participação de estudantes de escolas particulares.
O desafio de se manter faculdade
Depois de enfrentar dificuldades para ingressar na graduação, os estudantes brasileiros encaram outros obstáculos para conquistar o diploma. Além das dificuldades de acompanhar os conteúdos, o que causa reprovação em disciplinas, os estudantes oriundos das escolas públicas também precisam lidar com a jornada dupla de administrar trabalho e estudo.
A evasão nas universidades está diretamente relacionada a essas questões, principalmente para os alunos em situação de vulnerabilidade socioeconômica que precisam trabalhar para pagar os estudos ou para sustentar a família.
A pandemia da Covid-19 acentuou ainda mais as desigualdades econômicas e de aprendizagem no país, o que implica diretamente na desistência dos estudantes de continuar frequentando a universidade, e antes disso, a escola. Esse cenário desafiador reforça a necessidade da criação e fortalecimento de políticas públicas que voltem a trazer crescimento nos índices de acesso ao ensino superior. Garantir ensino de qualidade para todos e também o preparo desses jovens para a graduação são pautas que precisam de atenção especial. Afinal, aumentar o acesso ao ensino superior gera resultados para toda a sociedade, por meio da capacitação profissional, geração de renda e diminuição de desigualdades.